Febre infantil: 37,5 °C já exige atenção, alerta pediatria brasileira
Atualização da Sociedade Brasileira de Pediatria orienta pais a observar o comportamento das crianças e evita o uso desnecessário de remédios
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) atualizou as diretrizes sobre o manejo da febre em crianças, e a mudança já está chamando atenção de pais e profissionais de saúde. A partir de agora, 37,5 °C (na axila) passa a ser considerada febre — um ajuste que busca padronizar critérios e alinhar o Brasil às recomendações de entidades internacionais.
A nova diretriz reforça que a febre não é uma doença, mas sim um sinal de que o organismo está reagindo a algo — seja uma infecção, virose ou outro processo inflamatório. Por isso, mais do que olhar para o número no termômetro, o foco dos cuidadores deve estar no comportamento e no bem-estar da criança. “O valor exato da temperatura é apenas um dos elementos da avaliação. O estado geral, o nível de atividade, o apetite e a hidratação da criança são aspectos fundamentais”, destaca a SBP no documento divulgado neste mês.
Por que o parâmetro foi alterado
Até então, muitos manuais e hospitais brasileiros consideravam febre apenas a partir de 37,8 °C ou 38 °C. A SBP decidiu ajustar o valor de referência para 37,5 °C na medição axilar, reconhecendo que crianças têm uma regulação térmica mais instável e podem evoluir rapidamente de um quadro leve para um mais grave.
O objetivo da mudança é facilitar o reconhecimento precoce de sinais de alerta, sem gerar pânico. Segundo a entidade, a nova definição não significa que toda febre exige medicação, mas sim que merece observação cuidadosa — especialmente em bebês e crianças pequenas. “Febre é uma resposta natural do corpo e, na maioria das vezes, não representa risco. O importante é identificar quando ela vem acompanhada de outros sintomas, como sonolência excessiva, falta de apetite, prostração ou dificuldade para respirar”, explicam os especialistas.
Com a atualização, 37,5 °C é o novo ponto de atenção. A medição deve ser feita preferencialmente na axila, com termômetro digital devidamente calibrado. O uso de termômetros de mercúrio é desencorajado por questões de segurança.
A SBP reforça ainda que não se deve administrar antitérmicos automaticamente. O uso de medicamentos como paracetamol ou ibuprofeno deve ocorrer apenas se a febre causar desconforto — como dor, irritabilidade, apatia ou dificuldade para dormir.
Entre as orientações práticas, os pediatras recomendam:
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Hidratar bem a criança, oferecendo água, sucos naturais e leite com frequência;
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Evitar o excesso de roupas e cobertores, permitindo que o corpo elimine calor;
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Manter o ambiente ventilado, sem correntes de ar direto;
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Oferecer repouso e observar o comportamento nas horas seguintes à medição.
Quando é hora de procurar um médico
Mesmo com a nova referência, o comportamento da criança segue como o principal critério para buscar atendimento. De acordo com a SBP, os pais devem procurar um pediatra imediatamente quando:
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O bebê tem menos de 3 meses e apresenta temperatura igual ou superior a 37,5 °C;
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A febre persiste por mais de 72 horas;
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Há vômitos intensos, dificuldade para respirar, convulsões, manchas na pele ou sonolência excessiva;
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A criança recusa líquidos ou aparenta estar desidratada.
Menos ‘febrefobia’, mais informação
A diretriz também busca combater o que os pediatras chamam de “febrefobia” — o medo exagerado que muitos pais sentem diante de qualquer elevação de temperatura. Essa ansiedade leva à automedicação e ao uso indevido de antitérmicos, o que pode mascarar sintomas importantes e até dificultar diagnósticos.
O documento recomenda que pais não alternem medicamentos (como paracetamol e ibuprofeno) sem prescrição médica, e que nunca usem banhos frios ou compressas geladas para baixar a febre — medidas que trazem desconforto e não têm eficácia comprovada. “A febre é uma resposta de defesa do corpo. O controle excessivo e sem necessidade pode atrapalhar esse mecanismo natural”, destaca a SBP.
Mais segurança para famílias e profissionais
A nova diretriz traz maior clareza para pais, escolas e profissionais da saúde. Em unidades de pronto-atendimento, o novo limite de 37,5 °C ajuda a padronizar triagens, evitar diagnósticos desencontrados e reduzir a superlotação causada por casos leves.
Já no dia a dia, o conhecimento dessas mudanças permite que pais se sintam mais seguros para observar os filhos e agir com equilíbrio.
“Não é o número que define a gravidade, e sim o contexto clínico”, reforça o texto da SBP. O documento também estimula os pediatras a educar famílias sobre o significado da febre, ajudando a transformar um sintoma temido em um sinal de alerta compreendido.
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