Inflação tende a se aproximar do teto da meta fixada para este ano
A se considerar as projeções do próprio mercado, em geral mais
“pessimista” em suas apostas, invariavelmente voltadas para pressionar o
Banco Central (BC) a manter sua política de juros escorchantes, a taxa de
inflação tende a encerrar o ano muito próxima do teto da meta estabelecida
para este ano, que define variação média de 3,0% com “tolerância” de 1,5
ponto percentual para cima ou para baixo. E, para algumas versões, já
disponíveis nas maiores “bancas” do setor financeiro, a inflação poderia
mesmo estacionar em algum ponto ligeiramente inferior ao teto – oh, santa
heresia!
De qualquer maneira, o índice inflacionário oficialmente adotado pelo País,
ao estabelecer sua temerária política de metas para aquele indicador, tende
a ficar próxima ou, com maior possibilidade de acerto, abaixo da taxa
acumulada nos 12 meses do ano passado, que atingiu 4,83%. Ao frigir dos
ovos, portanto, não será desta vez que se concretizarão as previsões mas
alarmistas em relação a uma suposta explosão inflacionária, que, a bem da
verdade, jamais esteve no cenário dado o comportamento dos preços em
geral ao longo deste ano.
Em sua medição mais recente, cobrindo o período entre 16 de setembro a
13 de outubro, em comparação com os 30 dias imediatamente anteriores, o
Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de outubro,
divulgado na sexta-feira, 24, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), apontou variação de 0,18%, em desaceleração quando
comparado ao índice “cheio” de setembro, que havia indicado variação de
0,48%. O mercado esperava, na mediana das previsões, algo em torno de
0,21% e mantinha, até o começo da semana, uma estimativa de 0,25% para
as quatro semanas “cheias” de outubro. O IPCA acumulado em 12 meses,
que havia se aproximado de 5,32% até 15 de setembro deste ano, na
aferição do IPCA-15 daquele período, passou a registrar variação de 4,94%
até 13 de outubro – lembrando que o IPCA mensal, em abril, havia
apontado elevação de 5,53% em 12 meses.
Trajetória descendente
A tendência sugere novas baixas para os meses finais do ano, já que a
inflação esperada para o último trimestre de 2025 tende a ser menor do que
aquela observada em igual período do ano passado, considerando aqui a
série histórica do IPCA e as previsões mais recentes contidas no relatório
Focus, por meio do qual o BC tenta aferir os “ânimos” do mercado e suas
expectativas futuras para a inflação e para a atividade econômica.
Considerando essas mesmas projeções, com uma ligeira correção para
baixo no caso da previsão para o IPCA de outubro, já que a “prévia” do
mês veio inferior ao esperado, a inflação acumulada no trimestre final deste
ano tende a se aproximar de 0,95% o que se compara com uma inflação de
1,48% nos três meses finais de 2024. O IPCA recuaria para algo em torno
de 4,62% no fechamento do ano, numa expectativa mais conservadora.
Balanço
Alguns departamentos econômicos ligados ao sistema bancário já
trabalham com a possibilidade de uma inflação dentro do teto da
meta, ou seja, ao redor de 4,50% e até mesmo abaixo disso, num
cenário de desaquecimento da economia e esvaziamento gradual das
pressões de demanda.
As diferenças, como argutamente notam as raras leitoras e os raros
leitores desta coluna, flutuam ali ao redor da segunda casa depois da
vírgula, num preciosismo de qualquer foram muito cultuado pelos
mercados (que não parecem muito se importar com “detalhes” do
tipo quando relações suspeitas com organizações nada ortodoxas
movimentam fortunas acima da casa dos bilhões de reais).
A desaceleração anotada nas duas primeiras semanas deste mês pelo
IPCA-15 reflete em medida relevante a mudança de direção nos
custos da energia elétrica residencial, compensando altas dos
combustíveis, aluguéis e o ritmo menor de queda observado para os
preços dos alimentos.
O salto de 10,31% na tarifa de energia ao longo de setembro havia
respondido por quase 85% do IPCA geral do período, resultado da
adoção do segundo nível da bandeira tarifária vermelha, que
acrescentou R$ 7,87 na conta de luz a cada 100 quilowatts/hora
consumidos, além de reajustes autorizados para algumas
concessionárias pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O adicional sobre as faturas de energia, desde o começo deste mês,
com a entrada em vigor do nível 1 da bandeira vermelha, foi
reduzida em 43,3%, para R$ 4,46 a cada 100 Kwh, influindo na
redução de 1,09% observada entre a segunda quinzena de setembro e
as duas primeiras semanas deste mês, a despeito de reajustes
regionais autorizados pela agência.
A redução nos preços dos alimentos perdeu velocidade, tendência
observada desde a segunda quinzena de agosto e ampliada agora,
com a “deflação” no setor saindo de 0,26% ao longo de setembro
para um recuo de 0,02% entre 16 de setembro e 13 de outubro – o
que corresponde muito mais a uma certa estabilização depois de 16
semanas de quedas em sequência. Os preços das carnes, leite, ovos,
arroz, açúcar e alguns tubérculos continuam apontando para baixo,
mas subiram o óleo de soja, frutas em geral e café moído.
Essa movimentação levou igualmente a uma redução na intensidade
de barateamento dos preços da alimentação em casa, que saiu de uma
taxa negativa de 0,41% nos 30 dias de setembro para recuo de 0,10%
nas quatro semanas encerradas no dia 13 deste mês. A alimentação
fora do domicílio, sob pressão dos custos de refeições e lanches,
anotou leve aceleração, saindo de 0,11% em setembro para 0,19%
nas duas primeiras semanas de outubro.
Combustíveis, aluguéis, passagens aéreas e gás de botijão, nesta
mesma sequência, passaram a pressionar o índice geral para cima.
Com alta de 3,09% para o etanol e de 0,05% para a gasolina no
IPCA-15 de outubro, os combustíveis aceleram o ritmo de alta de
0,87% em setembro para 1,16% nas quatro semanas finalizadas em
13 de outubro. A tendência é de que esses preços ainda pressionem o
IPCA até o fechamento do mês, mas essa tendência deve ser
arrefecida pela redução nos preços da gasolina anunciada pela
Petrobrás a partir de novembro.
O IPCA-15 de outubro em Goiânia experimentou a maior elevação
entre as capitais acompanhadas pelo IBGE, com alta de 1,30%
(depois de variação de 0,10% em setembro), precisamente por conta
de saltos de 23,80% para o etanol e de 10,36% nos preços da
gasolina. Apenas esses dois itens foram responsáveis por pouco mais
de 69% do índice geral.