O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
SISTEMA PRISIONAL

Antes do prazo determinado pelo STF, Goiás passa a escanear todos visitantes de presídios

Segundo especialista, existe um risco de uso indevido dessas imagens, já que não foram divulgadas regras claras sobre armazenamento, acesso e descarte

Caroline Gonçalvespor Caroline Gonçalves em 7 de outubro de 2025
10 abre Divulgacao Policia Penal 1
Todas as 85 unidades prisionais de Goiás agora utilizam tecnologia que identifica objetos proibidos sem violar a privacidade de visitantes Foto: Divulgação/ Polícia Penal

A decisão, que estava prevista pelo Supremo Tribunal Federal (STF) só para 2027, para o uso de scanner no sistema prisional, foi totalmente cumprida em Goiás com dois anos de antecedência. Agora, quem visita presídios é revistado por tecnologia, e a antiga revista íntima virou coisa do passado.

A medida envolve as 85 unidades de presídios do Estado. O último lote, com 55 scanners, foi alugado por R$ 22,9 milhões, num contrato de 60 meses. A instalação foi concluída neste ano.

Como funciona o scanner corporal nos presídios?

Segundo a assessoria de comunicação da Polícia Penal, esses aparelhos funcionam como nos aeroportos: a pessoa entra, passa pelo scanner e, em poucos segundos, está liberada, ou, caso algo suspeito apareça, passa por outra verificação. “O objetivo principal é barrar a entrada de drogas, celulares, armas e outros materiais proibidos escondidos no corpo”, relatou.

Em abril de 2025, o STF determinou que todos os presídios do País devem adotar scanners corporais até abril de 2027. A medida faz parte de um esforço nacional para acabar com revistas que eram estabelecidas, aquelas em que a pessoa precisava tirar a roupa e se agachar durante a visita.

Se o scanner apontar algo suspeito, conforme assessoria, os policiais penais, treinados para operar o equipamento, avaliam o que é. Se for algo proibido, como arma ou droga, o visitante é preso em flagrante. Se for algo não autorizado, como cigarro ou eletrônico, pode ter as visitas suspensas nos presídios.

Presídios
Com instalação de equipamentos de revista corporal (scanners corporais) em todas as 85 unidades de presídios em Goiás
Foto: Polícia Penal

O uso dos scanners melhora o controle de entrada nos presídios sem violar a privacidade de quem entra. As imagens não mostram partes íntimas nem detalhes do corpo nu, apenas um contorno com marcações em caso de suspeita.

“O scanner mostra só o necessário para identificar objetos. E aqui em Goiás, por exemplo, homem é revistado por homem, mulher por mulher. Existe esse cuidado com o respeito à pessoa”, explica o advogado criminalista Jean Filipe.

Segundo o especialista, há mecanismos para fiscalizar o uso correto dos scanners. Se um servidor agir de forma incorreta, pode ser responsabilizado pelos órgãos internos da segurança prisional, como a Corregedoria. Além disso, a atuação de advogados e da própria sociedade também ajuda a evitar abusos. “Esses equipamentos são uma forma de proteger todos: presos, visitantes, policiais, advogados. É uma ferramenta de segurança, não de constrangimento”, afirma.

De acordo com o advogado Camilo Rodovalho, não precisa de autorização para implementar esse sistema nos presídios, mas é importante o controle do sistema. “A autorização judicial não é necessária, mas o controle institucional é indispensável. Nenhuma medida que envolva direitos fundamentais, como a intimidade e a integridade física, pode ser implementada de forma autossuficiente. O correto seria submeter a política ao Ministério Público, à Defensoria Pública e aos conselhos de política criminal e penitenciária, com publicação prévia de protocolos técnicos e jurídicos”, explicou. 

Além disso, Rodovalho afirmou que existe um risco de uso indevido dessas imagens. “O risco é concreto e decorre da ausência de protocolos de governança. O governo anunciou investimento de R$ 22,9 milhões na locação dos equipamentos, mas não divulgou regras claras sobre armazenamento, acesso e descarte das imagens. Essa omissão cria vulnerabilidade jurídica e institucional, abrindo espaço para violações administrativas, civis e penais”, destacou.

Camilo ressalta que é importante criar uma regulamentação sobre o uso do scanner e da imagem das pessoas. “O Estado deve publicar norma específica que regulamente o uso dos scanners, defina responsabilidades e estabeleça controles externos. É imprescindível detalhar como as imagens serão tratadas, quem poderá acessá-las, por quanto tempo serão mantidas e como serão descartadas.” afirmou

A instalação dos scanners faz parte de um pacote do sistema prisional de Goiás. Entre 2019 e 2024, o Estado investiu mais de R$ 350 milhões na reforma, ampliação e modernização das unidades, compra de viaturas, armamentos, equipamentos de informática e saúde, além de mobiliário para os presídios.

O uso de scanners corporais nos presídios começou a ser adotado de forma gradual em Goiás a partir de 2018. Mas foi a partir de uma decisão da atual gestão que a ideia avançou para todas as unidades do Estado.

Presídios
Scanners corporais permitem identificar objetos escondidos na roupa e no corpo de visitantes
Foto: Polícia Penal

 

Leia também: Condenado a mais de 456 anos de prisão por exploração e estupro de vulnerável

Siga o Canal do Jornal O Hoje e receba as principais notícias do dia direto no seu WhatsApp! Canal do Jornal O Hoje.
Veja também