O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Com economia em desaceleração, consultas ao BNDES caem 9,6%

Lauro Veiga Filhopor Lauro Veiga Filho em 21 de novembro de 2025
BNDES
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A conjuntura menos favorável ao investimento produtivo de longo prazo, influenciada principalmente pelas taxas de juros em níveis estratosféricos, tem reduzido a intenção das empresas de investir em novos projetos, seja para ampliar a capacidade já instalada, seja para criar novas plantas, com aquisição de máquinas e equipamentos. Segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM-PF) do IBGE, a produção de bens de capital — que inclui máquinas, equipamentos, caminhões, ônibus, computadores e estruturas industriais — encerrou o segundo e o terceiro trimestres deste ano com quedas de 2,2% e 2,4% em relação aos mesmos períodos do ano anterior.

O movimento revela claramente os impactos dos juros altos sobre o custo do crédito e, consequentemente, sobre a formação bruta de capital fixo, restringindo o crescimento futuro da economia. Na mesma direção, as consultas encaminhadas pelas empresas ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), etapa inicial para obtenção de financiamentos, também recuaram no terceiro trimestre deste ano, fazendo com que os nove primeiros meses de 2025 ficassem abaixo do registrado no ano passado, em valores reais (corrigidos até setembro deste ano).

Embora os dados do BNDES revelem comportamentos distintos entre setores — alguns mais resilientes, outros não — o resultado geral foi fortemente influenciado pela indústria de materiais de transporte, que havia apresentado expansão vigorosa no ano passado. Em termos reais, as consultas haviam caído 18,1% no primeiro trimestre deste ano e subido 28,8% no segundo, mas voltaram a recuar no terceiro trimestre, passando de R$ 139,991 bilhões para R$ 126,571 bilhões, uma queda de 9,59%, equivalente a R$ 13,420 bilhões.

Alta revertida

Com esse desempenho, o valor real das consultas acumuladas entre janeiro e setembro passou a indicar queda de 9,16% frente ao mesmo período do ano passado, recuando de R$ 274,055 bilhões para R$ 268,960 bilhões. Ainda assim, até o primeiro semestre o cenário era de avanço: alta de 6,21% em comparação aos seis primeiros meses de 2024, quando as consultas passaram de R$ 134,064 bilhões para R$ 142,389 bilhões, um ganho de R$ 8,325 bilhões — porém concentrado no segundo trimestre.

Balanço

• Entre os grandes setores, a indústria registrou o pior desempenho proporcional e absoluto, influenciada decisivamente pelo segmento de materiais de transporte. No terceiro trimestre, a indústria apresentou propostas somando R$ 42,266 bilhões, queda de 28,74% frente aos R$ 59,318 bilhões do mesmo período de 2024.

• A perda de R$ 17,052 bilhões no setor industrial é explicada sobretudo pelo tombo no segmento de materiais de transporte: as consultas despencaram de R$ 46,253 bilhões para R$ 14,096 bilhões, queda de 69,52% (menos R$ 32,157 bilhões). Excluindo esse setor, o restante da indústria mais do que dobrou as consultas, de R$ 13,065 bilhões para R$ 28,170 bilhões — alta de 115,61%.

• Aplicando o mesmo recorte para o total das consultas, também excluindo materiais de transporte, o BNDES mostra que os demais segmentos subiram de R$ 93,738 bilhões para R$ 112,475 bilhões, acréscimo de R$ 18,737 bilhões (cerca de 20% reais, acima da inflação).

• Em infraestrutura, a queda do segmento de energia elétrica — de R$ 8,280 bilhões para R$ 3,145 bilhões (–62,02%) — puxou o resultado geral. As consultas totais do setor caíram de R$ 35,991 bilhões para R$ 31,030 bilhões (–13,78%), perda de R$ 4,961 bilhões.

• Entretanto, transporte rodoviário e atividades auxiliares ampliaram consultas em 14,43% e 53,22%, respectivamente, passando de R$ 9,672 bilhões e R$ 8,708 bilhões para R$ 11,068 bilhões e R$ 13,343 bilhões.

• No acumulado de janeiro a setembro, a indústria reduziu as consultas de R$ 111,957 bilhões para R$ 82,544 bilhões (–26,27%). Novamente, o setor de materiais de transporte explica toda a queda: recuo de R$ 68,717 bilhões para R$ 37,042 bilhões (–46,1%). Parte do comportamento decorre do salto de 281,77% registrado nos nove primeiros meses de 2024 frente a 2023.

• Sem materiais de transporte, a indústria cresceu 5,23%, de R$ 43,240 bilhões para R$ 45,502 bilhões. Destaque para a metalurgia e produtos metálicos, onde as consultas passaram de R$ 3,758 bilhões para R$ 8,698 bilhões — alta expressiva de 131,45%.

• Em infraestrutura, as consultas avançaram 10,13%, saindo de R$ 74,071 bilhões para R$ 81,573 bilhões, impulsionadas pela alta de 19,62% no segmento de energia elétrica (de R$ 17,530 bilhões para R$ 20,970 bilhões).

• O grande movimento positivo veio das ferrovias: após despencarem de R$ 15,260 bilhões (2023) para menos de R$ 20 milhões (2024), as consultas saltaram para R$ 6,115 bilhões neste ano — o quarto maior valor da série histórica (desde 1995). Apenas em fevereiro, o setor concentrou R$ 5,566 bilhões (91% do total de 2025), indicando avanço de projetos ferroviários aguardados há anos.

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos canais de comunicação do O Hoje para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.