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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
consumo global

97% da água que poderia ser reutilizada é desperdiçada

Relatório do Banco Mundial aponta que apenas 3% do consumo global é reaproveitado e defende expansão massiva do reuso para evitar colapso hídrico até 2040

Luana Avelarpor Luana Avelar em 30 de setembro de 2025
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Foto: FreePik

O planeta convive com uma contradição: ao mesmo tempo em que bilhões de pessoas enfrentam o risco de ficar sem água, uma das alternativas mais eficazes para garantir abastecimento continua relegada a segundo plano. O reuso de água, apontado por especialistas como ferramenta estratégica para mitigar a crise hídrica, representa hoje apenas 3% do consumo global de cidades e indústrias. Os dados constam no relatório “Scaling Water Reuse: A Tipping Point for Municipal and Industrial Use”, divulgado pelo Banco Mundial em junho de 2025.

Segundo o estudo, quase 1 bilhão de metros cúbicos de água são utilizados diariamente em escala urbana e industrial, mas a maior parte é descartada sem tratamento em rios, lagos e aquíferos. A consequência é dupla: de um lado, o agravamento da poluição e a deterioração de ecossistemas; de outro, a intensificação da escassez em um contexto em que a urbanização e as mudanças climáticas pressionam o consumo de forma inédita.

Hoje, mais de 2 bilhões de pessoas vivem em áreas urbanas sob risco hídrico. A tendência é que a pressão se multiplique: até 2050, sete em cada dez habitantes do planeta estarão em cidades, ampliando a disputa por um recurso que já se mostra insuficiente. O Banco Mundial alerta que insistir no modelo atual de gestão equivale a acelerar o caminho para o colapso.

O relatório, no entanto, aponta uma alternativa. Com investimentos estimados entre US$170 bilhões e US$340 bilhões nos próximos 15 anos, seria possível multiplicar por oito a capacidade de tratamento, elevando a participação do reuso para 25% do abastecimento municipal até 2040. A projeção sugere não apenas uma expansão técnica, mas uma mudança de paradigma: transformar a água descartada em ativo estratégico, capaz de garantir resiliência frente à crise climática.

Além de fornecer água limpa, cada metro cúbico reaproveitado traz ganhos adicionais. O reaproveitamento permite recuperar energia e nutrientes, reduz a extração de mananciais e diminui a carga poluente despejada no meio ambiente. Trata-se, segundo o Banco Mundial, de um triplo benefício ambiental, econômico e social.

O relatório reúne experiências internacionais que evidenciam a viabilidade do modelo. Países como Cingapura, Estados Unidos e África do Sul demonstram que a tecnologia de reuso já está consolidada em larga escala e pode ser replicada em outros contextos. No Brasil, o caso do Aquapolo Ambiental, que abastece o Polo Petroquímico do ABC paulista, tornou-se referência ao se firmar como o maior projeto de reuso industrial do Hemisfério Sul.

O estudo conclui que o mundo se encontra diante de um ponto de inflexão. O reuso não pode mais ocupar posição periférica, restrito a situações emergenciais. Sua adoção massiva precisa ser incorporada às políticas públicas, aos planos de investimento e às estratégias de adaptação climática. O caminho, embora exija recursos vultosos, é mais barato e eficiente do que alternativas como a dessalinização em grande escala.

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