Esquerda derrotada no Chile e fiasco da COP 30 ameaçam Lula
No último domingo (16), o Chile deu uma guinada à direita
Bruno Costa
No último domingo (16), o Chile deu uma guinada à direita. Apesar de ainda haver um segundo turno entre a comunista Jeannette Jara e o conservador José Antonio Kast, o resultado é, na prática, previsível: a vitória da direita. Os candidatos desse espectro político conquistaram, no primeiro turno, cerca de 70% dos votos válidos, reflexo direto do fracasso do governo Boric.
Eleito em dezembro de 2021 com a maior votação da história do Chile, Gabriel Boric chegou ao poder com a promessa de romper com a herança do pinochetismo e implantar um Estado de bem-estar social a partir de uma nova Constituição. Porém, o aumento dos índices de criminalidade, a piora da economia e a derrota no plebiscito da Constituinte, em setembro de 2022, enterraram o seu governo antes mesmo de completar um ano.
Resultado: o Chile se junta agora ao grupo de países sul-americanos — Argentina, Bolívia, Equador e Peru — que, nos últimos anos, viraram à direita. Esse alinhamento regional amplia o isolamento político do presidente Lula, que hoje conta, de fato, com poucos parceiros ideológicos no continente: o impopular Gustavo Petro, da Colômbia; o ditador Nicolás Maduro, da Venezuela; e o apagado Yamandú Orsi, do Uruguai.
Nem os Brics devem ajudar
Sem aliados consistentes na vizinhança para fazer frente ao governo de Donald Trump nos Estados Unidos, que já escolheu Javier Milei como seu parceiro prioritário na região, Lula busca manter proximidade com Xi Jinping, da China, e Vladimir Putin, da Rússia. No entanto, ambos enfrentam seus próprios dilemas.
Xi lida com uma série de problemas domésticos — da bolha imobiliária à deflação, do alto endividamento empresarial ao rápido envelhecimento da população — que limitam seu espaço de manobra. Já Putin continua atolado na guerra da Ucrânia, que já dura três anos, com milhões de baixas, dezenas de sanções econômicas e nenhuma garantia de vitória.
COP30 como tábua de salvação
Nesse contexto, Lula tentou usar a COP30, em Belém, como um grande palco internacional para se reposicionar como líder global, porém não teve êxito. Com um encontro esvaziado, marcado por problemas de segurança, de internet e até por um incêndio, a única coisa que Lula conseguiu, em duas semanas de conferência, foi uma carta da ONU com duras críticas à organização e uma gafe do chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, que comemorou publicamente ter saído o mais rápido possível de Belém.
O conjunto desses fatores expõe a fragilidade de Lula na geopolítica atual. A maré conservadora na América do Sul, o desgaste dos aliados tradicionais e a incapacidade de transformar grandes eventos em influência efetiva colocam o petista em um ponto de baixa tração diplomática, o que, em última instância, pode respingar em seu projeto de reeleição.
Enquanto isso, o Brasil, antes protagonista nas articulações regionais e globais, assiste ao enfraquecimento de sua influência — sem apresentar, até aqui, uma estratégia clara para revertê-lo.