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segunda-feira, 22 de dezembro de 2025
Atenção na saúde

Dor na coluna deixa de ser problema da 3ª idade e avança entre jovens

Pesquisas indicam que 8,7% dos brasileiros entre 18 e 29 anos já convivem com dores crônicas nas costas

Renata Ferrazpor Renata Ferraz em 22 de dezembro de 2025
Dor na coluna
Freepik/O aumento das dores reflete mudanças no estilo de vida e acende alerta para prevenção precoce de problemas crônicos

A dor na coluna, historicamente associada ao envelhecimento e ao desgaste natural do corpo, deixou de ser um problema restrito a adultos mais velhos e passou a atingir, com frequência crescente, adolescentes e adultos jovens.  Clínicas médicas e serviços de fisioterapia em todo o País relatam um aumento significativo de pacientes entre 18 e 30 anos com queixas persistentes de dor cervical e lombar, muitas vezes acompanhadas de limitação funcional, queda de produtividade e impacto direto na qualidade de vida. 

Especialistas alertam que o fenômeno reflete transformações profundas no estilo de vida contemporâneo e exige atenção precoce para evitar a progressão de quadros crônicos.

Pesquisas científicas confirmam essa tendência. Uma análise internacional que reuniu dados de mais de 25 estudos, com cerca de 43 mil participantes, identificou que permanecer sentado por mais de seis horas por dia está fortemente associado ao aumento do risco de dor no pescoço, com chance até 88% maior em comparação a indivíduos menos sedentários.

Outro estudo, envolvendo mais de 57 mil crianças e adolescentes, apontou que cada hora adicional diária de uso do computador eleva em aproximadamente 8,2% o risco de dor lombar nessa população.

No Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde mostra que 8,7% dos jovens entre 18 e 29 anos já convivem com dores crônicas nas costas. Embora o percentual seja menor do que o observado em faixas etárias mais avançadas, especialistas destacam que o dado é preocupante por indicar o início precoce de um problema que tende a se intensificar ao longo da vida adulta caso não haja mudanças de comportamento e prevenção adequada.

Mudança no perfil dos pacientes e influência do estilo de vida moderno

O Neurocirurgião e médico-cirurgião da coluna vertebral Breno Barbosa do Hospital Mater Dei Goiânia, explica que o perfil dos pacientes com dor na coluna mudou de forma significativa nos últimos anos, acompanhando transformações no modo de viver, estudar e trabalhar. 

“Antes, a dor lombar e cervical estava muito associada ao envelhecimento. Hoje, atendemos adolescentes e adultos jovens, especialmente entre 18 e 30 anos, com queixas semelhantes às que víamos apenas em idosos”, afirma.

Segundo o especialista, as causas mais frequentes envolvem a permanência prolongada em posição sentada, a postura inadequada durante o uso de celulares, computadores e notebooks, além do sedentarismo e da fraqueza muscular. 

“O uso excessivo de telas, principalmente com a cabeça projetada para frente, gera uma sobrecarga importante na coluna cervical. Já a dor lombar tem relação direta com baixo condicionamento físico e musculatura enfraquecida, que deixa a coluna mais vulnerável a sobrecargas diárias”, explica.

Barbosa ressalta que exercícios intensos sem orientação adequada também contribuem para o aumento das queixas. Jovens que praticam musculação pesada, crossfit ou treinos de alta intensidade sem acompanhamento profissional podem desenvolver lesões por sobrecarga ou execução incorreta dos movimentos. “Não é a atividade física que causa o problema, mas a falta de orientação, preparo e progressão adequada dos exercícios”, pontua.

Embora o termo “epidemia silenciosa” seja frequentemente utilizado, o médico esclarece que se trata de uma expressão figurativa. “O que observamos é um aumento expressivo da prevalência de dor nas costas entre jovens em comparação com décadas passadas. O estilo de vida atual é um dos principais responsáveis por esse avanço”, afirma. 

Estudos científicos indicam que comportamentos sedentários estão associados a maior risco de dor na coluna em todas as faixas etárias, reforçando a necessidade de prevenção desde cedo.

Home office sem ergonomia aumenta risco de dor na coluna

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Freepik/ Postura inadequada e longos períodos sentados em frente a telas estão entre os principais fatores de crescimento das dores

O crescimento do trabalho remoto também entrou no centro do debate. Em 2024, cerca de 6,5 milhões de brasileiros trabalhavam em regime de home office ou híbrido, o equivalente a 7,9% da população ocupada, segundo dados da PNAD Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Embora o número tenha recuado após o pico da pandemia, especialistas alertam que muitos jovens seguem trabalhando em ambientes improvisados, sem ergonomia adequada, o que favorece o surgimento e a persistência das dores na coluna.

“O trabalho remoto contribui quando há longos períodos em frente ao computador, poucas pausas e mobiliário inadequado. Cadeiras erradas, mesas fora da altura ideal e telas mal posicionadas aumentam o risco de dor cervical e lombar”, destaca Barbosa. 

Segundo ele, pequenas mudanças no ambiente já produzem impacto positivo, como ajustar a altura da tela ao nível dos olhos, manter os pés apoiados no chão, utilizar cadeiras com suporte lombar e alternar a posição ao longo do dia, evitando permanecer sentado por períodos prolongados.

Além da ergonomia, o especialista recomenda pausas regulares a cada 50 ou 60 minutos para alongamento e movimentação do corpo, bem como a inclusão de exercícios de fortalecimento e mobilidade na rotina. 

“Não basta ter uma boa cadeira se a pessoa passa horas sem se levantar. O movimento é essencial para a saúde da coluna”, reforça. A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de 80% da população mundial sofrerá com dor na coluna em algum momento da vida.

O diagnóstico da dor na coluna começa com avaliação clínica detalhada e exame físico neurológico. Exames de imagem, como radiografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética, são indicados em casos específicos, principalmente quando a dor persiste por mais de quatro a seis semanas ou há sinais neurológicos. “O exame de imagem auxilia, mas não substitui a avaliação clínica, que é fundamental”, ressalta o especialista.

A maioria dos casos de dor na coluna responde bem ao tratamento conservador, com uso criterioso de medicação, fisioterapia e reabilitação ativa. A cirurgia é reservada para situações mais graves, como déficit neurológico progressivo, dor incapacitante sem resposta ao tratamento clínico ou síndromes específicas que exigem intervenção imediata.

Especialistas alertam ainda para erros comuns cometidos por jovens, como repouso excessivo, automedicação prolongada, negligência com a postura e abandono da atividade física. “Ficar parado piora a fraqueza muscular e prolonga a dor”, explica Barbosa. 

Para ele, a prevenção deve começar cedo, com fortalecimento do core, pausas regulares durante o trabalho, ergonomia adequada e prática constante de exercícios. “Cuidar da coluna na juventude é fundamental para garantir qualidade de vida na fase adulta e na velhice”, conclui.

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