Quase 1 milhão de crianças ainda estão fora da escola no Brasil
Busca Ativa Escolar já reconectou mais de 300 mil estudantes ao sistema educacional, mas exclusão persiste com recorte racial
No Brasil, 993 mil crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos continuam fora da escola, mesmo com a obrigatoriedade legal de matrícula nessa faixa etária. A cifra, revelada pela PNAD Contínua de 2024, expõe o abismo educacional aprofundado por desigualdades históricas, pobreza extrema e racismo estrutural.
Desde 2017, uma resposta vem sendo articulada pela Busca Ativa Escolar (BAE), iniciativa do UNICEF e da Undime. Com apoio de tecnologia e articulação comunitária, o programa já identificou e reconectou mais de 300 mil estudantes ao sistema educacional, operando em mais de dois mil municípios. Mas os números ainda indicam uma tragédia.
Entre os fatores que afastam crianças da escola estão o trabalho infantil, a gravidez precoce e a repetência. Entre os meninos, a evasão costuma ocorrer após sucessivas reprovações ou pela pressão econômica da informalidade. Entre as meninas, sobrecarga doméstica e maternidade interrompem trajetórias escolares. No entanto, é o marcador racial que impõe a maior desigualdade: 67% dos estudantes fora da escola são pretos, pardos ou indígenas.
Pesquisas mostram que mesmo entre jovens da mesma classe social, estudantes negros enfrentam piores indicadores de aprendizagem e maiores taxas de abandono, revelando a persistência de um sistema educacional que falha em garantir equidade.
A estratégia da BAE não se resume a reverter estatísticas. Seu esforço está em garantir permanência, mobilizar redes de apoio e construir vínculos com a escola. Mas, para conter a exclusão, será preciso mais do que boas práticas. Exige-se um pacto nacional capaz de combater as raízes do abandono escolar: a desigualdade racial, a negligência histórica e a indiferença institucional.