Três comediantes, uma câmera ligada e nenhuma censura
No podcast MandaVê, o grupo Humor ao Cubo revela como o improviso virou negócio, entre piadas sujas, histórias absurdas e o sonho de viver de comédia
Três comediantes, um estúdio improvisado na sala de casa e uma pauta que combina sexo, relacionamentos falidos e desastres pessoais. Essa é a fórmula do Humor ao Cubo, grupo formado por Raphael de Campos, Tiago Raiz e JP, que participou do episódio da última segunda-feira (21) do podcast MandaVê, apresentado por Juan Allaesse. O trio compartilhou os bastidores do canal que tem como lema rir do erro e transformar fracassos cotidianos em conteúdo.
Criado em Goiânia, o Humor ao Cubo surgiu da união de três trajetórias distintas. Raphael, que aborda temas ligados ao sexo e ao namoro; Tiago, com um repertório centrado na vida conjugal; e JP, que encarna o solteiro azarado, converteram suas experiências em uma estrutura cômica com público definido: casados, namorando e solteiros. A construção dessa narrativa coletiva não partiu de roteiros prontos, mas da vivência comum em palcos de boteco, turnos como motoristas de aplicativo e a persistência em fazer rir mesmo quando o som falhava ou o público era inexistente.
O nome do grupo veio do improviso e da insistência. Antes de formalizarem o projeto, já haviam se cruzado em pequenos eventos e cursos de comédia em clubes locais. A ideia de transformar a amizade em grupo profissional amadureceu quando perceberam a afinidade de estilo e o potencial de somar públicos. Assim, montaram um show que brinca com o arquétipo do “coach” para tratar, com ironia, dos papéis sociais em relações amorosas: enquanto um aconselha sobre casamento, o outro ensina a sobreviver aos tropeços da solteirice.
A formalização do Humor ao Cubo passou por um processo quase acidental. A casa de JP virou estúdio, equipada com materiais básicos, adquiridos no cartão de crédito de Raphael e montados com ajuda de Tiago. No segundo furo na parede, acertaram um cano, episódio que sintetiza bem o tipo de caos que costuma virar episódio ou piada. A identidade do grupo está justamente no improviso e na disposição para transformar situações embaraçosas em anedotas.
No episódio do podcast, a linha entre a vida real e o roteiro humorístico é constantemente atravessada. Histórias como o assalto a cavalo que JP sofreu em Goianira, ou o encontro amoroso com uma senhora que alegava ter 32 anos, são tratadas como parte do material criativo do grupo.
Além do YouTube, o grupo circula entre eventos de comédia, redes sociais e participações em podcasts. A passagem pelo MandaVê funcionou como extensão do próprio conteúdo do grupo, numa conversa que fluiu entre piadas internas, lembranças de shows desastrosos e confissões escatológicas. A naturalidade com que se expõem e se contradizem é parte do que sustenta o projeto, que se ancora na sinceridade de quem fala sobre o que vive, mesmo que isso envolva histórias de cuecas sujas ou encontros sexuais frustrados.
A existência do grupo revela mais do que um novo canal de humor digital: aponta para uma tendência de produção de conteúdo baseada na intimidade descompensada, na frustração como matéria-prima e na ressignificação do fracasso como insumo cômico. Em tempos de filtros, algoritmos e roteiros polidos, o grupo aposta na espontaneidade, na escatologia e no caos cotidiano como diferenciais. O que para muitos seria motivo de vergonha, para eles é pauta, vídeo e risada garantida.
O sucesso não se mede em viralizações imediatas, mas na fidelização de um público que reconhece no trio algo raro: a capacidade de rir da própria desgraça com método, coragem e zero filtro. Na internet, onde tudo é performance, o Humor ao Cubo parece ter encontrado sua própria linguagem, sem roteiro, sem glamour, mas com muito, muito improviso.