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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Saúde

Hidradenite supurativa: doença crônica e negligenciada compromete a qualidade de vida

Aproximadamente metade dos indivíduos com HS sofre de algum grau de depressão

Leticia Mariellepor Leticia Marielle em 29 de agosto de 2025
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Hidradenite supurativa: doença crônica e negligenciada compromete a qualidade de vida. | Foto: Reprodução/Freepik

A hidradenite supurativa (HS) é uma doença inflamatória crônica e recorrente que afeta os folículos pilosos e glândulas apócrinas, principalmente em áreas como axilas, virilha, região submamária e perianal. Caracteriza-se pela formação de nódulos dolorosos, abscessos, fístulas e cicatrizes, que comprometem de forma significativa a qualidade de vida dos pacientes. Apesar de ser reconhecida pela medicina há mais de 150 anos, a condição ainda é subdiagnosticada e frequentemente negligenciada, tanto por profissionais de saúde quanto pela sociedade.

De acordo com o Ministério da Saúde, a HS atinge cerca de 0,41% da população brasileira, enquanto estimativas internacionais apontam prevalência em torno de 1% no mundo. Os números revelam não apenas a dimensão do problema, mas também os desafios enfrentados pelos pacientes, que incluem dor persistente, estigmatização social e limitações físicas que afetam a rotina diária.

Embora suas causas exatas não estejam totalmente esclarecidas, a literatura médica sugere que a doença decorre de uma interação entre fatores genéticos, imunológicos, hormonais e ambientais. Por ser classificada como uma condição autoinflamatória, a HS envolve uma resposta exagerada do sistema imunológico, que gera inflamação nas regiões afetadas. O processo fisiopatológico envolve alterações nos folículos pilosos, levando à obstrução e formação de comedões e microcistos. Esses detritos criam um ambiente propício à proliferação bacteriana, resultando em infecções recorrentes e inflamação contínua.

As consequências vão além das lesões cutâneas. Estudos apontam altos índices de depressão, ansiedade e isolamento social entre os pacientes, agravados pelo odor desagradável e pela drenagem das lesões. Aproximadamente metade dos indivíduos com HS sofre de algum grau de depressão, e cerca de 30% apresentam transtornos de ansiedade. O impacto psicológico reflete diretamente na adesão ao tratamento, já que muitos pacientes se sentem desmotivados diante da natureza crônica e dolorosa da enfermidade.

Do ponto de vista socioeconômico, a hidradenite supurativa também impõe um peso considerável. A dor, a limitação física e a necessidade de cuidados constantes podem levar ao absenteísmo, queda de produtividade e, em casos mais graves, afastamento definitivo das atividades laborais. Além disso, os custos do tratamento são elevados, sobretudo quando há necessidade de medicamentos biológicos ou intervenções cirúrgicas, inacessíveis a boa parte da população.

Um dos principais desafios está no diagnóstico, que costuma atrasar de sete a dez anos devido à falta de conhecimento sobre a doença. Muitas vezes, os sintomas são confundidos com infecções de pele comuns, retardando o início do tratamento adequado. Esse atraso contribui para a progressão da HS, com agravamento das lesões e maior comprometimento da qualidade de vida.

Hidradenite supurativa desafia tratamento

O tratamento da hidradenite supurativa representa um desafio constante devido à sua natureza recorrente e às diferentes formas de manifestação clínica. Para obter resultados mais eficazes, especialistas destacam a necessidade de combinar terapias medicamentosas com cuidados pessoais, sempre buscando estratégias que sejam acessíveis e capazes de melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Entre as opções disponíveis, antibióticos orais costumam ser utilizados como primeira linha em casos leves a moderados, ajudando a controlar a inflamação e prevenir infecções secundárias. Apesar da eficácia em muitos quadros, o uso prolongado pode trazer efeitos colaterais, como problemas gastrointestinais, o que dificulta a adesão de parte dos pacientes.

Nos casos mais graves, medicamentos imunossupressores como o adalimumabe, aprovado especificamente para a hidradenite supurativa, têm se mostrado eficazes na redução das inflamações e abscessos. Entretanto, o alto custo limita o acesso de grande parcela da população, evidenciando a urgência de alternativas terapêuticas mais viáveis economicamente.

A cirurgia também se apresenta como alternativa para pacientes que não respondem aos tratamentos convencionais. A remoção de áreas afetadas pode proporcionar alívio duradouro e diminuir as recorrências, embora a eficácia do procedimento dependa da gravidade da doença e da experiência do cirurgião. Em muitos casos, a combinação entre intervenção cirúrgica e acompanhamento farmacológico é considerada a estratégia mais completa.

Além das terapias médicas, mudanças no estilo de vida têm papel importante no controle da doença. Medidas como redução de peso, abandono do tabagismo e uso de roupas leves podem aliviar os sintomas e diminuir a frequência dos surtos, representando opções acessíveis e eficazes para os pacientes.

Outro ponto de atenção está no monitoramento clínico. Exames laboratoriais que avaliam marcadores inflamatórios, como proteína C-reativa e amiloide sérico A, ajudam a acompanhar a evolução da doença e a identificar precocemente possíveis agravamentos.

O aspecto psicológico também exige cuidado especial. A alta prevalência de depressão, ansiedade e isolamento social entre os portadores da hidradenite supurativa reforça a importância de incluir acompanhamento psicológico no tratamento. Terapias cognitivas, grupos de apoio e suporte emocional têm se mostrado fundamentais para melhorar a adesão ao tratamento médico e, sobretudo, a qualidade de vida dos pacientes.

Apesar dos avanços, a hidradenite supurativa permanece um desafio de saúde pública. A falta de informação, tanto entre profissionais quanto na população em geral, contribui para o estigma e para o atraso no diagnóstico. Investir em conscientização, treinamento de profissionais e ampliação do acesso a terapias inovadoras é fundamental para mudar a realidade dos pacientes.

Enquanto não há cura definitiva, especialistas reforçam que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem reduzir significativamente a progressão da doença, controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida das pessoas afetadas.

 

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