Rigamontti transforma rotina em refrões que marcaram o sertanejo
Autor de canções como “Cadeira de Aço”, “50 Reais” e “A Mala É Falsa”, o compositor esteve no podcast MandaVê e revisitou histórias que moldaram sua trajetória na música popular
No último episódio do podcast MandaVê, apresentado por Juan Allaesse, Rigamontti, conhecido nos bastidores como Bruno Mandioca, revisitou passagens de sua carreira que ajudaram a entender a ascensão de um dos compositores mais gravados do país. Poeta, batuqueiro e cantor, o artista transformou episódios triviais e experiências pessoais em canções que se tornaram hinos da música sertaneja contemporânea.
A virada veio com Cadeira de Aço, gravada por Zé Neto & Cristiano, cujo mote nasceu de um detalhe aparentemente banal: uma lata de refrigerante servida com o nome de uma antiga paixão. O incômodo virou anotação, e em parceria com a editora musical Waléria Leão, filha da cantora e compositora Fátima Leão, o esboço foi trabalhado ao longo de onze horas até se tornar uma das faixas mais executadas.
A presença de Waléria foi decisiva em outros momentos. Reconhecida pela habilidade em identificar canções de impacto, ela também foi responsável por intermediar a chegada de 50 Reais a Naiara Azevedo. A música se tornou símbolo do feminejo ao narrar uma história de traição sob perspectiva feminina, projetando de forma definitiva a intérprete e o autor.
Outro episódio transformado em composição foi A Mala É Falsa. A canção, gravada por Felipe Araújo em 2026, nasceu de um gesto performático em meio ao desgaste de um relacionamento. O compositor arrumou uma mala vazia e a deixou sobre o sofá, cena que simbolizava o fim de uma convivência insustentável. O objeto se converteu em metáfora e, depois, em refrão que ganhou o país.
O repertório assinado pelo artista é vasto. Entre as parcerias estão Espaçosa Demais com Felipe Araújo, Terra sem CEP com Jorge & Mateus, Modo Goiano e Te Amei Pra… com Edson & Hudson, Entrevista com seu Ex com Gusttavo Lima, Edinalva com Wesley Safadão, Coração de Rapariga com Tierry, além de títulos como Manda Áudio, Traí Sim, Quarto de Cabaré e Que que a Gente Faz. O conjunto abrange faixas gravadas por intérpretes de destaque no sertanejo, no forró e no pagode.
A força de suas músicas está na síntese. Refrões curtos, facilmente assimiláveis, se transformam em coros coletivos em bares, churrascos e grandes palcos. Essa simplicidade calculada explica por que canções como Cadeira de Aço e Espaçosa Demais seguem presentes no repertório popular anos após o lançamento.
No MandaVê, abordou ainda a dimensão empresarial da carreira. Explicou que a venda de catálogos e as negociações com editoras permitiram financiar ônibus de turnê, equipamentos de som e iluminação, garantindo autonomia para seguir criando.
Embora seja reconhecido principalmente como letrista, ele também ocupa o palco. Seu repertório como cantor transita pelo samba, pelo pagode e pelo funk, preservando o humor e a energia que marcam sua obra. Essa atuação reforça a visão de que a música deve emocionar, mas também divertir e aproximar públicos distintos.
Do batuque às negociações, o autor construiu uma trajetória em que a observação da rotina se converte em criação artística. Detalhes aparentemente banais — uma lata de refrigerante, uma mala vazia ou uma frase corriqueira — se transformaram em refrões capazes de atravessar gerações.