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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Saúde

Quedas em idosos: um desafio crescente para a saúde pública

O risco de quedas entre idosos resulta de uma interação complexa entre aspectos fisiológicos, condições de saúde, uso de medicamentos

Leticia Mariellepor Leticia Marielle em 23 de agosto de 2025
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Quedas em idosos: um desafio crescente para a saúde pública. | Foto: Reprodução/Freepik

As quedas entre idosos representam hoje um dos maiores desafios da saúde pública, tanto pelo alto índice de ocorrência quanto pelas graves consequências físicas, emocionais e socioeconômicas. Segundo o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), aproximadamente 14 milhões de pessoas com 65 anos ou mais sofrem quedas anualmente nos Estados Unidos, o que corresponde a cerca de 28% dessa população. No total, são registrados cerca de 36 milhões de episódios por ano, resultando em mais de 32 mil mortes e 8 milhões de lesões que exigem atendimento médico ou afastamento das atividades diárias. No Brasil, a prevalência de quedas apontada pelo Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros, realizado em uma amostra representativa da população idosa residente em áreas urbanas, foi de 25%

Embora nem todas as quedas provoquem ferimentos graves, cerca de 20% resultam em fraturas ou traumatismos cranianos, sendo as fraturas de quadril particularmente preocupantes. Mais de 95% desses casos têm como causa direta uma queda, e a recuperação costuma ser lenta e incompleta: até 60% dos pacientes não recuperam o nível de mobilidade anterior ao acidente. Em muitos casos, a perda funcional é acompanhada por medo constante de novos episódios, o que leva à redução da atividade física, aumento da rigidez muscular e maior risco de novas quedas, um ciclo difícil de interromper.

O risco de quedas entre idosos resulta de uma interação complexa entre aspectos fisiológicos, condições de saúde, uso de medicamentos e características do ambiente. As transformações naturais do envelhecimento, como a perda progressiva da acuidade visual, a redução da percepção de profundidade e o enfraquecimento dos reflexos posturais, comprometem a capacidade de manter o equilíbrio em situações de instabilidade. A fraqueza muscular, frequentemente associada à sarcopenia, diminui a força e a velocidade de reação diante de um desequilíbrio, tornando o corpo mais suscetível a acidentes. Doenças crônicas, como osteoporose, que fragiliza a estrutura óssea, e patologias neurológicas, a exemplo da doença de Parkinson, esclerose múltipla, acidente vascular cerebral e Alzheimer, elevam consideravelmente o risco de quedas. Alterações cardiovasculares, como arritmias e variações bruscas da pressão arterial, podem provocar episódios de tontura ou perda momentânea de consciência, aumentando a probabilidade de acidentes. Condições como depressão, artrose, fragilidade do quadril e distúrbios do equilíbrio também contribuem para esse cenário.

O uso de medicamentos é outro fator crítico, especialmente quando há prescrição de múltiplos fármacos simultaneamente, prática conhecida como polifarmácia. Drogas de efeito psicoativo, sedativos e alguns medicamentos para controle da pressão ou do ritmo cardíaco podem provocar sonolência, redução dos reflexos ou alterações no estado de alerta. Problemas visuais e auditivos não tratados, disfunções urinárias que levam a levantamentos noturnos apressados e deformidades nos pés — como unhas grandes e mal cuidadas, joanetes dolorosos ou calosidades — afetam diretamente a postura e a estabilidade, favorecendo desequilíbrios.

Além dos fatores relacionados à saúde, o ambiente exerce papel determinante. Pisos escorregadios, iluminação insuficiente, tapetes soltos, móveis instáveis e objetos deixados no caminho criam obstáculos que aumentam o risco. Situações cotidianas aparentemente simples, como caminhar enquanto se conversa, atender ao telefone às pressas ou levantar-se abruptamente durante a noite para ir ao banheiro, podem se transformar em armadilhas perigosas quando somadas a limitações físicas e cognitivas. A interação entre essas variáveis faz das quedas um problema multifatorial, que exige atenção integrada para prevenção e preservação da autonomia na terceira idade.

As quedas não afetam apenas o indivíduo: representam um impacto expressivo sobre o sistema de saúde e a economia. Além do custo direto com atendimentos de urgência, internações e reabilitação, há o peso indireto do afastamento de atividades cotidianas, da dependência de cuidadores e, em casos mais graves, da institucionalização. O problema tende a crescer à medida que a população idosa aumenta, tendência observada no Brasil e no mundo.

Apesar da gravidade, muitas quedas não chegam ao conhecimento dos profissionais de saúde. Muitos idosos evitam relatar episódios por considerá-los parte natural do envelhecimento ou por medo de perder autonomia. Essa omissão atrasa a adoção de medidas preventivas e aumenta a probabilidade de reincidência. Especialistas alertam que questionar sistematicamente sobre quedas durante consultas de rotina é essencial para identificar riscos e agir antes que ocorram lesões graves.

A prevenção é multifatorial e inclui medidas clínicas, ambientais e comportamentais. Programas de exercícios supervisionados, como fisioterapia personalizada e práticas como o tai chi chuan, fortalecem a musculatura e melhoram o equilíbrio. O ajuste ou a substituição de medicamentos potencialmente perigosos, o tratamento de problemas visuais e a adaptação do ambiente doméstico, com instalação de barras de apoio, retirada de obstáculos e melhora da iluminação, são estratégias de eficácia comprovada.

O uso de tecnologias assistivas também ganha espaço. Dispositivos de alerta vestíveis, sensores de movimento e sistemas de monitoramento por voz ou inteligência artificial podem detectar quedas e acionar rapidamente ajuda, reduzindo o tempo em que o idoso permanece no chão, fator crítico para evitar complicações como desidratação, hipotermia e lesões por pressão.

No entanto, especialistas reforçam que nenhuma medida isolada é suficiente. A combinação de acompanhamento médico regular, atividades físicas adaptadas, ajustes no lar e suporte emocional é a abordagem mais eficaz para preservar a autonomia e reduzir o risco de quedas.

Mais do que um evento acidental, a queda em idosos é um marcador de fragilidade e um alerta para intervenções preventivas. Em um cenário de envelhecimento populacional acelerado, o enfrentamento desse problema exige políticas públicas integradas, conscientização social e envolvimento ativo de familiares, cuidadores e profissionais de saúde. Só assim será possível transformar um quadro de risco crescente em uma oportunidade para promover envelhecimento saudável e seguro.

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