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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Saúde

Estresse crônico e o impacto no aumento do peso corporal

O estresse compromete a qualidade do sono, dificultando o descanso ou causando interrupções frequentes durante a noite

Leticia Mariellepor Leticia Marielle em 28 de julho de 2025
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Estresse crônico e o impacto no aumento do peso corporal. | Foto: Reprodução/Istock

Uma rotina marcada por turbulências pode desencadear o estresse, uma reação natural do organismo diante de situações que exigem maior energia ou representam ameaças. Nesses momentos, o corpo libera o hormônio cortisol, que eleva os níveis de açúcar no sangue e fornece energia para enfrentar o desafio. No entanto, quando o estresse se prolonga e se torna crônico, a exposição constante ao cortisol pode causar efeitos prejudiciais, como o aumento do peso corporal.

Esse ganho está relacionado ao fato de que o cortisol estimula o apetite, especialmente por alimentos ricos em açúcar, gordura e sal. O aumento da glicose no sangue provoca sensação de fome, enquanto o hormônio também altera o metabolismo das gorduras, favorecendo o acúmulo na região abdominal.

Além disso, o estresse compromete a qualidade do sono, dificultando o descanso ou causando interrupções frequentes durante a noite. Essa privação pode elevar o apetite e reduzir o gasto energético, fatores que contribuem para o aumento de peso.

Outro ponto importante é que o estresse prolongado pode desencadear hábitos pouco saudáveis, como o consumo de alimentos com baixo valor nutricional, tabagismo, uso excessivo de álcool e sedentarismo, todos fatores que colaboram para o ganho de peso e afetam a saúde.

Um estudo realizado em 2009, liderado pelo médico norte-americano Jason Block, acompanhou durante nove anos 1.355 adultos entre 25 e 74 anos, revelando a relação entre estresse e aumento de peso. A pesquisa identificou padrões distintos entre homens e mulheres: enquanto elas tendem a engordar por conta de problemas no emprego, relações familiares, depressão, ansiedade e dificuldades financeiras, os homens ganham peso em situações relacionadas à autoridade, como sentir-se excluídos em decisões estratégicas ou incapazes de aprender novas ferramentas exigidas no mercado de trabalho.

Block destaca, porém, que o estresse influencia o ganho de peso principalmente em pessoas predispostas. Participantes com índice de massa corporal (IMC) próximo ao limite que relataram estar estressados ganharam mais peso, enquanto aqueles com IMC baixo não seguiram esse padrão.

A pesquisa também aponta que o estresse pode modificar hábitos alimentares, levando a compulsões. Indivíduos estressados costumam consumir menos vitaminas e minerais essenciais, mas ingerem maiores quantidades de gorduras saturadas, gorduras trans e carboidratos refinados.

Além dos aspectos comportamentais, alterações orgânicas desencadeadas pelo estresse contribuem para o ganho de peso. O aumento do cortisol está associado ao acúmulo de gordura abdominal, e o estresse psicológico pode desencadear uma resposta fisiológica que resulta na perda de massa magra e proliferação das células de gordura.

Ainda segundo o estudo, a pressão emocional pode provocar uma complexa interação entre o cortisol e a grelina, hormônio que aumenta o apetite, ao mesmo tempo em que reduz os níveis de leptina, substância responsável por diminuir a fome e estimular o gasto energético em repouso.

Transtorno

Entre 3% e 5% da população apresenta o Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCPA), cuja incidência é maior que a da bulimia (1%) e da anorexia (0,5%). Cerca de 30% dos indivíduos afetados desenvolvem obesidade.

Apesar da gravidade, o TCPA frequentemente passa despercebido. Segundo especialistas, muitas pessoas desconhecem o diagnóstico e, ao ganharem peso, buscam tratamentos para emagrecer sem incluir o acompanhamento psicológico necessário. Por ser uma compulsão, a simples alteração na dieta não é suficiente. Sem suporte adequado, mesmo períodos curtos de controle alimentar tendem a ser seguidos por recaídas.

A origem do TCPA não está ligada a uma única causa, mas a uma combinação de fatores. O transtorno pode ser desencadeado por diferentes estados emocionais, como tristeza, solidão, alegria ou raiva. Depressão coexistente é comum entre os pacientes. Não há um perfil rígido, mas o distúrbio geralmente acomete pessoas perfeccionistas e com baixa autoestima, sendo mais frequente em adultos entre 20 e 30 anos. A proporção é de dois homens para cada três mulheres.

Um dos principais sintomas é a ocorrência de crises compulsivas pelo menos duas vezes por semana. Em casos leves, o indivíduo pode começar com um biscoito e acabar consumindo grandes quantidades de alimentos de forma impulsiva, interrompendo apenas quando o corpo não suporta mais. Nos casos mais severos, o paciente pode apresentar episódios de apagamento de memória sobre a compulsão.

Após esses episódios, sentimentos de frustração e culpa são comuns. É frequente que o paciente coma às escondidas e evite eventos sociais, especialmente aqueles que envolvem comida. Para casos leves, evitar o excesso de trabalho e o esgotamento é essencial para o bem-estar a longo prazo, cultivando o autocontrole e adotando hábitos como exercícios, alimentação balanceada e autocuidado.

Reconhecer pensamentos estressantes ajuda a controlar a liberação de cortisol; práticas de atenção plena auxiliam a identificar e lidar com esses pensamentos, promovendo maior consciência mental e física. Manter uma alimentação adequada é fundamental, pois nutre o corpo para enfrentar o estresse. Além disso, priorizar um sono de qualidade é crucial, já que a privação do sono aumenta a ansiedade, pode levar ao consumo excessivo de alimentos e bebidas e prejudica a saúde metabólica.

Já em casos mais graves podem demandar o uso de medicamentos. Em ambos os cenários, a busca por profissionais especializados em transtornos alimentares é fundamental para o tratamento eficaz.

 

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