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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
História

Lampião e Maria Bonita terão acervo reunido em memorial

Após análises na USP, crânios e objetos pessoais do casal mais famoso do cangaço integrarão espaço de preservação histórica e estudos culturais

Luana Avelarpor Luana Avelar em 14 de agosto de 2025
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Reconstrução dos crânios de Lampião (à esq.) e o de Maria Bonita (à dir.), segundo a USP. Foto: G. Ceccantini

Após três anos e meio de investigações, os fragmentos dos crânios de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita, deixaram os laboratórios da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e seguem para um novo capítulo da história do casal mais famoso do cangaço. A transferência marca o fim de uma etapa iniciada em setembro de 2021, quando as peças foram enviadas ao Departamento de Patologia para tentativas de coleta de material genético que pudessem ser comparados ao DNA de familiares, algo inviabilizado pela degradação resultante de décadas de manipulação e armazenamento em soluções como querosene e soro fisiológico.

A identidade dos crânios não é contestada. O de Maria Bonita estava em melhor estado de preservação, enquanto o de Lampião chegou fragmentado. O relatório da equipe detalha o trabalho de reconstrução, que buscou recompor o máximo possível as peças originais. O estudo insere-se na complexa narrativa do cangaço, fenômeno que, entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, dividiu opiniões: para alguns, uma luta por justiça social; para outros, banditismo marcado por violência extrema.

O grupo de Lampião foi morto em Angicos, no dia 28 de julho de 1938. Onze cangaceiros tiveram as cabeças decepadas, algumas ainda em vida, e exibidas na escadaria de uma igreja em Piranhas, Alagoas. Entre 1944 e 1969, os crânios permaneceram expostos no Museu do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, em Salvador, até serem enterrados no Cemitério Quinta dos Lázaros. Em 2002, a custódia passou às netas Expedita e Vera Ferreira, em Aracaju, onde ficaram até o envio para São Paulo.

A bisneta Gleuse afirma que a próxima etapa será a criação de um espaço dedicado à memória do casal. “Já tem o terreno, e a gente espera ‘construir o museu’ daqui a três anos. A gente está no desenvolvimento do projeto”, disse. O acervo inclui armas, um punhal, um fio de cabelo de Maria Bonita, joias e fotografias. “O Memorial do Cangaço conta com o aval e a curadoria da família Ferreira. A proposta vai além de um museu tradicional: queremos um espaço que seja também um centro de estudos sobre o fenômeno do Cangaço, um local onde documentos, objetos, comportamentos e toda a riqueza cultural e histórica desse período sejam pesquisados e preservados”.

Segundo o advogado da família, Alex Daniel, a intenção é ceder todo o acervo para o memorial. “A família tem a expectativa de ceder o acervo que está sob sua guarda, garantindo que o público possa conhecer de perto objetos pessoais, armas e outros bens que pertenceram a Lampião e a Maria Bonita”.

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