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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
IBGE

IBGE aponta 41 milhões de lares chefiados por mulheres e expõe resistências culturais

Comando feminino cresce no país, mas barreiras linguísticas, machismos e desigualdade na partilha de responsabilidades ainda limitam autonomia e reconhecimento

Luana Avelarpor Luana Avelar em 13 de agosto de 2025
foto horizontal de uma mulher de negocios de aparencia agradavel trabalha com papeis em casa prepara o documento relatorio preenche as informacoes senta se na frente laptop aberto na cozinha
A falta de reconhecimento por parte de parceiros e familiares afeta autoestima, saúde mental e carreira, e pode inclusive precipitar o fim de relacionamentos. Foto: Freepik

Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que 52 a cada 100 lares no país são chefiados por mulheres, o equivalente a aproximadamente 41 milhões de núcleos familiares. O dado, embora expressivo, ainda convive com um cenário marcado por barreiras simbólicas e práticas que dificultam o pleno exercício da liderança feminina no âmbito doméstico e financeiro.

Para Luciana Pavan, educadora financeira e especialista em Economia Comportamental, “existe um silêncio, quando falamos de renda e gênero. Isso é reflexo do machismo estrutural. Ainda se mantém a ideia de que o homem deve ser o provedor, e a mulher, frágil e dependente. Isso torna mais difícil aceitar que ela possa sair de casa, trabalhar e até ganhar mais que o parceiro”. Ela observa que até mesmo a linguagem carrega marcas desse imaginário. “O próprio termo ‘chefe de família’ é marcado pelo gênero masculino. Embora possamos dizer a chefe, o uso corrente reforça a imagem da liderança como algo masculino”.

A falta de reconhecimento por parte de parceiros e familiares afeta autoestima, saúde mental e carreira, e pode inclusive precipitar o fim de relacionamentos. Luciana ressalta que exercer a liderança familiar com saúde financeira e emocional significa assumir o controle do orçamento, equilibrando despesas, desejos e poupança. Em muitos casos, essa posição foi conquistada por necessidade, como sustentar filhos sozinha, e só com o tempo se transformou em equilíbrio entre finanças e bem-estar.

O quadro se agrava quando há intersecção entre gênero, renda e raça. Mulheres negras e de baixa renda, muitas vezes sem acesso à escolaridade completa, enfrentam barreiras adicionais. “Quanto menor a renda, mais difícil equilibrar necessidades e desejos da família”, afirma a especialista.

No ambiente doméstico, a desigualdade também se manifesta em micromachismos. Luciana cita práticas como a divisão desigual do trabalho de casa, a ideia de que o homem “ajuda” em vez de compartilhar responsabilidades, a interrupção da fala feminina e a cobrança por desempenhar o papel de “mãe perfeita”. Mesmo aquelas que sustentam financeiramente o lar relatam precisar de “permissão” para compras de maior valor, com gastos constantemente questionados, o que compromete a autonomia. “Mesmo quando ganham mais, muitas mulheres sentem que precisam pedir permissão para fazer grandes compras ou têm seus gastos questionados. Essa supervisão financeira reforça a perda de autonomia”.

Embora os números do IBGE sinalizem avanço, o reconhecimento real das mulheres como líderes de seus lares ainda depende de mudanças culturais que vão da linguagem ao comportamento, passando pela partilha efetiva de responsabilidades e pelo respeito à autonomia financeira.

Para as que enfrentam sobrecarga ou culpa, Luciana é enfática: “Devem identificar as origens dessa carga emocional e se afastar de quem não deseja o seu crescimento”. O caminho para romper padrões, segundo a educadora, passa pela combinação de autoconhecimento e mentoria financeira, capazes de reposicionar o papel de mulheres e homens na gestão do lar. “A mentoria ajuda a enxergar o todo, definir objetivos e entender o papel de cada um para atingi-los. Isso constrói relações mais saudáveis com o dinheiro”.

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