Estudo aponta ligação genética da gagueira e descarta causas emocionais
Os resultados reforçam a hipótese de que a gagueira pode estar relacionada a alterações no processamento temporal do cérebro
Uma pesquisa genética recente traz evidências robustas de que a gagueira está fortemente ligada a fatores genéticos, e não a questões emocionais ou comportamentais. A condição, que afeta a fluência da fala, pode interferir significativamente na vida cotidiana de quem a apresenta. O estudo, publicado na revista Nature Genetics, analisou dados de mais de um milhão de indivíduos cadastrados na plataforma 23andMe.
Trata-se da maior investigação já realizada sobre o tema, envolvendo cerca de 100 mil voluntários que relataram já ter gagueira, comparados a mais de um milhão de participantes sem histórico do distúrbio. A análise revelou 57 regiões do DNA associadas ao risco de desenvolver a condição, distribuídas em 48 genes distintos.
Entre os achados, o gene VRK2 se destacou, já relacionado a doenças como esquizofrenia e esclerose múltipla. Pesquisas anteriores também apontam sua ligação à perda de linguagem em casos de Alzheimer e a funções de ritmo motor, como manter compasso em atividades musicais. Diversos outros genes identificados têm associação com condições neurológicas e comportamentais, incluindo autismo, TDAH e depressão.
Os resultados reforçam a hipótese de que a gagueira pode estar relacionada a alterações no processamento temporal do cérebro, afetando a percepção e organização do ritmo. Dos genes identificados, mais de 20 estão ligados a transtornos do neurodesenvolvimento, corroborando que a condição é influenciada por fatores genéticos, e não por falhas pessoais, familiares ou intelectuais.
O estudo também apontou diferenças de expressão dos fatores de risco entre homens e mulheres. Na vida adulta, a gagueira é cerca de quatro vezes mais comum entre os homens. Os pesquisadores sugerem duas possibilidades: a maior proporção de mulheres sem gagueira na amostra pode ter dificultado a criação de um modelo genético mais preciso, ou pode indicar diferenças biológicas reais entre os sexos quanto à origem genética da condição.