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sábado, 13 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Gayer cai na mão de Moraes e embola campanha ao Senado

Ele admite ser cheio de traumas: sua cunhada é do PCdoB, seu bisavô se suicidou dentro da Câmara dos Deputados, ele e seu irmão se envolveram em mortes e agora está junto com o filho a um passo da condenação pelo maior algoz de seu espectro político

Nilson Gomespor Nilson Gomes em 13 de dezembro de 2025
Gayer
A Polícia Federal o acusa de quatro crimes que podem levar o ministro Alexandre de Moraes a condená-lo a ¼ de século cumprindo pena Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

O indiciamento do deputado federal Gustavo Gayer (PL) vai mexer com as pré-campanhas dos muitos pretendentes ao Senado por Goiás em 2026. A Polícia Federal, como se lerá mais adiante, o acusa de quatro crimes que podem levar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a condená-lo a ¼ de século cumprindo pena. Serão abertas duas vagas de senador e ele é um dos favoritos, ao lado da primeira-dama Gracinha Caiado (União Brasil), o que deixaria embolada a disputa.

Um dos efeitos da condenação é a perda da elegibilidade, um palavrão que significaria a retirada de Gayer do próximo pleito. Se não puder concorrer, deve indicar alguém de seu grupo no PL, possivelmente o ex-deputado estadual Fred Rodrigues, que perdeu a Prefeitura de Goiânia para Sandro Mabel (União Brasil) no ano passado. Sua saída vai mexer também com outras siglas. Estão no páreo, além de outra meia dúzia, os atuais ocupantes das cadeiras, Vanderlan Cardoso (PSD) e Jorge Kajuru (PSB).

Graves perrengues na biografia dos Gayer

A trajetória da família de Gayer é marcada por tribulações como a que está sofrendo atualmente. A foto principal da página 12 do jornal A Noite, de 9 de julho de 1953, é de um caixão sendo embarcado no Rio de Janeiro, então capital federal. Destino: Goiânia. Lá dentro, o corpo de Plínio Gayer, que no dia anterior havia se suicidado numa sala ao lado do plenário da Câmara dos Deputados, apelidada de “furna da onça”.

A qualidade da impressão é muito ruim, mas o texto esclarece que estavam na imagem diversas autoridades, entre elas o chefe da Casa Militar da Presidência da República, Aguinaldo Caiado de Castro, marechal herói da 2ª Guerra e da confiança do presidente Getúlio Vargas.

Castro foi senador pelo Rio de Janeiro, parente do governador Ronaldo Caiado e sogro de Thales de Aquino Coelho, pai de Aguinaldo Coelho, artista plástico que foi secretário de Cultura de Goiás no 3º governo de Marconi Perillo.

Plínio Gayer foi prefeito em Caiapônia (GO) e Camanducaia (MG), onde também foi vereador. Sua neta Conceição Gayer foi vereadora e presidente da Câmara em Goiânia e deputada estadual em Goiás. Além de Gustavo, é mãe de Frederico, marido da deputada estadual por 16 anos Luana Ribeiro (PCdoB-TO), órfã do senador João Ribeiro (PL-TO) e enteada de Cintia Ribeiro, prefeita de Palmas (TO) até o ano passado e atual presidente nacional do PSDB Mulher.

Tiros fatais na boate de Goiânia

Os filhos da delegada da Polícia Civil Conceição Gayer se envolveram em homicídios. Em 2014, Frederico foi condenado por matar a tiros um empresário na antiga boate Draft, em Goiânia. Gustavo se envolveu em dois acidentes com mortes, um na Avenida 85, em Goiânia, outro em Rialma, às margens da BR-153, no Vale do São Patrício. Diz que ficou traumatizado.

Realmente, essas tragédias ao longo das gerações dos Gayer têm potencial para perturbar a mente. Porém, as preocupações surgidas nesta semana possuem o condão de mexer não somente com o deputado, mas com as próprias eleições de 2026. Gustavo Gayer atribui à pretensão de ser senador, e ao favoritismo nas pesquisas, seu indiciamento pela Polícia Federal.

Direto para a única e última instância

Como Gayer tem foro por prerrogativa de função, o processo vai para o Supremo Tribunal Federal, caso a Procuradoria-Geral da República ofereça a denúncia. O que em mandatos anteriores era uma forma de proteger o mandato se transformou num pesadelo, porque os parlamentares federais são julgados diretamente pela única instância que os impede de recorrer, o STF. Cai diretamente na mão que afaga e, às vezes, apedreja, sempre em definitivo.

