O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Despesa das famílias com juros cresce 9% e atinge pouco mais de R$ 215 bi

Lauro Veiga Filhopor Lauro Veiga Filho em 1 de outubro de 2025
getimagecontent

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) há duas semanas de
manter a taxa básica de juros em 15% ao ano deverá impor novos custos às
empresas e às famílias, afetando negativamente as decisões de investimento
e de consumo na economia – objetivo único de um política de arrocho,
como raras leitoras e raros leitores desta coluna poderiam concordar. Se
este é o propósito, pode-se dizer então que aquela política tem dado
resultados, afinal, quando maior a carga dos juros, maiores são as despesas
de empresas e das pessoas físicas endividadas, o que acaba por deprimir a
demanda em geral, já que sobram menos receitas e menos renda para
investimentos e para o consumo.
Os recursos “desviados” pelas famílias apenas para fazer frente a juros e
amortizações das dívidas bancárias contratadas ao longo dos últimos meses
experimentaram um crescimento real de 9,25% na comparação entre o
trimestre encerrado em julho do ano passado e o mesmo trimestre móvel
deste ano. Numa estimativa construída a partir das estatísticas do Banco
Central (BC) sobre o mercado brasileiro de crédito, o gasto das famílias
com juros avançou de R$ 196,813 bilhões para R$ 215,022 bilhões em
valores reais, quer dizer, depois de descontada a inflação, e também
ajustados sazonalmente, desconsiderando os efeitos de eventos e fatores
que sempre ocorrem em igual período todos os anos.
De acordo com os dados do BC, o percentual da renda trimestral das
famílias comprometida com o pagamento do serviço da dívida (juros mais
suas prestações) variou de 26,9% no trimestre entre maio e julho do ano
passado para 27,9% em idêntico período deste ano. No mesmo intervalo, a
renda nacional bruta disponível das famílias, a valores de julho deste ano e
descontados fatores sazonais, avançou de R$ 731,645 bilhões para R$
770,688 bilhões, variando 5,34%.
Metade do ganho
Em outra comparação possível, aquelas estatísticas mostram que quase
metade da renda extra acumulada pelas famílias foi destinada ao
pagamento de juros e amortizações. A matemática sugere, por exemplo,
que a renda nacional bruta, que soma todos os rendimentos das famílias,
incluindo salários, aluguéis, aposentadorias, pensões e benefícios como a
renda mensal vitalícia e Bolsa Família, entre outros, descontados de

impostos e contribuições à Previdência, registrou incremento
correspondente a R$ 39,043 bilhões entre julho do ano passado e julho
deste ano – sempre tomando períodos de três meses. Em intervalo idêntico,
as despesas com juros sofreram aumento equivalente a R$ 18,209 bilhões.
Vale dizer, em torno de 46,64% de toda a “renda nova” que veio para
reforçar o orçamento das famílias tivera que ser “desviados” para pagar
juros e amortizações, correspondendo a uma fatia equivalente de frustração
das intenções de consumo e investimento das pessoas físicas.
Balanço
 O percentual da renda das famílias consumido pelos juros e
amortizações das dívidas bancárias contratadas pelas famílias ficou
ligeiramente abaixo dos 28,0% alcançados em junho (considerando o
trimestre móvel encerrado naquele mês) e apenas meio ponto
percentual inferior ao recorde da série histórica do BC, alcançado em
maio de 2023. Naquele mês, 28,4% da renda familiar estiveram
comprometidos com o pagamento do serviço de dívidas.
 Considerando todo o sistema financeiro, incluindo os segmentos de
crédito livre e direcionado, o saldo do crédito bancário das pessoas
físicas experimentou variação nominal de 11,63% entre julho de
2024 e o mesmo mês deste ano, correspondendo a um crescimento
real de 6,08% depois de descontado o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) de 5,23% acumulado nos 12 meses entre
agosto do ano passado e julho deste ano. Sempre em valores
nominais, aquele saldo passou de R$ 3,744 trilhões para pouco
menos de R$ 4,180 trilhões.
 As concessões de novos empréstimos e financiamentos pelos bancos
têm sofrido baixa no curto prazo, levando a uma desaceleração no
ritmo de crescimento do crédito numa comparação interanual, com
alta ainda da inadimplência e dos juros cobrados pelo sistema
financeiro (embora tenha ocorrido flutuação para baixo nos meses
mais recentes, especialmente nas operações realizadas com pessoas
físicas).
 No total, somando os segmentos de crédito livre e direcionado, as
concessões já ajustadas sazonalmente saíram de R$ 1,975 trilhão
entre março e maio deste ano para R$ 1,906 trilhão nos três meses
seguintes, num recuo de 3,46%. Na comparação com contratações de
R$ 1,817 trilhão realizadas no trimestre finalizado em agosto do ano
passado, persiste um incremento de 4,90%.
 Essa taxa, de todo modo, expressa uma desaceleração no crescimento
das concessões, que precisamente correspondem a liberação de
“empréstimos novos” pelos bancos. Considerando os trimestres de

junho a agosto de 2024 e de 2023, o crescimento havia sido de
16,62%.
 A queda entre maio e agosto, ainda tomando períodos trimestrais, foi
mais expressiva no caso das empresas, com queda de 5,63%, como
volume de concessões encolhendo de R$ 900,7 bilhões para R$
850,0 bilhões. Na comparação com o trimestre junho a agosto de
2024, quando as concessões haviam alcançado R$ 823,9 bilhões,
registrou-se um avanço de 3,17% – muito abaixo da alta de 21,27%
registrada na comparação entre junho-agosto ano passado com o
mesmo trimestre de 2023.
 Entre pessoas físicas, as concessões haviam crescido 13,31% entre
2024 e 2023 (sempre no trimestre junho a agosto) e passaram a
avançar 6,63% neste ano, saindo de R$ 992,8 bilhões no ano passado
para R$ 1,059 trilhão neste ano. Em relação ao trimestre março-maio
também de 2025, quando haviam alcançado R$ 1,076 trilhão, houve
um recuo de 1,61%.
 No setor de crédito livre, onde os bancos têm o poder de impor seus
juros como bem desejarem, as concessões baixaram 2,07% entre
maio e agosto, com avanço de 4,81% diante de junho-agosto de 2024
(abaixo também da elevação de 19,31% na comparação entre este
último trimestre e igual período de 2023). Nesta área, os juros
cobrados das empresas subiram de 21,0% ao ano em agosto de 2024
para 25,2% no mesmo período deste ano, numa elevação de 4,2
pontos percentuais.
 As pessoas físicas pagaram, em agosto deste ano, juros de 58,4% ao
ano, inferior à taxa de 59,3% registrada em junho deste ano, mas
acima dos juros de 51,8% cobrados em agosto do ano passado. A
inadimplência das pessoas físicas chegou em agosto deste ano a
6,8%, a mais alta desde maio de 2012 (7,2%). Para as empresas, o
total de empréstimos em atraso há 90 dias ou mais passou a
corresponder a 3,3% do saldo de crédito concedido ao setor
corporativo, saindo de 2,9% em agosto de 2024. A taxa foi a mais
elevada desde novembro de 2023 (3,6%).

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos canais de comunicação do O Hoje para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.