Agosto é mês de conexão com Omulu, orixá da cura e da transformação
Tradições ancestrais inspiram rituais de limpeza, proteção e fortalecimento físico e espiritual
Agosto é, no calendário das religiões de matriz africana, o período consagrado a Omolu, também chamado Obaluaiê, divindade associada à terra, à cura, às doenças e aos ciclos de transformação. Nos terreiros, o mês é marcado por rituais que combinam silêncio, concentração e símbolos ancestrais para reverenciar aquele que, segundo a tradição, detém o poder de retirar enfermidades e restaurar o equilíbrio entre corpo e espírito.
Em 16 de agosto ocorre o Olubajé, cerimônia considerada o momento mais importante das celebrações a Omolu. Nesse ritual, alimentos como pipoca, milho e mel são dispostos em oferenda, sem a presença de cânticos ou atabaques, em um ato que simboliza a passagem da dor para a cura. A pipoca, transformada pelo fogo, é um dos elementos centrais e representa a superação das adversidades, enquanto as cores preta e branca, predominantes nas vestimentas e ornamentos, reforçam a dualidade entre vida e morte, doença e saúde.
Entre os elementos rituais, destaca-se o xaxará, confeccionado com fibras vegetais e búzios, peça central no simbolismo e na condução das cerimônias. Ele é manejado como extensão do poder de Omolu, capaz de absorver energias negativas e dissipar doenças. O gesto não se limita ao campo espiritual e também reforça a importância do cuidado coletivo e da preservação de práticas que atravessam gerações.
Além do aspecto religioso, o culto a Omolu carrega forte dimensão cultural e social. Na Bahia, por exemplo, terreiros reúnem centenas de pessoas durante as festividades, em encontros que unem fé, música, gastronomia ritual e transmissão oral de saberes. Para praticantes e estudiosos, essas celebrações mantêm viva a herança africana e reafirmam a resistência das comunidades tradicionais frente à intolerância religiosa e ao esquecimento histórico. É um período que une devoção, cultura e identidade, reafirmando a força de uma tradição que, ano após ano, se renova e resiste.