Juventude em risco e violência que adoece
Aumento do suicídio entre adolescentes e maior vulnerabilidade de mulheres em situação de violência doméstica expõem falhas na política de saúde mental do país
O Brasil registra em média 14 mil suicídios por ano, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM). São 38 mortes por dia. Entre jovens de 15 a 29 anos, já é a terceira causa de morte, de acordo com o Ministério da Saúde.
Entre adolescentes, o cenário é mais grave. O Atlas da Violência, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), mostra que entre 2016 e 2021 a taxa subiu 49,3% entre jovens de 15 a 19 anos e 45% entre os de 10 a 14. A Sociedade Brasileira de Pediatria estima cerca de mil mortes anuais entre crianças e adolescentes de 10 a 19 anos.
No caso das mulheres, a violência doméstica amplia riscos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que vítimas desse contexto têm mortalidade até oito vezes maior que a média. O FBSP indica que 35% das brasileiras já sofreram violência física ou sexual. O ciclo de agressões, tensão, explosão e reconciliação aparente, corrói autoestima e expectativa de futuro.
“Em contextos de violência, a percepção de que não há saída é tão forte que a própria vida se torna sinônimo de dor. O que essas mulheres querem é parar de sofrer e não acabar com a vida. Mas, não vendo outra solução para resolver o problema, morrer parece ser a única forma de parar de sofrer”, afirma a psicóloga clínica Luanna Debs. “Quebrar o silêncio é o primeiro passo para encontrar um novo sentido – e pedir ajuda não é fraqueza, é resistência”.
As alternativas de acolhimento existem, mas não acompanham a demanda. O Centro de Valorização da Vida (CVV) atende 24 horas por dia no 188 e em canais digitais, com mais de 3 mil voluntários e 3 milhões de atendimentos anuais. No Sistema Único de Saúde, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e o IdeiaSUS oferecem apoio comunitário, mas a cobertura é desigual.
A persistência dos números mostra que o país não consolidou uma política contínua de prevenção. Especialistas alertam que campanhas isoladas não bastam: integrar saúde, educação e proteção social é necessário para reduzir mortes evitáveis.