Celebrado em 28 de outubro, o Dia Internacional da Animação homenageia a primeira exibição pública de imagens animadas, realizada em 1892, em Paris. Mais de um século depois, a animação brasileira vive um momento de consolidação e prestígio dentro e fora do país. Enquanto longas como Coração das Trevas (2025), ambientado em um Rio de Janeiro futurista, acumulam prêmios e indicações internacionais, Goiás desponta como um dos polos criativos mais promissores do setor.

Animação goiana: do Cerrado para o mundo

O curta Entressonho, do designer e animador Leandro Pimenta, é exemplo desse avanço. A produção conquistou dois prêmios na 26ª edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA): Melhor Curta-Metragem e o Prêmio TV Anhanguera do Cinema Goiano. O reconhecimento reforça o potencial técnico e artístico da animação em Goiás, que vem conquistando espaço com narrativas originais e identidade estética própria.

Outro destaque é o Província Studio, responsável por projetos autorais e de formação. Entre suas produções, está Zé Pano e o Sopro da Vida, história que se passa em Trapolândia, um universo em que bonecos de pano ganham vida por meio de botões que representam suas almas — até que uma ameaça tecnológica rompe a harmonia do lugar. O filme é dirigido por Iuri Araújo, com direção de arte de Guilherme Araújo, e realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, via Secretaria de Estado da Cultura de Goiás.

Para Guilherme Araújo, o crescimento da animação em Goiás é fruto de persistência e colaboração. “Temos poucos estúdios consolidados, mas estamos conquistando espaço. Produzir fora do eixo Rio-São Paulo traz desafios, mas também liberdade criativa. Criamos nossas próprias narrativas e ampliamos o alcance do que é feito aqui”, avalia o diretor, que lidera um estúdio com mais de dez anos de trajetória.

Além de Zé Pano, o Província Studio também produz O Conto da Lobeira, em parceria com o roteirista e produtor Vitor Karrijo, do Pegoy Studio. A obra acompanha a jornada de um lobo-guará em um Cerrado ameaçado pela destruição ambiental, em uma narrativa poética sobre preservação e identidade regional.

O futuro da animação em Goiás

Outro nome em evidência é o ilustrador e animador Renato Galhardo, que trabalha na adaptação da HQ Icarus, também do Pegoy Studio, com roteiro de Vitor Karrijo. Para ele, o mercado regional de animação em Goiás é pequeno, mas ascendente. “Mostras como o Goiânia Mostra Curtas e o FICA dão visibilidade à produção local. As leis de incentivo são fundamentais para viabilizar obras autorais e fortalecer o setor”, afirma.

Galhardo ressalta que o fortalecimento do setor passa também pela formação técnica e acadêmica. “As instituições de ensino precisam promover mais contato com as produções locais, incentivar práticas criativas e ensinar o uso de softwares e processos da animação”, defende.

Entre as iniciativas voltadas à capacitação, destaca-se a Escult, projeto do Ministério da Cultura que oferece curso gratuito de animação digital. “Mesmo quem não tem experiência pode começar. O importante é ser curioso e versátil, porque o mercado exige profissionais que dominem várias etapas da produção”, explica o artista.

O cenário mostra que a animação em Goiás não é mais uma exceção no mapa da cultura nacional, mas um campo de criação com identidade própria e crescente visibilidade. Das telas do FICA aos novos estúdios locais, o Cerrado se firma como território fértil para histórias que se movem — literalmente — por meio do traço, da cor e da persistência.

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