“Nossa relação com a moda é ancestral”: Festival Diaspóricas valoriza criação autoral
Feira de afroempreendedoras no Martim Cererê reforçou protagonismo de mulheres negras no mercado da moda
O Centro Cultural Martim Cererê recebeu no último fim de semana o 1º Festival Diaspóricas de Cinema e Música Negra. Entre a música, o cinema e os painéis, a Feira Anadir Cezario de Afro-empreendedoras apresentou ao público a força da moda criada por mulheres negras no Centro-Oeste. No meio das araras de tecidos coloridos, estava a Oyewá, marca fundada por Suzanny Newbartth Silva de Araújo.
“A primeira vez que ouvi falar da websérie diaspórica eu já tinha ficado encantada. É um projeto lindo, do tipo que a cidade e a cultura precisam. A feira em si é uma grande oportunidade de juntar a cultura local com o comércio e colocar holofotes nas produtoras que já estão fazendo esse trabalho, mas que geralmente não têm tantos espaços”, afirma Suzanny.
O público que circulou pela feira mostrou que existe demanda reprimida. Gente interessada não só na estética, mas também em valorizar o trabalho autoral. Suzanny percebeu essa mudança. “Me marcou muito ver o crescimento do público interessado na cultura negra e disposto a incentivar o comércio e a moda local. Ainda assim, é um ato de resistência. Como na vida, precisamos nos afirmar e lutar todos os dias”.
E as roupas ganharam novo sentido quando saíram do estande e chegaram ao palco. “Quando artistas locais como Nina Soldeira, Flávia Carolina, Maximira, Keside Sheila, Daphine Santos, Lourrainy e Isis Krishna topam usar a marca, isso traz um peso enorme e uma visibilidade ainda mais especial, por conta do reconhecimento que elas já têm como artistas. Fica um sentimento imenso de gratidão por acreditarem na potência da marca. Sinto que é uma parceria: a gente caminha junto, de mãos dadas umas com as outras”.
A Oyewá dividiu espaço com marcas já consolidadas, como Njinga Moda Afro e Nina Koxta Moda Afro, que pavimentaram o caminho para as mais jovens. “A relação do nosso povo com a moda é ancestral. Temos uma ligação muito especial com o vestir. E quando falamos de marcas de moda daqui, como Njinga Moda Afro e Nina Koxta Moda Afro, vemos que existe mais espaço e notoriedade para produções autorais. Com a Oyewá, sendo a caçula das marcas autorais que estavam lá, percebo que essas marcas abriram caminho e prepararam o terreno para que novas marcas possam surgir e resistir. Incentivos como feiras, apresentações e espaços específicos são uma grande oportunidade para que a gente prevaleça, porque o mercado não é nada fácil. Estamos o tempo todo competindo com marcas que querem colonizar nosso vestir e explorar nossa mão de obra”.
Ao reunir moda, música e cinema, o Festival Diaspóricas consolidou em Goiânia um espaço de encontro e visibilidade para mulheres negras. Mostrou que sua produção não precisa de concessões ou explicações: ela existe, resiste e abre novos caminhos. O Martim Cererê foi atravessado por histórias, cores e vozes que historicamente ficaram à margem — dessa vez não como exceção, e sim como protagonistas.