O fenômeno do ego-scrolling nos apps de relacionamento
Usuários admitem comportamento de busca por validação digital, prática que afeta autoestima e esvazia conexões reais
O universo dos aplicativos de relacionamento, criado para aproximar pessoas, abriga também práticas que pouco contribuem para vínculos duradouros. Uma delas é o chamado ego-scrolling, quando o usuário desliza a tela não em busca de encontros, mas de curtidas capazes de alimentar a própria vaidade. O termo ainda é pouco conhecido: levantamento feito pelo aplicativo happn mostra que 87% dos usuários nunca tinham ouvido falar dele. Apesar disso, 51% reconhecem que já adotaram esse comportamento, consciente ou inconscientemente.
Mais da metade dos entrevistados (54%) afirma ter percebido sinais de ego-scrolling em seus contatos, e quase um terço (32%) se afastou de potenciais parceiros ao notar a prática. O movimento, aparentemente inofensivo, tem raízes em fatores como baixa autoestima, tédio, busca por recompensas imediatas e ausência de objetivos claros no uso das plataformas.
Entre diversão e frustração
O estudo mostra que 25% dos usuários se sentem mais confiantes ao receber muitas curtidas, 21% relatam melhora imediata da autoestima e 18% veem o hábito como diversão. Já 35% avaliam que o ego-scrolling prejudica a experiência nos apps, por gerar falsas expectativas. Especialistas alertam que a busca constante por validação pode tornar o uso compulsivo e afetar principalmente jovens, pessoas em luto amoroso e aquelas com ansiedade social ou dependência emocional.
Dependência de aprovação externa
O prazer gerado pelo reconhecimento momentâneo é frequentemente seguido por comparações, insegurança e dependência da aprovação alheia. Esse padrão não apenas compromete a saúde mental, mas também mina a construção de conexões, transformando os aplicativos em vitrines de autopromoção em vez de espaços de encontro.
A lógica do ego-scrolling reproduz, em escala íntima, mecanismos já identificados nas redes sociais: estímulos rápidos e constantes que condicionam o cérebro a esperar recompensas imediatas, em detrimento de experiências mais profundas e autênticas. O resultado é uma sucessão de interações voláteis, em que a validação momentânea substitui o investimento emocional.
Estratégias para interromper o ciclo
Para evitar que o hábito se torne nocivo é importante refletir sobre os objetivos pessoais no uso do aplicativo, estabelecer limites de tempo, evitar vincular o valor próprio ao número de curtidas e priorizar conexões genuínas. Fazer pausas em momentos de desgaste emocional também é apontado como recurso eficaz.
Embora o ego-scrolling revele a fragilidade de vínculos mediados por algoritmos, o fenômeno destaca uma questão mais ampla: até que ponto os aplicativos de relacionamento são ferramentas de aproximação e até que ponto se transformam em espelhos digitais? A resposta depende, em parte, de como cada usuário escolhe se relacionar com as telas.