Jovens recorrem ao Google para aprender tarefas básicas
Geração Z lidera buscas por instruções sobre vida doméstica e revela fragilidade na construção da autonomia
A Geração Z, composta por jovens de até 24 anos, tornou-se a principal protagonista nas buscas do Google por orientações práticas do cotidiano. De acordo com levantamento do Think with Google, divulgado em maio de 2025, essa faixa etária lidera as consultas sobre tarefas simples como usar um esfregão, trocar o óleo do carro ou fazer a manutenção da casa.
A psicóloga Amanda Torres, aponta que essa conduta revela mais do que uma simples preferência por praticidade. “Pessoas consideradas da Geração Z já nasceram inseridas no mundo da tecnologia, tendo acesso muito novas a celulares, tablets, notebooks, jogos eletrônicos, entre outras plataformas que facilitaram o contato com o mundo da internet”, explica. Essa familiaridade criou uma dependência que compromete o amadurecimento emocional.
Além da necessidade de acesso rápido à informação, essa geração é marcada pela busca por respostas perfeitas, guiada pelo medo do erro e da exposição. “Vivemos cercados de redes sociais onde pessoas se comparam o tempo todo, desvalidam vivências e experiências, onde a ansiedade não dá espaço para a espera e a vivência de processos; e o medo da autenticidade, dos julgamentos, bem como do erro, se tornam prevalentes. O que isso gera? Insegurança, medo de errar e, por consequência, a busca incessante por respostas rápidas”, afirma Amanda.
Esse padrão revela uma autonomia fragilizada, baseada no consumo digital. “Há um desejo pela autonomia instrumental, por isso há uma mobilização pela busca por informações básicas sobre atividades do dia a dia, contudo, a busca por esta autonomia estando sempre associada à internet gera uma autonomia fragilizada, demonstrando insegurança subjetiva importante e medo excessivo”, alerta a especialista.
Para além do aspecto técnico, a substituição do contato com pais e avós por tutoriais online impacta vínculos afetivos e intergeracionais. “Recorrer a familiares, professores, entre outros, para adquirir algum aprendizado não diz respeito apenas à transmissão e obtenção de informações, há também a mediação de afetos, sentimentos de pertencimento e validações. Se esses vínculos se enfraquecem, isso pode acarretar isolamento afetivo, ausência ou empobrecimento de trocas e vínculos afetivos”, explica Amanda.
A presença digital é inevitável, mas o risco está no abandono de conexões humanas fundamentais. “Reconhecendo que a mediação humana continua sendo insubstituível para o amadurecimento emocional, ganho de autonomia e segurança”, pontua.