O deputado do PL teria pago com dinheiro público, origem do repasse da Câmara como verba de gabinete, a locação de um prédio em Goiânia que abrigaria loja de seu filho Gustavo Sander Gayer e escola de inglês. Em outubro de 2024, às vésperas das eleições de prefeito, Gayer pai sofreu busca e apreensão, da qual resultou a colheita de provas apresentadas pela PF. O ministro do STF que vai julgá-lo é Alexandre de Moraes, que tem sido o maior inimigo dos bolsonaristas.

Até 25 anos de cadeia

Considerado o máximo da pena, porque Moraes tem a caneta pesada, Gayer pode pegar 25 anos de cadeia pelos quatro delitos previstos no Código Penal que os agentes policiais dizem ter identificado. Não se pode descartar o ¼ de século, pois por muito menos o ex-presidente Jair Bolsonaro, de quem Gayer é aliado, conseguiu do ministro mais de 27 anos e já começou a cumprir a pena.

As condenações máximas do deputado podem ser:
3 anos por associação criminosa (“associarem-se três ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes”);

cinco anos (mais multa) por falsidade ideológica (“omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante”);

cinco anos (mais multa) por falsificação de documento particular;

12 anos (mais multa) por peculato (“apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio”).

Fake news na família pode ter provocado suicídio

Gustavo Gayer tem o que, na linguagem da internet, se chama haters, que no inglês vem de ódio. Uma multidão o segue, outra o persegue. Na CPI da Covid, foi acusado de se aproveitar de notícias falsas para ganhar dinheiro em suas redes sociais. No passado, as fake news podem ter custado a vida de Plínio Gayer, seu bisavô.

Gayer
Gustavo Gayer tem o que, na linguagem da internet, se chama haters, que no inglês vem de ódio. Uma multidão o segue, outra o persegue
Foto: Bruno Spada/ Câmara dos Deputados

Está na mesma edição do jornal A Noite, de 9 de julho de 1953:

“A suspeita de que estava sofrendo de grave enfermidade (câncer na bexiga, o que, aliás, não foi confirmado pela autópsia), levou ao suicídio, ontem, à tarde, numa sala dos fundos do plenário da Câmara Federal, o deputado Plínio Gayer, que, apesar de representante do Goiás no Congresso Nacional, era natural do Rio Grande do Sul”.

A reportagem “constata” nexo entre as fofocas sobre sua doença e o resultado morte:

“Médico, também, e vivamente impressionado com o sangue que vinha perdendo desde algum tempo pela urina, não suportou o deputado Plínio Gayer a tensão que passou a viver, com a suposição da existência de um câncer, escolhendo como porta de escape o suicídio”.

O jornal ouviu o legista José Alves de Assunção, que “informou haver constatado que o suicida não sofria de câncer renal, como também não tinha outra espécie de câncer, estando todos os seus órgãos livres do mal”.

No início, pensou-se que a tragédia tivesse sido provocada pelo manuseio de arma, pois à época era comum. Descreve A Noite:


“Eram precisamente 15h30. Estava na tribuna da Câmara o deputado paulista Herbert Levy, e os debates iam animados, quando se ouviu um estalido seco e rápido, o que chamou a atenção de alguns, apesar do interesse do assunto em discussão. Menos de um minuto depois, movimento desusado se registrava nos fundos do plenário e de lá se precipitava o Sr. Artur Santos, visivelmente perturbado, que se encaminhou para um dos microfones laterais e disse, com voz insegura:


— Sr. Presidente, parece-me que um fato sumamente grave aconteceu. Deve a sessão ser…


Mal terminava a frase, quando outra voz se fez ouvir, já o plenário todo em alvoroço:


— Há um deputado morrendo, Sr. Presidente. Trata-se do Sr. Plínio Gayer, que está ferido no coração. Parece tratar-se de acidente…”

“Confusão: acidente ou suicídio?”

 “Nos primeiros instantes, reinou a mais completa confusão. Ninguém sabia informar se fora um simples acidente ou suicídio. O cadáver apresentava um pequeno orifício bem sobre o mamilo esquerdo, em cima do coração”.

 

Legenda: Gustavo Gayer tem o que, na linguagem da internet, se chama haters, que no inglês vem de ódio. Uma multidão o segue, outra o persegue

 

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