Estudantes goianas criam relógio inclusivo para autistas e vencem mostra científica nacional
Protótipo do Sentipulso, smartwatch feito a partir de sucata eletrônica, garantiu primeiro lugar na categoria Engenharias e credencial para feira internacional em 2026
Duas estudantes de 15 anos, alunas do projeto Profissionaliza Goiás, parceria do Senac com a Secretaria Estadual de Educação, conquistaram o primeiro lugar na IX Mostra de Ciência, Inovação, Tecnologia, Empreendedorismo e Cultura (Moscitec), realizada em setembro, em Porto Alegre. Sob orientação da instrutora Késia de Souza Cruz e do professor Túlio Vadeley Araújo Silva, elas desenvolveram o protótipo do Sentipulso, um smartwatch voltado a estudantes neurodivergentes, especialmente autistas não verbais.
O dispositivo nasceu durante as aulas do curso Técnico em Marketing do Senac, no Cepi Dr. Mauá Cavalcante Sávio, em Anápolis. A proposta foi unir tecnologia, sustentabilidade e inclusão escolar. O relógio monitora sinais fisiológicos, como batimentos cardíacos, e emite alertas para indicar momentos de ansiedade ou estresse. “É importante esclarecer que ainda não temos o smartwatch pronto. O que desenvolvemos foi a fase 1 do projeto: a criação do protótipo”, destaca Késia.
Na primeira etapa, a equipe utilizou metodologias de inovação como o Lean Canvas e o Crazy Eight. O protótipo foi montado com a carcaça de um relógio digital, o painel solar de uma calculadora e o vibra-call de um celular antigo, tendo como base o Arduino Uno R3. “O maior desafio foi justamente transformar sucata eletrônica em tecnologia inclusiva. Isso mostrou aos estudantes que, mesmo em uma escola periférica, é possível inovar e construir soluções que impactam a vida real”, pontua Túlio.
Os testes foram realizados na escola com alunos atípicos, professores e familiares, que sugeriram melhorias e motivaram a inclusão futura de um aplicativo de monitoramento remoto. “Acreditamos que o SentiPulso pode oferecer uma forma de comunicação acessível e acolhedora, ajudando estudantes não verbais a expressarem suas emoções e necessidades, além de apoiar mães e educadores na rotina. E evitar evasão escolar entre essas pessoas que precisam da nossa atenção”, afirma Ana Gabrielly.
A participação na feira foi online, já que os estudantes não puderam viajar ao Rio Grande do Sul por falta de recursos. A organização imprimiu o banner do projeto e exibiu o vídeo enviado pela equipe. A conquista teve sabor especial depois de duas participações sem vitória. “Foi um sentimento de alegria e surpresa muito grande. Me senti orgulhosa da nossa equipe e motivada, porque mesmo depois de duas derrotas que tivemos, conseguimos conquistar essa vitória, e ainda em 1º lugar”, celebra Ana Gabrielly.
Anna Beatriz compartilha da mesma emoção: “Foi uma surpresa enorme, pois já tínhamos tido duas derrotas. Fiquei muito feliz e com uma sensação de orgulho da nossa equipe e valeu muito a pena ter começado o projeto”.
A vitória também transformou a percepção das alunas sobre si mesmas. “Eu percebi que sou capaz de muito mais do que imaginava. Essa conquista me mostrou que acreditar nas minhas ideias e trabalhar em grupo pode levar a resultados grandes e reais”, reflete Ana Gabrielly. Anna Beatriz completa: “Eu não acreditava muito em mim mesma, mas depois dessas competições vi que sou capaz de pensar, criar e realizar projetos relevantes. Essa conquista aumentou minha confiança”.
Agora, a equipe trabalha na fase 2, que consiste na construção física do relógio, com sensores, mecânica e programação embarcada. Para Késia, a conquista reflete o impacto da educação técnica quando associada à inovação. “Essa vitória foi um marco para todos nós. Mostrou aos alunos que barreiras podem ser superadas com inovação e dedicação. Para eles, foi uma lição de perseverança e reconhecimento do talento. Para nós, professores, foi a confirmação de que a educação abre portas, transforma histórias e cria oportunidades que muitas vezes pareciam distantes”.