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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
vidas comprometidas

No Brasil, 1 em cada 23 adolescentes já é mãe

Estudo revela que 69% dos municípios têm taxas de fecundidade acima do esperado e aponta exclusão social como principal causa

Luana Avelarpor Luana Avelar em 23 de julho de 2025
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Foto: Freepik

A gravidez na adolescência continua a desenhar um dos retratos mais brutais da desigualdade no Brasil. Um estudo conduzido pelo Centro Internacional de Equidade em Saúde da Universidade Federal de Pelotas revelou que uma em cada 23 adolescentes entre 15 e 19 anos se torna mãe anualmente no país. Entre 2020 e 2022, mais de 1 milhão de jovens dessa faixa etária deram à luz. O levantamento identificou ainda 49 mil gestações entre meninas de 10 a 14 anos, todas juridicamente configuradas como estupro de vulnerável.

O índice nacional de fecundidade adolescente é de 43,6 nascimentos por mil adolescentes, quase o dobro do esperado para países de renda média alta, como o próprio Brasil, e muito acima dos números registrados por Rússia, China ou Índia. O dado, no entanto, esconde uma realidade ainda mais preocupante: 69% dos municípios brasileiros apresentam taxas superiores ao aceitável para nações com renda semelhante. Um em cada cinco se equipara a países de baixa renda, segundo os parâmetros internacionais.

As diferenças regionais confirmam a desigualdade que atravessa a federação. O Norte, por exemplo, registra taxa de 77,1 nascimentos por mil adolescentes, enquanto o Sul mantém média de 35 por mil. No Sudeste, apenas 5% das cidades figuram entre os piores índices; no Norte, são 76%. O fator decisivo, de acordo com o estudo, é a privação socioeconômica. Onde há escassez de recursos, infraestrutura precária, baixa escolaridade e poucas oportunidades, há também os maiores índices de fecundidade juvenil.

A conclusão não é nova, mas os números revelam a persistência de um cenário negligenciado. A maternidade na adolescência não decorre de decisão individual, mas de um percurso interrompido pela ausência de política eficaz. Apesar dos avanços no acesso a métodos contraceptivos e programas de educação sexual oferecidos pelo SUS e por iniciativas comunitárias, a falha está em garantir que esses recursos cheguem justamente onde são mais necessários.

Diante de indicadores que aproximam parte significativa dos municípios brasileiros das piores condições globais, o país se vê diante de um problema que exige ação imediata. Não se trata apenas de números, trata-se de vidas comprometidas antes mesmo da chance de um futuro.

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