Número de líderes negros em grupos de pesquisa mais que dobra no país
Entre 2000 e 2023, participação subiu de 8,1% para 22,6%, segundo estudo do Ipea com base em dados do CNPq
A proporção de pessoas negras na liderança de grupos de pesquisa no Brasil triplicou entre 2000 e 2023, passando de 8,1% para 22,6%, segundo análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG). O estudo, baseado no censo do Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq, mostra que quase 15 mil dos 66 mil líderes atuais se autodeclaram pretos ou pardos.
Apesar do avanço, a presença negra na ciência ainda é desproporcional à composição racial do país. Em regiões como o Norte e o Nordeste, onde a população preta e parda supera os 70%, a liderança científica negra representa apenas 44,4% e 37,7%, respectivamente. No Sudeste, essa proporção cai para 15,1%, e no Sul, para 7,8%.
A desigualdade de gênero também é evidente. Mulheres negras passaram de 3,2% para 10,4% das lideranças, com maior presença em áreas como enfermagem e saúde coletiva. Já os homens negros cresceram de 4,8% para 12,2%, com avanços em áreas como ciência da computação e engenharia nuclear. Nenhuma mulher negra lidera grupos em engenharia aeroespacial ou naval.
O estudo não aponta causas diretas para esse crescimento, mas destaca o papel de políticas públicas, como o programa Reuni, criado em 2007, que ampliou o acesso ao ensino superior e favoreceu a inclusão em regiões com maior população negra.
Ainda que os dados revelem progressos, o número de líderes negros segue distante da realidade populacional. A ciência brasileira começa a se tornar mais diversa, mas a sub-representação persiste e desafia a equidade no meio acadêmico.