Desde o início de 2025, tem sido registrada uma intensa escalada de ataques cibernéticos contra motoristas brasileiros, tendo o pagamento do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) como principal isca para fraudes digitais cada vez mais sofisticadas. 

Os criminosos vêm aperfeiçoando suas táticas ano após ano, explorando tanto a obrigação de regularização dos veículos quanto o aumento da movimentação financeira típica desse período.

O esquema fraudulento, conhecido como phishing ou “atalho digital”, opera em grande escala ao mimetizar portais oficiais do Detran e das Secretarias da Fazenda dos Estados. A Kaspersky, empresa de cibersegurança, identificou pelo menos 38 endereços fraudulentos que imitam esses portais. Este número, no entanto, é subestimado, visto que novos domínios são criados constantemente para burlar bloqueios e medidas de segurança.

A tática mais perigosa reside no uso de anúncios patrocinados em motores de busca. Ao pesquisar termos como “IPVA 2025” ou “pagar IPVA”, links maliciosos frequentemente surgem no topo dos resultados, acima até dos portais legítimos, pois os golpistas pagam para promovê-los. 

Autoridades alertam que órgãos públicos geralmente não impulsionam sites patrocinados. Esses sites falsos usam domínios enganosos, como variações próximas dos sites verdadeiros ou o uso de “.org” em vez do .gov.br oficial, que é crucial para indicar que o site é estatal.

Uma vez na página falsa, o usuário é confrontado com uma interface idêntica aos portais governamentais, que exige o número do Renavam e o CPF. Para criar uma falsa sensação de legitimidade e confiança, os criminosos exibem dados reais do veículo, como modelo, placa e o valor do imposto devido. Essa precisão de informações, muitas vezes, é resultado de vazamentos de dados obtidos no ambiente digital.

O principal motor de atração das vítimas é a promessa de descontos irresistíveis, frequentemente superiores aos abatimentos reais oferecidos pelos Estados. Os golpistas chegam a oferecer reduções que variam de 40% a 50% no valor do IPVA. 

Motoristas, buscando economizar em um período de despesas sazonais, são levados a fornecer informações sensíveis. A fase final da fraude envolve a geração de um boleto falso ou, mais frequentemente, um QR Code para pagamento via PIX, que desvia o dinheiro para contas controladas pelos fraudadores. A rapidez das transações via PIX, adotada oficialmente em alguns Estados, acelerou o processo de roubo, dificultando o rastreamento e a recuperação dos valores perdidos.

O impacto financeiro é alarmante. Estima-se que os prejuízos causados por esses golpes em todo o País tenham ultrapassado a marca de R$ 100 milhões em 2024 no Brasil. Casos de vítimas têm se multiplicado em 2025. O golpe força as vítimas a quitarem o valor novamente, resultando em duplo prejuízo, além de transtornos burocráticos e o risco de dados pessoais serem usados em outros crimes.

O problema atinge Estados com grande volume de veículos, como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná. Em Goiás, o Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) tem emitido alertas frequentes devido ao crescente número de queixas de cidadãos que caíram no golpe do IPVA e Licenciamento Anual com desconto. 

O Detran-GO reforça que não oferece descontos no licenciamento e nem aceita PIX como forma de pagamento. Além disso, a Secretaria de Estado da Economia de Goiás alertou sobre golpes direcionados à cobrança de IPVA já inscrito em dívida ativa, nos quais golpistas usam perfis falsos em redes sociais ou mensagens de WhatsApp para oferecer “condições exclusivas” de quitação rápida.

As autoridades têm intensificado o combate: a Receita Estadual do Paraná, por exemplo, registrou mais de 270 casos só até maio. Forças-tarefas em Minas Gerais entre Ministério Público, Fazenda e Polícia Civil identificaram mais de 4 mil ocorrências em 2024, indicando uma tendência de aumento em 2025. 

No Rio de Janeiro, a Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz-RJ) reforça que a emissão da Guia de Recolhimento de Débitos (GRD) é feita exclusivamente pelo Portal do IPVA oficial.

Apesar do esforço governamental em derrubar sites e perfis falsos diariamente, e da migração de acessos para sistemas mais seguros como o GOV.BR no Detran-GO, a prevenção continua dependendo da cautela e vigilância dos próprios motoristas, já que o dinheiro enviado aos criminosos “não volta mais”. Os contribuintes são orientados a verificar rigorosamente os canais de pagamento e a autenticidade dos boletos, desconfiando sempre de ofertas que pareçam boas demais.

Como se proteger de golpe do IPVA: orientações essenciais para motoristas

Diante da onda de golpes que utilizam sites clonados, descontos irreais e o PIX para desviar pagamentos de IPVA, é fundamental que os motoristas adotem medidas preventivas rigorosas, conforme orientações dos órgãos oficiais.

Para garantir um pagamento seguro, a regra de ouro é acessar apenas os canais oficiais. O contribuinte deve digitar o endereço da página desejada diretamente no navegador e evitar clicar em links enviados por e-mails, SMS ou mensagens de WhatsApp, mesmo que pareçam urgentes. 

Órgãos públicos não costumam enviar cobranças por esses meios. Além disso, é crucial verificar se o domínio do site termina em .gov.br; se houver variações como “.org”, o site é falso. O Detran-GO, por exemplo, orienta que o endereço oficial é https://goias.gov.br/detran/.

É imperativo desconfiar de descontos inusitados ou muito altos, como 40% ou 50%, pois os abatimentos reais oferecidos pelos Estados são significativamente menores (em Goiás, o desconto de antecipação para 2025 era de 8%).

No momento da transação, a verificação do beneficiário é vital. Ao gerar o boleto ou QR Code do PIX, o destinatário do pagamento deve ser o governo estadual ou a Secretaria da Fazenda, e não contas de pessoas físicas ou terceiros. 

No Rio de Janeiro, a Sefaz-RJ exige a checagem do CNPJ correto: 42.498.675/0001-52. É importante notar que alguns Estados, como Goiás, alertam explicitamente que não aceitam PIX para pagamento de IPVA ou licenciamento, reforçando que o pagamento deve ser feito por canais oficiais para emissão de boletos.

Se o IPVA já estiver vencido e inscrito em Dívida Ativa, a orientação da Secretaria de Estado da Economia de Goiás é que o contribuinte verifique a pendência pelos canais oficiais (site da Economia ou APP EON), evitando responder a mensagens de WhatsApp de perfis falsos que oferecem “condições exclusivas”.

Se o contribuinte suspeitar de uma mensagem ou, pior, tiver sido vítima do golpe, ele deve agir imediatamente. O primeiro passo é realizar um Boletim de Ocorrência (B.O.) na Polícia Civil. Além disso, é possível e recomendado registrar denúncia na Ouvidoria do órgão (como o Portal Expresso para o Detran/GO). O supervisor do Detran-GO alerta que o dinheiro enviado ao fraudador “não volta mais”.

Para ajudar a combater os criminosos, é importante denunciar os sites falsos em plataformas públicas como o Bing (Microsoft) ou SafeNet, o que auxilia na derrubada desses endereços do ar, impedindo que outras pessoas caiam na armadilha.

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