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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Depois da alta, agronegócio aponta desaceleração no terceiro trimestre

Lauro Veiga Filhopor Lauro Veiga Filho em 9 de outubro de 2025
agronegócio
Foto: Seapa

Às voltas com turbulências em série, geradas por crises geopolíticas produzidas por guerras e pela atabalhoada interferência dos Estados Unidos no tabuleiro global das transações comerciais, e ainda diante de incertezas relacionadas a questões domésticas, o ritmo da atividade no agronegócio neste ano segue direcionado por uma combinação pouco usual. A produção de grãos deve confirmar nova marca histórica ao alcançar 350,21 milhões de toneladas, quase 49,1 milhões acima das 301,09 milhões colhidas em 2023/24 — um aumento de 16,3%, segundo a estimativa mais recente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O desembarque no mercado da nova safra veio acompanhado, ao menos inicialmente, por uma tendência de preços mais atrativos, superando a variação dos custos, aponta Nicole Rennó, pesquisadora da equipe de macroeconomia do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. “Essa situação, que potencializa a geração de renda por dois canais simultaneamente, é especialmente relevante porque, ao longo dos 29 anos da série histórica construída por Cepea e CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), esse duplo movimento só foi registrado em seis ocasiões até 2024”, observa a pesquisadora.

No primeiro trimestre, sob o conceito renda, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio cresceu 6,49%, com altas de 5,99% no ramo agrícola e 8,50% na pecuária. “Certamente, a safra recorde de grãos foi um dos principais motores desse resultado”, comenta Nicole, destacando os impactos em cadeia sobre os setores de insumos e serviços prestados ao campo.

Com base nesses números, o Cepea chegou a estimar uma elevação da fatia do agronegócio no PIB geral de 23,53% no ano passado para 29,42% em 2025, o que seria o maior percentual da série histórica, caso o setor mantivesse o mesmo desempenho até o final do ano. Não parece ser o caso. “Já é possível afirmar que o segundo trimestre trouxe uma piora nos preços agropecuários, o que deve levar a uma revisão para baixo dessas projeções”, pondera a pesquisadora. De qualquer forma, Nicole considera muito provável que o PIB do setor cresça neste ano — e em um ritmo superior ao observado em 2024, quando o agronegócio saiu de dois anos de quedas consecutivas.

Efeitos imprevisíveis
Na visão da pesquisadora, “o cenário geopolítico atual, marcado por diversos atritos no cenário global, pode afetar o desempenho do setor tanto negativa quanto positivamente” e, neste momento, “o efeito líquido daqueles eventos sobre a renda do agronegócio ao longo do segundo semestre ainda é imprevisível”. Um dos efeitos tende a ser o encarecimento dos custos de energia e impactos sobre a oferta e os preços de fertilizantes, conforme avaliação da Consultoria Agro do Itaú BBA, gerados pelas guerras ainda em curso na região do Mar Negro e no Golfo Pérsico, mas também pelos juros domésticos elevados.

Balanço

  • As lavouras de soja e milho experimentaram alguma redução de custos e produtividades em níveis historicamente altos na safra 2024/25, diante de um clima mais favorável, o que compensou a baixa nos preços e elevou as margens, analisa Francisco Carlos Queiroz, especialista da Consultoria Agro do Itaú BBA. Esse cenário, porém, não deverá prevalecer no ciclo 2025/26. Os produtores de soja no sudeste de Mato Grosso elevaram a margem operacional de 28% na safra 2023/24 para 41% no ciclo seguinte, mas devem ver a rentabilidade recuar para 34% — ainda um dado positivo. No caso do milho, as margens variaram marginalmente nas últimas duas safras, de 25% para 27%, e tendem a cair para 21% entre 2025/26.

  • Os preços dos fertilizantes fosfatados e potássicos têm subido desde o final de 2024, lembra Queiroz, produzindo altas entre 8% e 8,5% nos custos operacionais para a safra que começa a ser plantada neste mês. A situação deve afetar mais duramente a segunda safra de milho. Segundo o especialista, os produtores de soja já haviam adquirido 80% do fertilizante a ser usado no próximo plantio até o final de julho. “Mas quem vai plantar a segunda safra de milho tinha comprado menos de 30% do insumo”, aponta.

  • O aumento da mistura de biodiesel ao diesel, de 14% para 15% a partir de 1º de agosto, tende a melhorar moderadamente as margens de rentabilidade da indústria de óleo de soja, “trazendo um pouco de tranquilidade ao setor”, afirma André Nassar, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove). “Ainda estamos num período muito desafiador, com margens muito baixas no processamento”, avalia, ponderando que o “grande ajuste” nos prêmios do óleo de soja “comprimiu muito o resultado da indústria”.

Enquanto os prêmios pagos por tonelada de soja em grão saltaram de US$ 7 em janeiro para US$ 31 em junho último, o óleo de soja passou a registrar prêmio negativo de US$ 50 também em junho, saindo de um valor positivo de US$ 66 em janeiro. O farelo teve o prêmio negativo ampliado de US$ 9 para US$ 10 por tonelada no mesmo período.

  • As margens industriais nas operações de exportação de farelo e óleo, acrescenta Nassar, com dados da consultoria Safras & Mercado, baixaram de 8,5% em junho do ano passado para apenas 1% no mesmo mês deste ano. Considerando os produtos destinados ao mercado doméstico, a margem bruta caiu de 17% para 8%. O novo percentual da mistura, estima ele, deverá gerar uma demanda adicional entre 150 mil e 200 mil toneladas de óleo de soja degomado até o final do ano, o que implica esmagar de 700 mil a 800 mil toneladas a mais de soja — o equivalente a 1,4% do volume processado pelo setor em 2024.

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