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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Preços (e dólar) bem-comportados indicam inflação abaixo do esperado

Lauro Veiga Filhopor Lauro Veiga Filho em 27 de novembro de 2025
dólar
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Os mercados concluíram o exercício passado apostando em uma elevação discreta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao longo de 2025, projetando uma taxa de 4,96% na mediana das estimativas captadas pelo Banco Central (BC) no relatório Focus de 27 de dezembro. Na ocasião, as projeções sugeriam uma alta leve para este ano, cerca de 0,13 ponto percentual acima da inflação acumulada nos 12 meses de 2024, de aproximadamente 4,83%.

Mas o cenário mudou de forma significativa nos meses seguintes, impulsionado por ondas especulativas sobre o futuro da economia brasileira no curto prazo, tensões geopolíticas intensificadas pela expectativa em relação à nova administração dos Estados Unidos e, sobretudo, por um terrorismo fiscal alimentado de maneira recorrente pelo mercado financeiro e seus porta-vozes. Na primeira semana de março, as projeções do Focus já colocavam o IPCA em 5,68%, praticamente 2,68 pontos acima do centro da meta e 0,85 ponto maior que a inflação observada no ano anterior.

Essas previsões contribuíram para que o BC não ousasse reduzir a taxa básica de juros, mantendo o custo do dinheiro em um piso próximo de 15% ao ano. Na prática, os juros cobrados de empresas e famílias sempre estiveram muito acima disso — cerca de 21% ao ano para pessoas jurídicas e 36% para pessoas físicas no crédito livre. Ou seja, o arrocho tem sido ainda mais severo do que sugerem os já elevados juros oficiais.

Catastrofismo desmentido

As projeções do mercado, como costuma ocorrer, mostraram-se sistematicamente superiores ao comportamento real dos preços. Assim, mesmo os departamentos econômicos dos grandes bancos tiveram de se ajustar aos dados, revisando suas estimativas ao longo do segundo semestre. Entre o fim de junho e a semana encerrada em 21 de novembro, a previsão do IPCA para este ano caiu de 5,20% para 4,45%. Trata-se de um valor ligeiramente inferior ao teto da meta de 4,50%, o que dispensa o BC de enviar nova carta ao governo justificando eventual descumprimento.

Mais que isso, os dados reais desmentem a “escalada inflacionária” esperada por alguns setores, desmontando a narrativa catastrofista propagada durante o ano por parte da grande imprensa e analistas alinhados ao mercado.

Balanço

• A estimativa mais recente do Focus, fechada na sexta-feira (21), sugere inflação de 0,21% nas quatro semanas de novembro, praticamente igual à taxa de 0,20% observada no IPCA-15 referente ao período entre 14 de outubro e 13 de novembro.

• Segundo o setor financeiro, a inflação cheia deve subir para 0,47% em dezembro, comparada à alta de 0,52% no mesmo mês de 2024. No acumulado em 12 meses, a troca de um índice mais alto por outro um pouco mais baixo levaria ao IPCA de 4,45% neste ano.

• O IPCA-15 de novembro veio levemente acima das previsões — o mercado esperava 0,18% e o Itaú BBA projetava 0,17% — mas a diferença é irrelevante e não mudou a estimativa do banco para a inflação de 2025, mantida em 4,50%.

• De acordo com o IBGE, o IPCA caiu de 0,18% no fim de setembro/início de outubro para 0,09% em outubro, influenciado pela queda de 2,39% na energia elétrica residencial. Cerca de 80% da alta observada no início de novembro decorre apenas da redução mais lenta na tarifa, agora em queda de 0,38%.

• Houve ainda pressão das passagens aéreas (+11,87%) e da alimentação fora do domicílio (+0,68%), puxada por altas de 0,97% em lanches e 0,56% em refeições. Esses aumentos foram parcialmente compensados pela queda de 0,46% nos combustíveis.

• Excluídos alimentos e bebidas, combustíveis, energia e passagens aéreas, a variação dos demais preços tem se mantido próxima de 0,15% desde o fim de outubro.

• O cenário permanece favorável, com pressões menores em setores estratégicos. O Índice de Commodities do BC (IC-Br) recuou 0,26% em outubro e acumula queda de 10,5% no ano em reais, apesar de leve alta de 1,37% em dólares.

• O câmbio explica parte do alívio: o dólar caiu 3,32% entre julho e a média dos primeiros 26 dias de novembro, influenciado pelos juros altos no Brasil.

• O petróleo também recuou em novembro, entre 4,3% e 4,8% nos preços do WTI e do Brent na comparação entre o início do mês e o fechamento de ontem.

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