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sábado, 6 de dezembro de 2025

Governo gasta R$ 2,85 bilhões de seu caixa nos últimos 12 meses

Lauro Veiga Filhopor Lauro Veiga Filho em 6 de dezembro de 2025
Governo
Foto: Secom

Numa estratégia recentemente referendada pelo gestor fiscal, o governo decidiu utilizar, neste ano, parte do caixa bilionário acumulado para acelerar despesas correntes e investimentos. Não parece ser coincidência a mudança no direcionamento definido para a gestão fiscal em um momento de intensificação do ativismo político exercitado pela principal liderança governamental. De toda forma, como já registrado por este espaço, há alguma “gordura” a ser queimada pelo Estado, apesar da deterioração fiscal em curso e mesmo que o desempenho recente do governo estadual nessa área possa afetar avaliações futuras da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) sobre a capacidade de o Estado honrar o pagamento de compromissos relacionados à dívida consolidada.

Em outubro do ano passado, apenas para comparação, as disponibilidades líquidas de caixa do Estado haviam alcançado algo ao redor de R$ 18,275 bilhões, equivalente a 43,7% da receita corrente líquida acumulada em 12 meses. O valor já descontava restos a pagar processados, depósitos sujeitos a restituição e montantes vinculados a convênios e contratos. No mesmo mês deste ano, as “sobras” no caixa registraram queda nominal de 15,61%, recuando para pouco menos de R$ 15,423 bilhões e se aproximando de 34,27% da receita corrente líquida.

A comparação entre os dois períodos mostra que o governo estadual lançou mão de R$ 2,852 bilhões de seu caixa — valor ainda inferior ao déficit primário de R$ 3,387 bilhões acumulado nos 12 meses encerrados em outubro deste ano. A piora nas contas pode ser observada ao se comparar esse déficit com o superávit de aproximadamente R$ 2,750 bilhões registrado entre novembro de 2023 e outubro de 2024. Nesse caso, houve deterioração de R$ 6,137 bilhões, algo como 13,63% da receita corrente líquida registrada no período, em torno de R$ 45,035 bilhões, e equivalente a 39,79% das disponibilidades de caixa registradas naquele mês.

Sinal de cautela

O gradual esvaziamento do caixa e o leve incremento da dívida consolidada bruta contribuíram para que o endividamento líquido estadual experimentasse forte alta nos 12 meses avaliados — passando de aproximadamente R$ 8,795 bilhões para R$ 12,694 bilhões, um avanço de 44,33%, ou R$ 3,899 bilhões. Esse montante corresponde ao déficit nominal do período, calculado com base na variação da dívida consolidada líquida (“abaixo da linha”). Conforme os manuais de gestão fiscal, a dívida cresce quando há insuficiência de receitas para cobrir todas as despesas, incluindo juros e amortizações, gerando novos déficits nominais.

Nos 12 meses finalizados em outubro de 2024, por exemplo, a dívida líquida havia sido reduzida em 16,80%, resultando em superávit nominal de R$ 1,776 bilhão. O comportamento mais recente, no entanto, deve ser interpretado como sinal de alerta, exigindo cautela na gestão das contas estaduais daqui para frente.

Balanço

Apesar da piora, os números ainda não configuram situação de emergência nem indicam agravamento estrutural irreversível. Pela legislação e resoluções do Senado, a dívida consolidada líquida poderia crescer até pouco mais de quatro vezes, chegando a R$ 53,503 bilhões, limite equivalente a 120% da receita corrente líquida ajustada.

Até outubro deste ano, a relação entre dívida líquida e receitas alcançou 28,20% — acima dos 21,04% do ano anterior, mas ainda distante do teto regulatório. O dado mais preocupante aparece no desempenho da poupança corrente, que segue em queda acentuada, refletindo crescimento mais forte das despesas correntes do que das receitas.

O artigo 167-A da Constituição Federal, incluído em 2021, estabelece que a relação entre despesas e receitas correntes deve obedecer ao teto de 95%, como forma de preservar o equilíbrio fiscal e garantir margem para investimentos e políticas públicas sustentáveis — segundo definição da Secretaria da Economia de Goiás.

Acima desse limite, o Estado entra em situação de alerta fiscal, o que obriga o gestor a adotar medidas para reverter o quadro, como proibição de concessão de vantagens e reajustes ao funcionalismo (exceto decisões judiciais), veto à criação de novos cargos, restrições a novas contratações e impedimento de novas operações de crédito.

Em Goiás, o percentual se aproximou ainda mais do teto, atingindo 92,67% em outubro deste ano (contra 84,86% no mesmo mês de 2023), superando o limite de alerta de 85%.

A despesa corrente liquidada nos 12 meses até outubro somou R$ 44,849 bilhões — alta de 17,53% em relação ao ano anterior. Os restos a pagar não processados chegaram a R$ 677,094 milhões, aumento de 15,96%. Somando essas duas rubricas, os compromissos correntes passaram de R$ 38,742 bilhões (2023–2024) para R$ 45,526 bilhões (últimos 12 meses), variação de 17,51%, equivalente a R$ 6,784 bilhões adicionais.

As receitas correntes cresceram apenas 7,61% no mesmo período — de R$ 45,656 bilhões para R$ 49,129 bilhões, aumento nominal de R$ 3,472 bilhões. Com isso, a poupança corrente despencou de R$ 6,915 bilhões para R$ 3,603 bilhões, queda de 47,89% (R$ 3,311 bilhões a menos). A relação entre poupança corrente e receita caiu de 15,14% para 7,33%.

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