Show de Kanye West em São Paulo é cancelado após polêmica sobre discurso antissemitista
Evento que estava marcado para 29 de novembro no Autódromo de Interlagos foi vetado pela Prefeitura de São Paulo
A apresentação do rapper Kanye West, prevista para o dia 29 de novembro no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, foi oficialmente cancelada nesta quinta-feira (20). A decisão ocorre após polêmicas envolvendo o artista — entre elas, declarações antissemitas e elogios ao nazismo — e intervenção da administração municipal e do Ministério Público de São Paulo (MP-SP).
Segundo comunicado da produtora responsável, todos os esforços foram feitos para garantir o evento, com cachê pago e taxas para o uso do Autódromo quitadas. Ainda assim, a autorização para o espaço foi revogada de forma “unilateral” pela Prefeitura
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) tinha declarado que, em equipamentos públicos municipais, “ninguém que faça apologia ao nazismo vai tocar ou cantar nem uma palavra”. Ele reforçou que a cidade não permitia atividades desse tipo.
Por sua vez, a produtora afirmou que fez todo esforço necessário, “mesmo com o cachê do artista, taxas para uso do autódromo e demais despesas necessárias já estarem pagas, infelizmente, a autorização de uso do Autódromo de Interlagos foi revogada, unilateralmente, pela administração pública, escapando completamente da nossa esfera de atuação”, diz trecho do comunicado.
A produtora afirmou ainda que, além do rompimento do contrato para uso do espaço, ficou evidente que o clima político do município não permitiria a realização do espetáculo. “Não tivemos outra alternativa. Respeitamos muito os poderes constituídos, mas não concordamos com essa atitude, uma vez que um show dessa magnitude proporciona acesso à cultura, ao entretenimento e fomenta a economia da cidade.” Os ingressos já adquiridos continuam válidos para eventual nova data — ou podem ser reembolsados integralmente, conforme opção do comprador.
Ação no MP contra show de Kanye West
A ação do MP-SP complementou o movimento: foi instaurado um inquérito civil para impedir que o rapper promovesse discurso de ódio ou utilizasse símbolos nazistas durante o show de Kanye West. O documento foi assinado em 13 de outubro e aponta que o direito à liberdade de expressão “não é absoluto”. O uso de símbolos nazistas ou músicas antissemitas dirigidas ao grande público pode configurar crime de racismo ou discriminação.
Segundo a investigação conduzida pela Promotoria de Justiça de Direitos Humanos, o MP considera que há “alta probabilidade de futura discriminação que pode ser bastante disseminada, causando dano social e moral coletivo”.
A promotora Ana Beatriz Pereira de Souza Frontini afirmou que “a música ‘Heil Hitler’, o uso de camisetas ostentando a suástica ou qualquer outro símbolo nazista, dirigido ao grande público, em mídias sociais, ou qualquer outro veículo de comunicação, será sim, tipificado como crimes resultantes de preconceito de raça, de cor, etnia, religião ou procedência nacional.”
No documento, a Promotoria determinou ainda que a Polícia Militar mantivesse uma equipe de prontidão durante o show de Kanye West para prender o artista e os produtores em flagrante caso ele cometesse o crime de apologia ao nazismo.
Além disso, os responsáveis pelo evento poderiam responder a uma ação civil pública por danos morais coletivos, com indenização proporcional ao valor da promoção do espetáculo.
Segundo o MP, foram notificados o empresário Guilherme Cavalcante e o agente Jean Fabrício Ramos, conhecido como Fabulouz Fabz, identificados como responsáveis pela produção do evento “Urban Movement Festival 2025”.
As polêmicas de Kanye
Kanye West é alvo de críticas desde 2022, quando repetiu declarações antissemitas, elogiou Adolf Hitler em entrevistas e foi banido temporariamente de plataformas digitais. As falas resultaram em rompimentos comerciais de grandes marcas com o artista.
Durante a última Semana de Moda de Paris, Kanye West, também conhecido como “Ye”, usou uma camiseta com a frase “White Lives Matter” (“Vida Brancas Importam”), uma distorção do famoso slogan “Black Lives Matter”, símbolo dos protestos antirracistas de 2020 nos Estados Unidos.
Poucos dias depois, suas contas no Instagram e no Twitter foram suspensas após o artista postar mensagens consideradas antissemitas, que faziam referência a teorias da conspiração sobre a suposta influência da comunidade judaica.
“Vou usar você como exemplo para mostrar ao povo judeu que disse para você me ligar que ninguém pode me ameaçar ou influenciar”, escreveu Kanye West em uma conversa com o rapper Diddy, que criticou sua camisa.
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