Bianca Borges assume UNE e convoca estudantes contra tarifaço de Trump
Nova presidenta eleita com 82% dos votos lidera mobilização nacional em defesa da soberania e do financiamento estudantil
A União Nacional dos Estudantes (UNE) terá, pelos próximos dois anos, o comando da paulista Bianca Borges, de 25 anos. Estudante de Letras do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), ela foi eleita com 82,62% dos votos no 60º Congresso da entidade, realizado em Goiânia com a participação de mais de 10 mil universitários de todo o país. A vitória expressiva consagra uma frente ampla formada por juventudes do PCdoB, PT, PSOL, PSB, PDT e UP.
A posse de Bianca ocorre em meio ao agravamento da tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos. O anúncio do governo Trump de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, a partir do dia 1º de agosto, reacendeu o debate sobre soberania nacional. A UNE promete reagir com mobilizações de rua em todo o país. “Nosso projeto de reforma universitária popular não se sustenta com o país subjugado. O tarifaço atinge diretamente os trabalhadores e precisa ser denunciado”, declarou Bianca Borges.
A nova direção da UNE articula, junto a outras frentes populares, atos contra a interferência estrangeira e o alinhamento da extrema-direita nacional a interesses norte-americanos. O episódio ganhou contornos ainda mais graves após Trump condicionar a revogação do tarifaço à anistia de Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe. Para a entidade, a exigência configura chantagem internacional inaceitável.
Além da pauta externa, a UNE reforça o combate à evasão no ensino superior. Dados do Censo da Educação Superior de 2023 indicam taxas que preocupam: 53% de abandono em universidades públicas e 61% nas privadas. “A permanência de estudantes da classe trabalhadora é o maior desafio hoje. Defendemos a retirada da educação dos limites do arcabouço fiscal, que asfixia investimentos em áreas essenciais”, aponta a presidenta.
A nova liderança também simboliza a continuidade do protagonismo feminino no movimento estudantil. Bianca é a sexta mulher a presidir a UNE nos últimos 15 anos. “O acesso das mulheres à universidade é recente, mas irreversível. Queremos lideranças acolhedoras que inspirem outras a ocupar esse espaço”, afirma.
O congresso foi marcado ainda por tragédia: um acidente na BR-153 vitimou cinco pessoas, incluindo três estudantes da Universidade Federal do Pará que se dirigiam ao evento. A UNE prestou homenagem às vítimas e acompanhou o retorno dos feridos com apoio do governo federal.