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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
21% do tempo

Professores brasileiros gastam uma hora de aula apenas para manter disciplina

Estudo da OCDE mostra que 21% do tempo em sala é perdido com ordem e comportamento, índice acima da média internacional

Luana Avelarpor Luana Avelar em 8 de outubro de 2025
school classroom with books backpack
Foto: FreePik

Manter a atenção dos alunos em sala de aula consome, em média, 21% do tempo dos professores brasileiros. A constatação é da Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis) 2024, coordenada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e divulgada na última segunda-feira (6). Em termos práticos, a cada cinco horas de aula, uma delas é gasta com questões disciplinares e não com o conteúdo pedagógico.

O índice é superior à média dos países-membros da OCDE, de 15%, e revela um agravamento em relação a 2018, quando o Brasil já figurava entre os piores resultados. De lá para cá, houve aumento de dois pontos percentuais no tempo perdido, em linha com a tendência global, mas ainda em patamar mais elevado.

Quase metade dos docentes brasileiros (44%) relata ser frequentemente interrompida pelos alunos, proporção mais que o dobro da registrada na OCDE (18%). O dado reforça a percepção de que a gestão da disciplina tornou-se um desafio estrutural no sistema educacional do país, com efeitos diretos sobre a aprendizagem.

Saúde mental em risco

As consequências do ambiente de sala de aula não se limitam à perda de conteúdo. A pesquisa indica que 21% dos professores no Brasil consideram seu trabalho muito estressante, número próximo ao da OCDE (19%), mas em trajetória ascendente: desde 2018, o índice cresceu sete pontos no país.

Os reflexos na saúde são evidentes. Para 16% dos docentes brasileiros, a profissão impacta negativamente a saúde mental; outros 12% relatam prejuízos significativos à saúde física. Em ambos os casos, os percentuais superam as médias internacionais, de 10% e 8%, respectivamente.

A baixa valorização social do magistério amplia o quadro. Apenas 14% acreditam que a sociedade reconhece o papel do professor, embora o número represente um leve crescimento em relação a 2018. O mesmo percentual enxerga respaldo das políticas públicas nacionais, sinal de que a carreira segue marcada por desconfiança e pouca projeção social.

Entre o fardo e a satisfação

Apesar das dificuldades, a maioria dos docentes brasileiros mantém alta satisfação com a escolha profissional. O estudo mostra que 87% declararam estar contentes com o trabalho, índice muito próximo ao dos países da OCDE (89%). Para 58% deles, a docência foi a primeira opção de carreira, evidenciando vocação e compromisso mesmo diante das adversidades.

No Brasil, a Talis é conduzida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em parceria com secretarias estaduais de Educação. A edição de 2024 ouviu professores e diretores de escolas, com foco nos anos finais do ensino fundamental, em 53 países.

Os resultados reforçam a contradição que há muito marca a educação brasileira: docentes que, embora dedicados e satisfeitos com sua função social, convivem com a sobrecarga da indisciplina, o desgaste físico e mental e a percepção de que sua relevância permanece subestimada pela sociedade.

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