Dia Mundial da Alfabetização: como despertar o prazer da leitura nas crianças
Especialistas destacam a importância do incentivo desde cedo e o papel da família
Nesta segunda-feira é celebrado o Dia Mundial da Alfabetização, criado em 1967 pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) para chamar a atenção aos índices de analfabetismo no mundo. A data ganhou força ao longo das décadas e ainda hoje chama a sociedade a refletir sobre o papel da leitura e da escrita na vida das pessoas.
No Brasil, embora tenhamos registrado avanços consideráveis nos últimos 10 anos, a taxa de analfabetismo segue em 5,3%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2024. Isso significa que mais de 9 milhões de brasileiros ainda não sabem ler ou escrever. Nesse cenário, a alfabetização continua sendo um dos maiores desafios do país, especialmente quando se trata de garantir que as crianças desenvolvam habilidades de leitura já na primeira infância.
Para especialistas, o contato com os livros desde cedo é um dos caminhos mais eficazes para despertar o gosto pela leitura e consolidar o processo de aprendizagem.
Alfabetização na infância
De acordo com orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o ensino da leitura e da escrita deve ocorrer até o 2º ano do Ensino Fundamental. É nessa fase que os alunos têm o primeiro contato formal com o universo das letras, geralmente associado a atividades lúdicas e ao contato inicial com a literatura.
Segundo a psicopedagoga Giovana Coimbra, a alfabetização vai muito além da decodificação das palavras. “Não basta apenas reconhecer letras e juntar sílabas. Ler é compreender, é dar sentido ao texto e relacionar a leitura com a vida cotidiana. Quanto mais cedo a criança percebe o prazer que a leitura pode proporcionar, maiores são as chances de ela se tornar uma leitora autônoma e crítica”, explica.
A especialista destaca que a alfabetização não se limita à escola. “O processo de letramento se fortalece quando a criança encontra livros em casa, observa os pais lendo e percebe que a leitura é um hábito valorizado dentro da família”, completa.
O papel da família
A rotina de leitura em casa pode fazer toda a diferença no desenvolvimento infantil. A administradora Mariana Silva, mãe de Beatriz, de 9 anos, conta que sempre incluiu os livros na vida da filha. “Desde bebê, eu lia histórias para a Bia antes de dormir. No começo eram livros com muitas figuras e pouco texto. Com o tempo, ela começou a pedir leituras mais longas. Hoje, ela mesma lê sozinha e sempre me pede para irmos à livraria ou à biblioteca da escola”, relata.
Para Mariana, o hábito fortaleceu não só a alfabetização, mas também a relação entre mãe e filha. “Ler juntas era nosso momento de conexão. Acho que, além de aprender a ler, ela entendeu que os livros podem ser fonte de afeto, imaginação e companhia”, destaca.
Esse tipo de exemplo confirma o que especialistas defendem: crianças que crescem em ambientes onde a leitura é valorizada têm mais facilidade para se alfabetizar e tendem a desenvolver um vocabulário mais amplo, além de habilidades de interpretação mais consistentes.
Benefícios da leitura
Os efeitos da leitura vão muito além do domínio da escrita. Estudos apontam que crianças leitoras apresentam melhor desempenho escolar em diversas disciplinas, desenvolvem mais criatividade, empatia e capacidade de concentração.
A psicopedagoga Giovana reforça: “Quando a criança mergulha em uma história, ela amplia seu repertório cultural, aprende a lidar com emoções e desenvolve habilidades cognitivas essenciais. A leitura fortalece a memória, melhora a escrita e ainda estimula a curiosidade intelectual”.
Além dos benefícios intelectuais, a prática da leitura também contribui para a saúde mental. “Crianças que leem têm mais recursos para expressar sentimentos e enfrentar situações desafiadoras, porque aprendem a se colocar no lugar do outro e a lidar com diferentes perspectivas”, acrescenta a especialista.
Escola e literatura: parceria essencial
O ambiente escolar é um dos principais pontos de apoio no processo de alfabetização. Professores, por meio de projetos de leitura e atividades de contação de histórias, ajudam a transformar o aprendizado em uma experiência prazerosa.
Segundo Giovana, é fundamental que a escola adote metodologias diversificadas. “Não basta apenas usar cartilhas tradicionais. As crianças precisam ter contato com livros ilustrados, gibis, poemas, músicas e diferentes gêneros textuais. Quanto mais variado for esse contato, maior será a motivação para ler”, explica.
Ela também ressalta a importância de integrar a leitura ao cotidiano da sala de aula. “Uma criança que lê um livro de ciências ou uma receita de culinária, por exemplo, percebe que a leitura não está restrita às aulas de português, mas que faz parte de todas as áreas do conhecimento”, completa.
Dicas para estimular o gosto pela leitura
Pais e professores desempenham papéis complementares no incentivo à leitura. Especialistas sugerem algumas práticas simples que podem ser adotadas no dia a dia:
- Crie uma rotina de leitura: reservar um horário diário para ler com a criança ajuda a estabelecer o hábito.
- Ofereça variedade de livros: gibis, contos, poesia e até manuais podem despertar diferentes interesses.
- Dê o exemplo: crianças tendem a imitar os adultos; quando veem os pais lendo, passam a valorizar a prática.
- Visite bibliotecas e livrarias: apresentar novos espaços e permitir que a criança escolha o que deseja ler aumenta a autonomia.
- Associe a leitura a momentos de prazer: histórias antes de dormir ou leituras compartilhadas em família reforçam o vínculo emocional.
Desafios e perspectivas
Embora o país tenha reduzido o analfabetismo nas últimas décadas, ainda há desafios significativos. As desigualdades regionais, a falta de acesso a livros e a baixa formação de professores em algumas localidades impactam diretamente no processo de alfabetização.
Giovana defende que políticas públicas consistentes são essenciais. “Não podemos deixar que a alfabetização dependa apenas do esforço individual das famílias e das escolas. É preciso investimento em bibliotecas, capacitação de professores e acesso democrático à literatura. Só assim conseguiremos reduzir as desigualdades e formar uma geração de leitores mais preparados”, afirma.
O Dia Mundial da Alfabetização, portanto, vai além de uma simples data no calendário. Ele funciona como um convite à reflexão sobre a importância da leitura como ferramenta de inclusão social, transformação e cidadania.
Leitura como herança
Histórias como a de Beatriz e Mariana mostram que a leitura pode se tornar um hábito prazeroso e duradouro quando incentivada desde cedo. Mais do que aprender a decodificar palavras, as crianças descobrem novos mundos, ampliam horizontes e encontram caminhos para se expressar.
Para a psicopedagoga Giovana, o legado da alfabetização bem-sucedida é a autonomia. “Quando uma criança aprende a ler e encontra prazer nisso, ela se torna capaz de buscar conhecimento sozinha, de questionar, de sonhar e de se posicionar no mundo. A leitura é um presente que acompanha para a vida toda”, conclui.