Promessas de Ano Novo revelam o peso da sobrevivência no Brasil
Entre dívidas, saúde fragilizada e renda curta, planos para 2026 expõem limites do planejamento
Todo início de ano carrega a expectativa de mudança. Mas, para milhões de brasileiros, as promessas feitas para 2026 dizem menos sobre sonhos e mais sobre contenção de danos. Pesquisa recente da Serasa, realizada com mais de mil pessoas em todas as regiões do país, mostra que organizar a vida financeira aparece como a principal meta do novo ano, à frente de projetos ligados a consumo, carreira ou lazer.
Quase metade dos entrevistados (49%) afirma que pretende manter as contas em dia. Outros 38% dizem querer controlar melhor o orçamento mensal, enquanto 29% planejam economizar parte da renda e 21% mencionam o desejo de investir. As promessas, nesse cenário, não apontam para expansão, mas para a busca de estabilidade mínima em um contexto de endividamento elevado e custo de vida pressionado.
Promessas atravessadas pelas dívidas
Os dados ajudam a dimensionar o problema. Hoje, mais de 70 milhões de brasileiros convivem com algum tipo de dívida, segundo a própria Serasa. Para essa parcela da população, as promessas de Ano Novo não envolvem grandes viradas, mas a tentativa de atravessar os próximos meses sem atrasos, juros ou renegociações sucessivas.
Janeiro concentra despesas que não podem ser adiadas: impostos, material escolar, matrícula, reajustes de serviços básicos. Para quem vive com orçamento apertado, qualquer planejamento se torna frágil. A pesquisa mostra que apenas quatro em cada dez brasileiros revisitam as metas definidas no começo do ano, o que ajuda a explicar por que tantas promessas se dissolvem ainda no primeiro trimestre.
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Saúde entra na lista, mas encontra obstáculos
Cuidar da saúde segue entre as metas mais citadas. Emagrecer, praticar atividades físicas e adotar hábitos mais saudáveis aparecem com frequência entre as promessas, mas esbarram em limitações conhecidas: jornadas longas, acesso desigual a serviços, insegurança financeira e cansaço acumulado.

Especialistas apontam que o abandono dessas metas não deve ser lido como falha individual. As promessas refletem prioridades impostas pela realidade econômica e social. Em um país marcado por desigualdades estruturais, planejar envolve lidar com renda instável, trabalho informal e pouco tempo disponível.
No Brasil, as promessas funcionam como um termômetro do presente. Não falam de excessos, mas de contenção. Não miram o extraordinário, mas o possível. Mais do que um ritual de virada, elas revelam um esforço coletivo para tornar o cotidiano menos imprevisível em um cenário que continua exigindo resistência.
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