Córnea e rim lideram filas de transplante em Goiás
Controle de doenças como diabetes e hipertensão reduzem os riscos de chegar à fila de transplantes, alertam médicos durante o Setembro Verde
Até agosto de 2025, mais de 2,4 mil pessoas aguardavam por um transplante em Goiás, segundo dados da Central Estadual de Transplantes. A maior parte está na fila por córneas (1.731 pacientes) e rins (685 pacientes), que também lideram as listas de espera em nível nacional, com 31.792 e 39.363 pacientes, respectivamente.
O cenário evidencia a importância da conscientização em torno da doação de órgãos e tecidos, mas também da prevenção. Para especialistas, boa parte dos problemas que levam ao transplante de córnea e rim pode ser evitada com diagnóstico precoce, hábitos de vida saudáveis e acompanhamento médico regular.
Córnea: doenças que comprometem a visão
O oftalmologista cooperado da Unimed Goiânia, Dr. Francisco Weliton Rodrigues, explica que o transplante de córnea é indicado quando a transparência ou a estrutura do tecido são comprometidas. Entre as principais causas estão ceratocone, distrofias corneanas, cicatrizes decorrentes de infecções, traumas ou cirurgias, além de falência de transplante prévio.
“É um procedimento seguro, mas tecnicamente exigente, que pode durar até duas horas. Após a cirurgia, o paciente precisa seguir cuidados rigorosos com uso de colírios, proteção ocular e consultas frequentes para reduzir riscos de rejeição”, detalha o oftalmologista.
Dr. Francisco reforça ainda que medidas simples podem reduzir a necessidade do transplante no futuro. “Proteger os olhos da radiação ultravioleta, evitar coçar os olhos, manter higiene ocular, controlar doenças como diabetes e hipertensão, além de procurar atendimento imediato em casos de infecções são ações preventivas essenciais.”
Transplante renal: hipertensão e diabetes estão entre as principais causas
No caso dos rins, a nefrologista cooperada da Unimed Goiânia, Dra. Myllena Vieira, aponta que a hipertensão arterial e o diabetes são os fatores que mais levam à doença renal crônica no mundo. “Quando ocorre a falência renal, o paciente precisa da substituição da função, seja por diálise ou transplante. É importante frisar que o transplante é uma modalidade terapêutica, e não a cura da doença”, explica.
A médica ressalta que o processo envolve uma avaliação minuciosa de compatibilidade e acompanhamento rigoroso após a cirurgia. “Após o transplante, o paciente deve manter o uso de imunossupressores e seguir acompanhamento médico frequente. Sintomas como febre, inchaço, dor no local do enxerto ou diminuição da urina devem ser observados imediatamente, pois podem indicar rejeição”, alerta.
De acordo com a especialista, hábitos saudáveis são decisivos para evitar que a doença renal evolua. “Evitar tabagismo e alcoolismo, praticar atividade física regular, manter dieta balanceada e aderir ao tratamento das doenças de base fazem toda a diferença.”
Doação de órgãos ainda enfrenta desafios
Em 2024, Goiás registrou 114 doadores efetivos, com 1.168 órgãos e tecidos captados e 890 transplantes realizados. Apesar dos avanços, a taxa de recusa familiar segue alta: 67,9% no estado e 46% na média nacional.
“O diálogo com a família é essencial. Quando a pessoa manifesta em vida o desejo de doar, a decisão da família tende a ser mais favorável. Falar sobre doação é um ato de solidariedade que pode mudar o destino de quem espera na fila”, destaca a nefrologista.
A médica lembra que campanhas como o Setembro Verde, iniciativa nacional voltada à conscientização sobre a doação de órgãos e tecidos, reforçam a importância de falar sobre o tema e incentivar a decisão de doação em vida. “Quanto mais informações e diálogo entre familiares, maior a chance de salvar vidas e reduzir o tempo de espera de quem depende de um transplante”, finaliza.