Sem Bolsonaro e Trump, Lula não tem como alimentar o tribalismo ideológico
O ministro do STF, Alexandre de Moraes, tem razão ao dizer que o País vai ter “dias atribulados” nos próximos dois anos, período em que ele e o ministro Edson Fachin vão estar à frente do Supremo. Desafios como a pauta da anistia/dosimetria e as eleições gerais de 2026 vão exigir muito equilíbrio dos magistrados. Mas, até 6 de outubro de 2026, existe um longo caminho que passa pelo STF, que atende pelo nome de Donald Trump. O primeiro round entre o presidente Lula e o colega americano está empatado. A conversa de 30 minutos entre eles apenas abriu uma porta para o diálogo que, a princípio, gira sobre taxas aos produtos brasileiros exportados para os EUA.
Se Lula conseguir aplainar o contencioso econômico, perde o discurso de “soberania” ou o de “adversário externo”. Internamente, o seu principal adversário, Jair Bolsonaro, que o ajudou a sustentar a narrativa de combate ao “fascismo”, está fora do jogo. A partir daí, Lula terá apenas o candidato da direita, mas sem o arsenal de munição para levantar as massas e posar como guia dos povos. Esse é o momento em que o STF terá seu maior desafio: manter os extremos da direita e da esquerda contidos dentro de regras civilizadas.
A pergunta que fica no ar é: Alexandre de Moraes e Fachin vão ser isentos? Isto porque o Supremo ajudou muito nesta divisão dos brasileiros ao pender para o lado de Lula. Agora, ninguém duvida que será uma das eleições mais difíceis que o País teve após a redemocratização. Afinal, a esquerda perdeu o discurso de que o Estado pode tudo. Por conta desse modelo desconectado do mundo contemporâneo e da celeridade da comunicação pessoal, a esquerda não consegue mais mobilizar a massa. Mesmo com o controle de todos os meios culturais e da mídia tradicional, só consegue ser ouvida pelos devotos ou os cativos do ‘bolsa tudo’.
Modelo eleitoral favorece quem tem mandato
O atual modelo institucional que disciplina as regras da disputa eleitoral favorece o continuísmo político, ou seja, quem manda nos Legislativos estaduais e no Congresso. De acordo com especialistas em legislação eleitoral, um dos principais ativos de um parlamentar são as emendas individuais. Um deputado federal ou senador não depende mais do governador de seu Estado para ajudar a base eleitoral nos municípios.
Barreira aos novatos
Essas emendas e o acesso quase direto a ministros no Governo Federal abrem portas para os prefeitos aliados em suas demandas. Assim, fica difícil para um estreante na política vencer essa barreira, a não ser que tenha muito dinheiro para gastar. Só na base da promessa fica difícil vencer, por melhor que sejam suas ideias.
Campanha contra
O governador de São Paulo e presidenciável Tarcisio de Freitas (REP) está em campanha, não para presidente da República, mas contra a Medida Provisória (MP) 1.303 de Lula, que contém a proposta do governo como alternativa ao aumento das alíquotas do IOF. Se for aprovada, Lula terá uma montanha de dinheiro para gastar em 2026.
Xadrez do Dr. Lucas
O prefeito de Águas Lindas, no Entorno de Brasília, Dr. Lucas Antonietti (União Brasil), não tem do que se queixar em matéria de satisfação da população. Com 83% de aprovação e mais de 130 mil eleitores, Dr. Lucas chega na eleição de 2026 com o maior desafio da carreira: transformar seu capital político em hegemonia regional.
Hildo federal
No xadrez político em que Dr. Lucas joga, a principal peça do tabuleiro aponta para Hildo do Candango (REP), que já obteve 47 mil votos para deputado federal em 2022. Isto sem o apoio da máquina pública e vereadores. Agora, conta com base sólida e pode sair de Águas Lindas de Goiás, no Entorno do DF, com quase 50 mil votos.
STF quer saber
A ministra do STF, Cármen Lúcia, pode acabar com a alegria de muita gente que sonha em disputar eleição em 2026, principalmente o ex-governador do DF, José Roberto Arruda (PL). Cármen deu cinco dias para o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, explicar a mudança na lei. Mau sinal.