Mulheres assumem comando dos lares
Censo mostra avanço da presença feminina nas chefias domésticas, enquanto indicadores de pobreza e insegurança alimentar seguem desiguais
Quase metade dos domicílios do país são hoje chefiados por mulheres. Os dados do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo IBGE, apontam que 49,1% das residências brasileiras têm liderança feminina, o que equivale a cerca de 35,6 milhões de lares. Em 2010, essa proporção era de 38,7%. A mudança reflete uma reconfiguração das estruturas familiares e das dinâmicas sociais, mas não dissolve as assimetrias que marcam o cotidiano de boa parte dessas mulheres.
A distribuição geográfica dos dados revela que o fenômeno é mais expressivo em estados do Nordeste. Pernambuco, Sergipe, Maranhão e Ceará ultrapassaram a marca de 52% de lares com liderança feminina. No outro extremo, Rondônia e Santa Catarina registram os menores índices. O crescimento também acompanha um aumento dos lares unipessoais, que hoje somam quase 19% do total, especialmente entre mulheres idosas.
Entre os domicílios com presença de filhos, o padrão também mudou pouco: cerca de 16,5% seguem como monoparentais liderados por mulheres, número semelhante ao de 2010. A estabilidade desse indicador expõe uma constante na realidade brasileira: a maternidade sem divisão de responsabilidades continua recaindo majoritariamente sobre as mulheres.
Embora mais mulheres estejam no comando, a renda média desses lares permanece baixa. Segundo o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher 2025, 58,6% dos domicílios sob chefia feminina sobrevivem com até um salário mínimo per capita. Quando a análise recorta o perfil racial, o abismo se aprofunda: sete em cada dez mulheres negras ou pardas chefes de família vivem em condição de vulnerabilidade econômica, contra 43,8% entre as brancas.
A insegurança alimentar atinge em cheio esses lares. Dados da Rede PENSSAN revelam que mais da metade das famílias chefiadas por mulheres enfrenta dificuldades para garantir alimentação regular e adequada. A desigualdade de gênero, atravessada por marcadores de raça e classe, continua estruturando as condições de vida das mulheres que, mesmo à frente de suas casas, seguem desassistidas.
O avanço numérico da presença feminina nas chefias domésticas é incontestável, mas permanece refém de um cenário estrutural de exclusão. Sem políticas eficazes, renda digna e acesso universal a direitos, os números seguem distantes de representar autonomia plena. O protagonismo feminino cresce, mas ainda enfrenta o peso histórico da desigualdade.