O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Futuro

Parto humanizado ganha espaço e transforma experiências de nascimento no Brasil

Segundo o Ministério da Saúde, a procura por partos humanizados aumentou 56% na última década no Brasil

Renata Ferrazpor Renata Ferraz em 6 de agosto de 2025
9 abre 1 Ana Cleia
Foto: Divulgação/Governo de Goiás-Ana Cléia

O parto humanizado, cada vez mais discutido e buscado por gestantes em todo o País, vai além de um modelo de nascimento. A prática representa um conjunto de cuidados que coloca a mulher como protagonista e respeita seu tempo, escolhas e individualidade, promovendo não só o bem-estar da mãe, mas também impactos positivos no desenvolvimento do bebê. 

Segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 25% dos partos realizados no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2023 seguiram diretrizes humanizadas, número que vem crescendo com a adesão de hospitais públicos e privados às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo especialistas, esse tipo de parto favorece vínculos afetivos mais sólidos, reduz traumas emocionais e contribui para uma experiência de nascimento mais acolhedora e segura. 

A psicóloga perinatal e doula Juliana Mendonça destaca que o parto humanizado é importante para a saúde emocional do recém-nascido. “Durante o parto, o bebê também sente. Ele passa por um processo intenso de transição, saindo do útero para o mundo. Se esse processo for acolhedor, com menos intervenções e mais respeito ao tempo do bebê e da mãe, a chance de traumas diminui consideravelmente”, explica.

No parto humanizado, o ambiente é preparado para oferecer conforto, privacidade e segurança, permitindo que a mulher se sinta à vontade e fortalecida. Isso se reflete diretamente no estado emocional do bebê. Juliana afirma que um nascimento tranquilo pode reduzir o estresse do recém-nascido, o que influencia positivamente na formação do sistema nervoso e na regulação emocional.

“Bebês que nascem em um ambiente calmo, sem luzes fortes, com contato pele a pele imediato e amamentação na primeira hora tendem a desenvolver melhor suas capacidades de vínculo, confiança e afeto”, diz.

Complementando essa visão, a pediatra Mariana Perillo, especialista em assistência ao recém-nascido na sala de parto e urgência pediátrica ressalta: “O parto humanizado, do ponto de vista pediátrico, valoriza o ritmo fisiológico do nascimento e prioriza práticas baseadas em evidências. O objetivo é garantir o bem-estar do recém-nascido desde os primeiros minutos. Isso inclui o contato pele a pele imediato com a mãe, o início precoce da amamentação e a manutenção do vínculo afetivo sem separações desnecessárias.”

Mariana destaca que estudos da Sociedade Brasileira de Pediatria apontam benefícios claros: menor incidência de intervenções neonatais, melhor estabilidade térmica e glicêmica, e maior sucesso na amamentação. Ela reforça que, mesmo com menos intervenções, a presença do pediatra é essencial para avaliar rapidamente o bebê e agir se necessário. 

Contato imediato fortalece o vínculo afetivo

Outro ponto fundamental do parto humanizado é o incentivo ao contato imediato entre mãe e bebê logo após o nascimento. Esse momento, conhecido como “hora dourada”, é essencial para o desenvolvimento de laços afetivos duradouros. Juliana explica: “O bebê reconhece o cheiro da mãe, seu calor, sua voz. Isso o acalma e traz segurança. A amamentação precoce ajuda na regulação da temperatura corporal, dos batimentos cardíacos e na colonização do intestino com bactérias benéficas.”

A pediatra Mariana Perillo complementa: “A ‘hora de ouro’ favorece a colonização da microbiota materna, estabiliza a frequência cardíaca e respiratória do recém-nascido, regula a temperatura corporal e reduz o choro. Sinais como choro vigoroso, boa coloração e respiração espontânea indicam que o bebê pode permanecer com a mãe sem necessidade de separação.” Segundo ela, a separação só deve ocorrer em casos de intercorrência clínica.

Apesar de priorizar o nascimento fisiológico, o parto humanizado não descarta o uso da tecnologia. Mariana reforça: “Sempre que há sinais de sofrimento fetal, necessidade de reanimação, apneia ou baixa pontuação no Apgar, as intervenções são realizadas com agilidade. A humanização não se opõe à medicina; ela organiza os recursos técnicos com respeito, empatia e ciência.”

Além disso, o parto humanizado costuma evitar intervenções desnecessárias, como o uso excessivo de ocitocina sintética, episiotomia ou cesarianas sem indicação médica, que podem interferir no processo natural do nascimento. 

Para a especialista, o respeito ao tempo do bebê no processo de nascimento também é essencial. Em um parto humanizado, o bebê não é retirado de forma abrupta, como pode ocorrer em procedimentos com muitas intervenções. 

Humanizar o parto é humanizar a sociedade, defende psicóloga

A psicóloga Juliana Mendonça orienta que mulheres interessadas em um parto humanizado comecem buscando informação de qualidade e profissionais alinhados com essa abordagem. Participar de rodas de conversa, grupos de gestantes, cursos de preparação para o parto e contar com o apoio de doulas são formas de fortalecer a confiança no processo e garantir que seus direitos e desejos sejam respeitados.

Ela também alerta que parto humanizado não significa, necessariamente, parto domiciliar ou sem anestesia. “Parto humanizado pode acontecer no hospital, no centro de parto normal ou em casa, desde que a mulher seja ouvida e que as decisões sobre seu corpo e seu bebê sejam compartilhadas com ela, com base em evidências científicas e no respeito à sua autonomia”, conclui.

Apesar dos inúmeros benefícios, o acesso ao parto humanizado ainda é desigual no Brasil. Muitas mulheres enfrentam barreiras como a falta de profissionais capacitados, resistência de instituições hospitalares e ausência de políticas públicas eficazes que garantam a humanização como padrão de cuidado. Juliana destaca que é necessário um esforço conjunto entre governos, gestores de saúde e sociedade civil para ampliar o acesso a esse modelo.

Para além do nascimento, o cuidado respeitoso e humanizado no parto deixa marcas importantes na memória corporal da criança e da mãe. Estudos indicam que bebês que vivenciam um nascimento com menos estresse têm menor propensão a desenvolver distúrbios emocionais e comportamentais no futuro, além de apresentarem melhores indicadores de saúde nos primeiros anos de vida.

Ela aponta que a formação continuada dos profissionais de saúde, o fortalecimento da atenção básica e a criação de centros de parto normal bem equipados são estratégias fundamentais para tornar o parto humanizado uma realidade para mais mulheres. “É um direito. Nenhuma mulher deveria ser violentada ou desrespeitada no momento mais importante da sua vida. Humanizar o parto é humanizar toda a sociedade”, finaliza a psicóloga.

Leia mais: Bruxaria, cartões e desvio: servidora é alvo de operação por fraudes no Paço

Siga o Canal do Jornal O Hoje e receba as principais notícias do dia direto no seu WhatsApp! Canal do Jornal O Hoje.
Tags:
Veja também