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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Despesa do Estado dispara no quarto bimestre e déficit salta quase 26 vezes

Lauro Veiga Filhopor Lauro Veiga Filho em 2 de outubro de 2025
Foto: Paulo José/Prefeitura de Goiânia
Foto: Paulo José/Prefeitura de Goiânia

A despeito da perda de ritmo das receitas, o governo estadual decidiu acelerar suas despesas vigorosamente no quarto bimestre, comprometendo seu desempenho fiscal e provocando um salto no déficit primário — a diferença entre receitas e despesas sem considerar gastos com juros e amortizações da dívida estadual.

Nos dados divulgados ontem no portal Transparência Goiás, a receita primária mostra queda de 7,23% na saída do terceiro para o quarto bimestre deste ano e uma variação de apenas 1,59% em relação ao bimestre julho-agosto do ano passado. As despesas primárias, por sua vez, aumentaram 13,77% em relação ao bimestre maio-junho e dispararam 20,62% na comparação com o quarto bimestre de 2024.

O resultado dessa combinação foi uma rápida deterioração do resultado primário do Estado, que havia anotado modesto superávit de R$ 195,282 milhões no terceiro bimestre — diferença entre receitas primárias de R$ 8,058 bilhões e despesas muito próximas de R$ 7,863 bilhões. No bimestre seguinte, com as receitas baixando para R$ 7,475 bilhões e despesas escalando para R$ 8,945 bilhões, as contas estaduais passaram a registrar um rombo de praticamente R$ 1,470 bilhão.

Como referência, no bimestre julho-agosto de 2024, receitas e despesas haviam alcançado, respectivamente, R$ 7,358 bilhões e R$ 7,416 bilhões, deixando um déficit primário de R$ 57,227 milhões — algo como 0,82% sobre a receita corrente líquida realizada naqueles dois meses. Para comparação, o déficit anotado no quarto bimestre deste ano foi 25,68 vezes mais alto e correspondeu a 20,43% da receita corrente líquida do período. Ou seja, pouco mais de um quinto dos recursos líquidos que entraram no caixa do Estado foram comprometidos pelo déficit, o que parece desautorizar a retórica alardeada desde sempre pelo ocupante da Casa Verde em relação à gestão fiscal no Estado.

Maior pressão
Na análise bimestral, as despesas com pessoal praticamente não saíram do lugar entre o terceiro e o quarto bimestres deste ano, até recuando levemente de pouco menos de R$ 4,010 bilhões para R$ 4,008 bilhões. Ainda assim, representaram um avanço de 14,25% na comparação com o bimestre julho-agosto do ano passado, quando haviam somado R$ 3,508 bilhões.

As demais despesas correntes, basicamente destinadas ao custeio da administração, subiram de R$ 2,466 bilhões no bimestre maio-junho deste ano para algo acima de R$ 3,092 bilhões nos dois meses seguintes, em alta de 25,36%. Considerando que essa mesma classe de gastos havia alcançado R$ 2,498 bilhões no quarto bimestre do ano passado, a variação neste ano, tomando o mesmo período, atingiu 23,77%.

Balanço

  • Nos bimestres anteriores, o gestor fiscal aparentemente havia tomado a decisão de impor alguns limites às despesas correntes, especialmente no caso da folha de pessoal, para abrir espaço aos investimentos estaduais, diante dos valores muito elevados acumulados no caixa líquido do Estado.

  • A partir do quarto bimestre — ou pelo menos ao longo daqueles dois meses —, os gastos passaram a ser acelerados ao mesmo tempo em que o investimento manteve-se em trajetória crescente. Em maio e junho deste ano, o Estado chegou a investir R$ 836,168 milhões, equivalentes a 10,78% da receita corrente líquida do bimestre. O valor foi elevado em 56,53% em julho-agosto, alcançando R$ 1,309 bilhão, correspondendo a 18,19% da receita líquida. Comparado ao quarto bimestre de 2024, com investimentos de R$ 870,486 milhões (12,46% da receita líquida), registrou-se um avanço de 50,36%.

  • Os valores investidos pelo Estado no quarto bimestre corresponderam a quase 39% de todo o investimento realizado entre janeiro e agosto deste ano, num montante muito próximo de R$ 3,374 bilhões, equivalentes a 11,59% da receita corrente líquida realizada nos primeiros oito meses. Considerando que aqueles investimentos haviam somado R$ 2,066 bilhões entre janeiro e agosto do ano passado, houve incremento nominal de 63,33%. Para registro, o total investido em oito meses de 2024 havia correspondido a somente 7,70% das receitas líquidas.

  • Ainda no acumulado de janeiro a agosto, as despesas voltaram a apresentar crescimento mais acentuado do que as receitas primárias, com salto de 24,04% para os gastos e incremento de 6,95% na ponta das receitas, sempre em valores nominais. Enquanto as receitas primárias totais avançaram de R$ 28,228 bilhões para R$ 30,190 bilhões entre 2024 e 2025, as despesas primárias totais saltaram de R$ 26,293 bilhões para R$ 32,614 bilhões — número que considera despesas efetivamente pagas, mais restos a pagar processados e não processados igualmente quitados.

  • O ganho de receita foi equivalente a R$ 1,962 bilhão, o que correspondeu a apenas 31,0% do aumento registrado nas despesas, que avançaram em nada menos do que R$ 6,321 bilhões.

  • Essa discrepância trouxe o resultado primário de um superávit de R$ 1,935 bilhão (cerca de 7,2% da receita líquida) para um déficit de R$ 2,423 bilhões nos mesmos oito meses deste ano (em torno de 8,3% da receita corrente líquida). Nessa comparação, houve reversão de R$ 4,359 bilhões, equivalente a quase 15% da receita líquida.

  • Ainda no acumulado deste ano, as despesas com a folha alcançaram pouco menos de R$ 15,490 bilhões, crescendo 13,92% em relação aos R$ 13,596 bilhões gastos nos mesmos oito meses de 2024. O relatório de gestão fiscal, também divulgado ontem, mostra que a despesa com pessoal atingiu R$ 17,756 bilhões, variando apenas 3,91% na comparação com os 12 meses imediatamente anteriores, quando haviam chegado a R$ 17,087 bilhões. A relação entre gastos com a folha e a receita líquida ajustada recuou de 41,81% para 39,86%, ficando mais distante do limite de alerta fixado em 43,74%.

  • As demais despesas correntes saíram de R$ 8,477 bilhões para R$ 11,553 bilhões entre os primeiros oito meses de 2024 e o mesmo intervalo de 2025, num salto de 36,28% (ou R$ 3,075 bilhões a mais). Essa classe de gastos respondeu por quase 62% do aumento observado no total das despesas primárias correntes no período.

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