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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Saúde pública

Dificuldade em agendar consultas pelo SUS gera frustração em Goiânia

Desde a suspensão do aplicativo “Saúde Fácil”, pacientes relatam demora e falta de retorno nos canais de atendimento para marcar consultas

Letícia Leitepor Letícia Leite em 6 de novembro de 2025
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Em nota, a SMS informou que o agendamento de consultas deve ser feito via telefone fixo pelo número 0800-646-1560 ou pelo WhatsApp (62) 3209-9727. Foto: Marcello Casal Jr./ABr

Após a descontinuação do aplicativo “Saúde Fácil”, os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) em Goiânia têm encontrado obstáculos para agendar consultas e exames. O jornal O HOJE recebeu denúncias de que os novos meios de comunicação disponibilizados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), como o WhatsApp e o número 0800, não têm funcionado de forma eficiente. Em muitos casos, pacientes aguardam por semanas, ou até meses, por uma resposta.

A goiana Thaynara Mesquita ilustra essa dificuldade. Ela conseguiu agendar uma consulta apenas em novembro, após tentar desde julho, mas conta que sua mãe ainda não obteve sucesso, mesmo após quatro meses de tentativas. “A gente manda mensagem, recebe resposta automática e depois fica esperando. Às vezes demora uma hora e meia para alguém responder, quando respondem”, relata.

Segundo a jovem, o processo se tornou burocrático e imprevisível. “Depende muito do dia. Tem dias que eles respondem, outros que não. Já mandei mensagem 6 horas da tarde e não obtive retorno. Também já liguei no 0800 e fiquei 20 minutos na linha até a ligação cair”, conta.

A usuária afirma que, antes da mudança no sistema, o atendimento era mais humanizado. “No início do ano, o agente perguntava o nome, o endereço e a unidade de preferência. Agora, são só mensagens automáticas. A gente precisa tentar todos os dias, insistindo, pra ver se alguém responde”, explica.

Mesmo com persistência, a demora permanece. Thaynara conseguiu marcar uma consulta com um clínico geral apenas em novembro, depois de quatro meses tentando, e diz que o mesmo problema afeta exames e atendimentos especializados. “Solicitei um check-up em janeiro e só consegui marcar para novembro. Fiz um exame ginecológico em maio e só consegui o resultado agora, cinco meses depois”, relata.

A situação da mãe de Thaynara é ainda mais delicada. Segundo ela, as tentativas de agendamento não avançam. “Minha mãe tenta desde julho e não consegue. Pelo WhatsApp não respondem, e pelo 0800 nem chama. É como se fosse por sorte conseguir uma vaga. E enquanto isso, a pessoa fica sem atendimento, mesmo precisando de uma especialidade”, diz.

Para ela, o problema não está na qualidade dos profissionais, mas na gestão do sistema. “Nós temos grandes profissionais, mas o acesso é muito precário. Às vezes compensa pagar um exame particular e parcelar no cartão do que esperar pelo SUS. Não é justo, porque quem depende do SUS deveria conseguir o mínimo de agilidade”, lamenta.

SMS informa contatos para marcar consultas

consultas
Foto: Divulgação/SMS

Em nota, a SMS informou que o agendamento de consultas deve ser feito via telefone fixo pelo número 0800-646-1560 ou via WhatsApp pelo número (62) 3209-9727, sendo que ligações de celular não são atendidas no 0800. Ambos os canais, segundo a pasta, são operacionalizados pelo Idtech.

A secretaria ressaltou que os usuários podem agendar consultas com clínico geral, ginecologista e pediatra nas unidades de atenção básica. Nos casos em que há necessidade de atendimento especializado, o encaminhamento é feito conforme a prioridade, e o Idtech entra em contato com o paciente para informar data e horário da consulta.

A SMS destacou ainda que está em fase final de implantação um novo aplicativo de agendamento, que deve substituir o “Saúde Fácil”, desativado pela gestão anterior. Enquanto isso, os cidadãos que enfrentarem dificuldades com o agendamento registrem reclamação na Ouvidoria da SMS, pelo telefone (62) 3030-4111.

Em nota enviada, o Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás (Sindsaúde/GO) reconhece que o sistema de regulação da saúde de Goiânia apresentou alguns avanços pontuais, porém os problemas estruturais e de acesso à saúde permanecem graves. “A situação é especialmente crítica na pediatria, onde há escassez de profissionais nas unidades de urgência e emergência, obrigando clínicos gerais a atenderem crianças em casos que exigem atendimento especializado”, informa.

Segundo eles, além disso, as filas e as demandas reprimidas nos agendamentos persistem, demonstrando que o atual sistema de regulação do município não é suficiente para garantir o acesso da população aos serviços de saúde. “É importante ressaltar que não falamos em nome da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, mas reafirmamos que é urgente ampliar a rede e a estrutura de atendimento, com a convocação de profissionais aprovados no último concurso público, além da realização de um novo certame, e melhores condições de trabalho”, continua a nota.

Sem investimento e expansão dos serviços, o sistema continuará sobrecarregado e a população seguirá sem o atendimento que merece. O sindicato afirma que tem buscado manter diálogo com a SMS e já propôs a criação da Mesa Municipal de Negociação Permanente do SUS (MMNP-SUS) para tratar dessas questões, mas essa medida ainda não foi efetivada. “A entidade segue firme na defesa de um SUS público, resolutivo e de qualidade, e continuará lutando para garantir atendimento digno aos usuários e condições de trabalho adequadas aos trabalhadores e trabalhadoras da saúde”, finaliza o documento.

A rotina de Thaynara e de muitos goianienses mostra que, embora o sistema esteja em transição tecnológica, os problemas persistem. Entre respostas automáticas, chamadas que não completam e longas esperas por exames, a população continua à espera de um atendimento que chegue com a agilidade e a dignidade que a saúde pública deve garantir.

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