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terça-feira, 30 de dezembro de 2025
Desigualdade econômica

Endividamento expõe desigualdade racial no início do ano no Brasil

Endividamento e desigualdade se encontram em janeiro

Luana Avelarpor Luana Avelar em 30 de dezembro de 2025
endividamento
Foto: Reprodução/Black Enterprise

O calendário avança, mas as contas permanecem. Para milhões de brasileiros negros, o início do ano não simboliza recomeço financeiro, mas a intensificação de um processo recorrente de endividamento, alimentado por renda insuficiente, crédito caro e desigualdade estrutural. Janeiro concentra cobranças que não podem ser adiadas e torna visível um problema que atravessa o ano inteiro.

Dados da Serasa mostram que o Brasil encerra o ano com mais de 72 milhões de pessoas inadimplentes, número que tende a crescer nos primeiros meses do ano. O valor médio das dívidas supera 4,5 mil reais, concentradas principalmente em cartão de crédito, contas básicas e empréstimos pessoais. O crescimento da inadimplência no primeiro trimestre não é episódico: reflete um modelo econômico que empurra famílias para o uso contínuo do crédito.

Endividamento atinge mais quem ganha menos

A distribuição desse impacto é desigual. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE), pessoas negras apresentam rendimento médio inferior ao de pessoas brancas e maior exposição ao trabalho informal e à instabilidade de renda. Isso reduz a capacidade de absorver gastos sazonais e torna o endividamento uma resposta quase automática às despesas concentradas no fim e no início do ano.

Em dezembro, despesas com alimentação, transporte e apoio familiar pressionam o orçamento. Em janeiro, entram impostos como IPVA e IPTU, matrícula e material escolar, além de reajustes em serviços essenciais. Sem margem financeira, o crédito passa a cobrir gastos básicos, não investimentos ou consumo planejado.

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Crédito caro transforma dívidas em ciclo permanente

O problema se agrava pelo custo do crédito. Dados do Banco Central indicam que, em 2024, os juros do cartão de crédito rotativo ultrapassaram 430% ao ano, enquanto o cheque especial permaneceu acima de 130%. Para famílias de baixa renda, majoritariamente negras, essas são as modalidades mais acessíveis, aprofundando o endividamento de curto prazo em compromissos duradouros.

Levantamentos do SPC Brasil mostram que essas famílias comprometem parcela maior da renda com dívidas e têm menos acesso a renegociações vantajosas. O resultado é um ciclo no qual o endividamento deixa de ser exceção e se consolida como mecanismo de sobrevivência.

Quando janeiro revela o que o ano esconde

Mais de 77% das famílias brasileiras estão endividadas, segundo o Banco Central. O dado agregado, porém, oculta desigualdades. Para brasileiros negros, o endividamento recorrente não nasce em janeiro. Ele apenas se torna mais visível quando o ano começa, expondo um sistema que transfere riscos às famílias e lucra com a urgência de quem já vive sob pressão econômica.

O início do ano não cria a crise. Apenas revela, mais uma vez, um modelo que insiste em se repetir.

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