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sábado, 13 de dezembro de 2025
Mandavê

Zé André fala sobre carreira e bastidores do sertanejo

Convidado do Manda Vê, compositor descreve a rotina de trabalho intenso e a criação do Da Água pro Hit, plataforma que revelou nomes ligados a hits nacionais

Luana Avelarpor Luana Avelar em 22 de outubro de 2025
Zé André
Foto: Gabriel Louza

Na última segunda-feira (20), no podcast Manda Vê, apresentado por Juan Allaesse, o compositor Zé André, 30, detalhou a rotina de quem vive de música e desmontou o mito da “única oportunidade” que transformaria qualquer iniciante em sucesso. A conversa expôs tanto sua trajetória pessoal quanto o funcionamento de um mercado em que volume, método e disciplina importam mais do que inspiração.

Zé André e o ofício de recomeçar

Filho de radialista, Zé André cresceu em Santa Vitória (MG) e em Rio Verde (GO), antes de se mudar para Goiânia em 2008. Ainda adolescente, começou a acompanhar de perto artistas que buscavam espaço em rádios locais. Sem familiaridade com instrumentos, aprendeu violão em férias com os primos e passou a escrever as primeiras letras, que ele próprio define como “ruins”. A autocrítica, afirma, foi necessária: “Se sei que está ruim, tenho como melhorar. O problema é quando o compositor acha que já está bom”.

O contato com Israel & Rodolffo, ainda desconhecidos, marcou a decisão de investir na escrita. Pouco depois, em 2012, Lucas Lucco gravou “Princesinha”, parceria com Mr. Catra, composta por Zé após observar uma cena em saída de boate. A música abriu portas, mas não assegurou continuidade. “No meio, ninguém se impressiona com uma ‘princesinha’. Quem já está no topo tem milhares dessas. O que mudou foi que comecei a compor com outros nomes e entender a engrenagem”.

O passo seguinte veio em 2015, quando Gusttavo Lima gravou “Você Não Me Conhece” e Henrique & Juliano lançaram “Fake”. Ali, diz, percebeu que uma conquista isolada não sustenta carreira. “Acertar uma música não garante nada. Depois do acerto, você tem que dobrar a carga”.

Houve desvios e perdas. Em 2015, formou dupla com Felipe Araújo; a morte de Cristiano Araújo, em 24 de junho, implodiu agendas e convicções. Zé voltou às origens. Em 2017/18, quase desistiu: estudou gastronomia em Portugal, trabalhou em cozinha, fez conta e percebeu que a soma não fechava. A reviravolta chegou por telefone: uma banda do Sul quis “O Grande Dia” e pagou R$10 mil de exclusividade. Ele voltou para a composição com método, agora ao lado de Amanda — compositora, hoje sua esposa.

O método como sobrevivência

Com a pandemia, em 2020, a interrupção dos shows tornou o cenário ainda mais instável. “Para o artista, foi ruim; para o compositor, pior. Sem palco, não tem execução, não tem play, não tem direito autoral”, relatou. A saída foi migrar para o digital. Surgiram as lives “Da Água pro Hit”, que se tornaram curso estruturado com aulas às terças, composições coletivas às quintas e audições dominicais. O projeto cresceu até formar uma comunidade de mais de 2,5 mil alunos, responsáveis por cerca de 3 mil músicas gravadas e mais de dez registros em primeiro lugar no Spotify.

Entre os ex-alunos estão Matheus Félix, coautor de “Pipoco”, sucesso de Ana Castela, e Breno Lucena, de “Coração Cachorro”, gravada por Ávine e Matheus Fernandes. “Se o aluno não ultrapassa o professor, significa que o professor escondeu o ouro. Os meus já passaram faz tempo”, afirma Zé André.

A ênfase, explica, não é ensinar o que é “bom” ou “ruim”, mas o que é comercial. “Se uma música demora um minuto e dez para chegar ao refrão, está descartada. Se a melodia não muda da parte A ao refrão, também. Isso todo produtor e artista já sabe; eu apenas sistematizei em pontos claros”. Ele define o Da Água pro Hit como uma “ponte”: quem enfrenta as críticas internas sai mais preparado para encarar o mercado.

O compositor também critica a ilusão da oportunidade única. Segundo ele, a maioria dos aspirantes acredita que bastaria mostrar dez músicas para mudar de vida. “Já compus 500 em um ano; 50 foram gravadas; uma deu algum retorno. É assim para todos. O resto é efeito Dunning-Kruger: quanto menos a pessoa sabe, mais acha que é gênio”.

A farsa da oportunidade única

No podcast, o compositor também rebateu o saudosismo recorrente em discussões sobre sertanejo. “Sempre existiram músicas boas e ruins. Nos anos 1990, falavam que só Rick & Renner prestavam. Depois, que o bom era Jorge & Mateus. Amanhã vão dizer que a época boa era Henrique & Juliano. O loop nunca acaba”. Para ele, a única constante é que todas — boas ou ruins — são comerciais. “O compositor que escreve três páginas de letra e espera ser gravado não entendeu o básico: música é método”.

Entre fracassos, retornos e recomeços, a síntese que apresentou no Manda Vê é de que não existe padrinho capaz de abrir sozinho a porta do sucesso. O que existe é um corredor longo, pago com rotina, recusa e reescrita. Para Zé André, consistência é o verdadeiro nome do milagre.

Zé André
Zé André durante gravação do podcast Manda Vê, em que falou sobre carreira, rotina de composição e a criação do projeto Da Água pro Hit. Foto: Reprodução / Canal Manda Vê

Leia mais: https://ohoje.com/2025/10/15/mandave-recebeu-ananda-leonel-para-discutir-cenario-gamer/

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