Cuidar da mente não é “coisa de doido”
No Brasil, estigma e falta de informação ainda afastam a população do atendimento psiquiátrico
Por muito tempo, a psiquiatria foi associada exclusivamente a quadros considerados “graves” e a estereótipos ligados à “loucura”. Mesmo com avanços na medicina e maior debate sobre saúde mental, o preconceito ainda afasta milhares de pessoas do cuidado especializado. O Dia do Psiquiatra, lembrado nesta quarta-feira (13), marca a fundação da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e funciona como um lembrete da amplitude dessa área médica, que vai muito além do tratamento de crises extremas.
A psiquiatra Silvana Ferreira, explica que o especialista é formado em medicina e capacitado para lidar com uma ampla gama de transtornos mentais e comportamentais. “Ansiedade, fobias, depressão, insônia, compulsões, burnout, dependência química, entre outras, são condições tratadas pela Psiquiatria”, afirma. Ela reforça que a ideia de que o psiquiatra atende apenas casos de “loucura” vem do estigma histórico sobre o adoecimento psíquico.
Os dados reforçam a urgência de ampliar o acesso a esse cuidado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que uma em cada oito pessoas no mundo viva com algum transtorno mental. No Brasil, o cenário é ainda mais crítico: o país lidera os índices globais de ansiedade e está entre os primeiros em depressão na América Latina. Mesmo assim, mais da metade dos brasileiros com sintomas não busca atendimento médico, um reflexo tanto do preconceito quanto da desinformação sobre o papel da especialidade.
A atuação do psiquiatra vai além do consultório. Esses profissionais estão presentes em hospitais, unidades de pronto atendimento, serviços públicos, equipes multiprofissionais, perícias médicas e centros de reabilitação, além de contribuírem para políticas públicas e diagnósticos em emergências. “O psiquiatra não é um médico do fim da linha. Ele é, muitas vezes, a primeira porta que deveria ser procurada. Em momentos de sobrecarga emocional, traumas ou crises familiares, o tratamento correto pode evitar agravamentos sérios. E o diagnóstico precoce, assim como em outras especialidades médicas, faz toda a diferença”, completa Silvana.
Apesar dessa relevância, o Brasil mantém uma das menores proporções de psiquiatras entre os países da OCDE: apenas 6,69 por 100 mil habitantes, segundo o INPD. O número fica abaixo da média latino-americana, evidenciando a necessidade de formar mais profissionais e ampliar a percepção social sobre a importância da especialidade.
Para mudar esse quadro, Silvana defende ações integradas: disseminar informações corretas sobre saúde mental, inserir o tema no currículo escolar, ampliar o atendimento especializado no SUS e investir em telemedicina para reduzir barreiras geográficas. Ela também destaca o papel das campanhas públicas e de figuras conhecidas ao falar abertamente sobre tratamento. “Quando a população entende que procurar um psiquiatra não é um sinal de fraqueza, mas de cuidado consigo, conseguimos fazer diagnósticos mais cedo e oferecer tratamentos mais eficazes, muitas vezes evitando a cronificação da doença”, finaliza.