A biologia de Ozzy Osbourne intriga a ciência
Sequenciamento do DNA do cantor revelou mutações genéticas raras que podem ter protegido seu corpo dos danos causados por décadas de vício
Ozzy Osbourne, ícone do heavy metal e figura central do Black Sabbath, morreu aos 76 anos na última terça-feira (22). Seu corpo resistiu por décadas a um histórico de abusos que, em outros, teriam causado colapsos prematuros. Para a ciência, ele era mais do que um artista de excessos: era um enigma genético. Em 2010, seu DNA foi completamente sequenciado por uma empresa americana especializada em genômica humana. O objetivo era compreender como o organismo do cantor permaneceu funcional após anos de consumo extremo de álcool, cocaína, morfina e outras drogas.
A análise revelou mutações raras, entre elas uma variante do gene ADH4, responsável pelo metabolismo do álcool. Essa alteração poderia explicar por que o organismo do cantor era capaz de processar substâncias com mais eficiência do que a média da população. Além disso, os cientistas identificaram variantes ligadas à regulação da dopamina, neurotransmissor associado ao prazer e à compulsão, e mutações que afetam a produção de proteínas essenciais para a comunicação entre neurônios.
Os dados genéticos foram apresentados durante uma conferência internacional, com a presença de Osbourne e de sua esposa, Sharon. O cantor, inicialmente cético, demonstrou curiosidade ao tentar entender por que havia sobrevivido quando tantos outros músicos de sua geração sucumbiram. A resposta não veio em uma única fórmula, mas em um conjunto de alterações genéticas que sugerem uma estrutura biológica pouco comum.
O estudo também revelou traços de DNA herdados de ancestrais neandertais, o que surpreendeu e divertiu o artista. Embora os cientistas deixem claro que não existe um “gene Ozzy”, o conjunto de mutações detectadas indica uma biologia fora do padrão. Não se trata de invulnerabilidade, mas de uma tolerância incomum a níveis elevados de substâncias tóxicas.
Nos últimos anos, Osbourne enfrentava dificuldades de mobilidade e os efeitos do Parkinson, diagnosticado em 2020. Mesmo assim, sua trajetória se manteve relevante. Com mais de 100 milhões de discos vendidos, o “Príncipe das Trevas” deixou uma marca na história do rock. A ciência, por sua vez, reconhece nele um raro caso em que arte, comportamento extremo e genética se cruzam de maneira inédita.