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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Saúde

Anvisa aprova primeiro imunobiológico para tratar complicação renal grave do lúpus infantil

Em alguns pacientes, o lúpus compromete o funcionamento dos rins, resultando em um quadro conhecido como nefrite lúpica

Leticia Mariellepor Leticia Marielle em 10 de novembro de 2025
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Anvisa aprova primeiro imunobiológico para tratar complicação renal grave do lúpus infantil. | Foto: Reprodução/Freepik

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um novo medicamento voltado ao tratamento de uma das complicações mais graves do lúpus em crianças: a nefrite lúpica. A condição, provocada pela inflamação dos rins, pode evoluir para insuficiência renal, exigindo diálise ou transplante.

O fármaco, desenvolvido pela farmacêutica GSK, é o belimumabe, comercializado sob o nome Benlysta e representa o primeiro imunobiológico autorizado para uso em pacientes a partir dos 5 anos com comprometimento renal decorrente do lúpus eritematoso sistêmico.

Segundo o reumatologista, Antônio Fernandes, o lúpus é uma doença autoimune caracterizada pelo ataque das próprias células de defesa do organismo a tecidos saudáveis, provocando inflamações em diferentes partes do corpo. As manifestações podem atingir articulações, pele, rins, medula óssea, coração, pulmões, olhos e até o cérebro, com intensidade variável de acordo com cada paciente.

“Embora possa surgir em qualquer idade, o lúpus acomete com maior frequência mulheres entre 14 e 45 anos”, firma o médico. Nos casos mais leves, o diagnóstico costuma ser tardio, já que os sintomas podem se confundir com os de outras doenças. Entre os sinais mais recorrentes estão manchas avermelhadas na pele, especialmente no rosto, em formato de asa de borboleta, sensibilidade ao sol, febre persistente, mal-estar, perda de peso, dores abdominais e queda de cabelo. Também podem ocorrer feridas na boca e garganta, visão embaçada e dores articulares.

Em alguns pacientes, o lúpus compromete o funcionamento dos rins, resultando em um quadro conhecido como nefrite lúpica, além de afetar a saúde mental, levando a episódios de depressão ou psicose. As manifestações da doença costumam ocorrer em crises: períodos de intensificação dos sintomas seguidos por fases de melhora ou remissão. No entanto, há situações em que os sinais permanecem constantes, exigindo acompanhamento médico contínuo e tratamento individualizado para evitar danos progressivos aos órgãos.

No Brasil, estima-se que até 300 mil pessoas convivam com a doença. Embora o lúpus infantil seja menos frequente, tende a se manifestar de forma mais agressiva, elevando o risco de danos permanentes aos rins.

Pesquisas indicam que entre 40% e 80% das crianças e adolescentes com lúpus sistêmico podem desenvolver nefrite lúpica. A introdução do belimumabe no mercado nacional amplia as opções terapêuticas disponíveis e oferece uma nova perspectiva para o manejo clínico da doença, buscando reduzir complicações severas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes jovens.

Terapia biológica promete reduzir complicações

O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença autoimune crônica, sem cura definitiva, capaz de afetar múltiplos órgãos e sistemas do corpo. Entre os sintomas mais comuns estão manchas na pele, dores articulares, fadiga persistente e febre sem causa aparente. Embora possa parecer uma condição controlável, o perigo está em seu potencial de inflamar vasos, tecidos e órgãos, o que aumenta o risco de complicações graves, como derrames e falência renal.

Segundo especialistas, a forma infantil da doença costuma ser mais agressiva. Estima-se que metade das crianças já apresenta alterações renais no momento do diagnóstico, e até 80% possam desenvolver comprometimento nos rins com o passar dos anos. A médica vinculada à Sociedade Brasileira de Reumatologia destaca que o diagnóstico precoce é um dos maiores desafios nesse grupo, já que o acometimento renal é silencioso, sem dor ou sintomas evidentes, o que permite que as lesões evoluem até a perda irreversível da função renal quando o tratamento não é iniciado a tempo.

O manejo da doença em pacientes pediátricos enfrenta outros obstáculos, especialmente no tratamento. As terapias convencionais baseiam-se no uso prolongado de corticoides e imunossupressores, medicamentos que ajudam a conter a resposta imunológica, mas que trazem efeitos colaterais importantes. Além disso, a adesão é frequentemente comprometida pela necessidade de uso contínuo e pela dificuldade das crianças em engolir comprimidos grandes, o que pode levar ao abandono do tratamento.

Diante das limitações das abordagens tradicionais, cresce entre os reumatologistas a adoção das chamadas terapias biológicas. O belimumabe, um anticorpo monoclonal injetável que atua reduzindo a atividade de células de defesa autorreativas, é um dos principais representantes dessa nova geração de medicamentos. Já disponível no país para o tratamento do lúpus em adultos, o fármaco acaba de receber autorização para uso em crianças a partir dos cinco anos com nefrite lúpica.

De acordo com as novas diretrizes americanas e europeias, a recomendação é introduzir o belimumabe em casos graves com comprometimento de órgãos quando o tratamento convencional não produz resposta satisfatória. O objetivo é alcançar a remissão da doença, conter a inflamação nos rins e, sempre que possível, reduzir a dependência dos corticoides, ampliando a segurança e a qualidade de vida dos pacientes jovens.

Outros tipos de tratamento

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Outros tipos de tratamento para o lúpus envolvem abordagens individualizadas e acompanhamento contínuo com o reumatologista. | Foto: Reprodução/Freepik

Outros tipos de tratamento para o lúpus envolvem abordagens individualizadas e acompanhamento contínuo com o reumatologista, que define as estratégias conforme o tipo da doença, os sintomas e a frequência das crises. Embora ainda não exista cura, os avanços na medicina permitem controlar a atividade da enfermidade e reduzir complicações por meio da combinação de diferentes terapias.

Durante os períodos de crise, o tratamento tem como foco o alívio dos sintomas e a prevenção de danos aos órgãos. Anti-inflamatórios, como naproxeno e ibuprofeno, são frequentemente utilizados para reduzir dor, febre e inflamação nas articulações. Antimaláricos, como a hidroxicloroquina, auxiliam no controle da sensibilidade à luz, das manchas na pele, da queda de cabelo e das dores articulares.

Em casos mais graves, corticoides como prednisona e betametasona são indicados para conter inflamações severas e evitar complicações no sistema nervoso central ou no sangue. Já os imunossupressores, como azatioprina e metotrexato, são reservados para situações em que há risco à vida ou quando o uso isolado de corticoides não apresenta resultados satisfatórios.

Manter o uso correto das medicações e o acompanhamento médico regular é essencial para estabilizar o quadro, minimizar os efeitos colaterais e garantir melhor qualidade de vida aos pacientes.

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