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segunda-feira, 29 de dezembro de 2025
prejuízos à agricultura

Avanço de javalis acende alerta ambiental e produtivo em Goiás

Espécie exótica invasora já provoca prejuízos à agricultura, ameaça nascentes e pressiona áreas sensíveis do Cerrado, como o entorno da Chapada dos Veadeiros

Micael Silvapor Micael Silva em 29 de dezembro de 2025
Goiás
Foto: Divulgação

A presença crescente de javalis (Sus scrofa) em Goiás deixou de ser um problema pontual e passou a representar um desafio ambiental, produtivo e institucional. Considerado uma das cem piores espécies exóticas invasoras do mundo pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), o animal tem causado prejuízos à agricultura, danos a propriedades rurais e riscos à biodiversidade no Cerrado goiano, especialmente em áreas próximas a unidades de conservação.

Introduzido no Brasil na década de 1960 para criação comercial, o javali se espalhou rapidamente graças à alta capacidade de adaptação, reprodução acelerada e à ausência de predadores naturais. Nos últimos meses, produtores rurais de Goiás relatam destruição de lavouras de milho e soja, danos a cercas e estruturas, além de ataques a criações domésticas, como chiqueiros de suínos.

A agressividade da espécie e o comportamento invasivo ampliam o impacto não apenas econômico, mas também ambiental. Em regiões onde o Cerrado já sofre forte pressão, a expansão do javali aumenta o risco de degradação de áreas sensíveis e compromete a sustentabilidade do sistema produtivo rural.

Monitoramento intensificado em áreas sensíveis

Diante do avanço da espécie, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) intensificou o monitoramento no entorno do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, uma das unidades de conservação mais estratégicas do Cerrado.

As ações incluíram vistorias em 28 propriedades rurais localizadas em seis municípios: Alto Paraíso de Goiás, São João da Aliança, Colinas do Sul, Nova Roma, Teresina de Goiás e Cavalcante. Segundo registros oficiais, a ocorrência do javali está atualmente concentrada no centro-sul de Alto Paraíso de Goiás, em área contígua ao parque.

Goiás
Foto: Divulgação/Ibama

Além dos prejuízos econômicos, técnicos identificaram impactos ambientais diretos, como degradação de nascentes e de Áreas de Preservação Permanente (APPs), o que eleva a preocupação com a integridade dos ecossistemas locais.

Produtores no centro da estratégia de controle

A principal resposta das autoridades ambientais passa por uma estratégia considerada decisiva: envolver diretamente os produtores rurais no monitoramento e no controle da espécie. A proposta é criar uma rede de colaboração entre órgãos públicos, agricultores e entidades do terceiro setor, transformando quem vive no campo em parte ativa da solução.

A avaliação técnica é de que agir rapidamente é fundamental para evitar que o javali se espalhe para novas regiões ou avance sobre áreas ainda preservadas do Parque Nacional. As informações coletadas nas propriedades devem subsidiar o mapeamento de rotas de invasão, permitindo ações preventivas mais eficientes e direcionadas.

Debate sobre o modelo de controle ganha força

O avanço do javali também reacendeu o debate sobre a eficácia do atual modelo de controle, hoje centralizado em normas federais. Associações ligadas ao manejo da espécie defendem maior autonomia dos estados, argumentando que a realidade local exige respostas mais rápidas e adaptadas.

Goiás
Foto: Divulgação

Por outro lado, órgãos ambientais avaliam que ainda faltam dados técnicos consistentes, como estudos populacionais e de dispersão, para embasar mudanças estruturais no modelo de gestão. O Ibama reconhece lacunas históricas, mas afirma estar reestruturando sistemas de monitoramento e ampliando o diálogo com estados e parceiros técnicos.

Problema nacional, resposta urgente

A experiência no entorno da Chapada dos Veadeiros é vista como um possível modelo para outras regiões do país, onde o javali também avança sobre áreas produtivas e ambientais. A meta é fortalecer uma política permanente de vigilância da fauna exótica invasora, reduzindo prejuízos econômicos, riscos sanitários e danos ambientais.

Para o produtor rural, o alerta é claro: o javali deixou de ser um problema distante. Sua expansão ameaça lavouras, infraestrutura, nascentes e a biodiversidade. Como mostra o cenário em Goiás, o enfrentamento exige integração entre campo, ciência e poder público, com ações rápidas antes que o impacto se torne irreversível.

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