A “arapuca” armada por Campos Neto para sabotar a queda dos juros
Em meio à ofensiva já nítida desde abril para reverter a política de cortes de meio ponto percentual na taxa básica de juros, uma trajetória já tímida e insuficiente para liberar trilhões de reais estacionados no mercado financeiro para financiar o crescimento da economia, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, dedicou-se a […]
Em meio à ofensiva já nítida desde abril para reverter a política de cortes de meio ponto percentual na taxa básica de juros, uma trajetória já tímida e insuficiente para liberar trilhões de reais estacionados no mercado financeiro para financiar o crescimento da economia, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, dedicou-se a colocar mais lenha na fogueira. Numa fala endereçada aos donos do dinheiro, aqui e lá fora, e contrariando o próprio consenso dos mercados até então, há coisa de suas semanas, Campos Neto lançou no ar a possibilidade, agora confirmada, de uma redução no ritmo de corte da taxa básica de juros na reunião seguinte do Conselho de Política Monetária (Copom), concluída ontem.
O discurso, que já deixava evidente a intenção de impor uma redução de 0,25 pontos percentuais sobre os juros até ali fixados em 10,75% ao ano, causou turbulências e trouxe intranquilidade ao setor financeiro, dividindo o mercado e analistas, além de insuflar a “onda austericida” alimentada pelos “malucos por ajuste fiscal”. Na prática, Campos Neto armou uma arapuca para sabotar a política de queda dos juros e manter a economia em estado de suspensão, minando as possibilidades de uma retomada mais vigorosa da atividade econômica.
A atuação de Campos Neto contraria frontalmente o que se espera de um banqueiro central, responsável em suma pela defesa da moeda, da estabilidade na economia e pelo combate à inflação. Preferencialmente, espera-se que a autoridade monetária tenha uma atuação firme em relação aos mercados, freando manipulações e jogadas especulativas; demonstre bom-senso e ponderação, diante de cenários de adversidades e de acirramento de ânimos; assumindo, enfim, uma visão equilibrada e desapaixonada da conjuntura e de seus desdobramentos à frente, conforme já registrado neste espaço (O Hoje, 17.04.2024).
Racha no Copom
A tática de Campos Neto alcançou seu objetivo principal, qual seja, o de limitar a redução da taxa Selic (os juros básicos) e torpedear o lado real da economia. Conseguiu dividir os membros do Copom na reunião terminada ontem, num racha há tempos não observado. Liderados pelo presidente do BC, cinco diretores votaram a favor do corte de 0,25 pontos, finalmente adotado, e quatro assumiram a defesa da política já antecipada desde o final do ano passado, que previa pelo menos mais dois cortes de meio ponto percentual ao longo deste ano – numa redução bastante modesta diante dos níveis alcançados pela inflação, numa faixa ligeiramente abaixo de 4,0% em 12 meses, o que manterá a taxa real de juros ligeiramente acima de 6,30% ao ano. Ao lado do sabotador Campos Neto, marcharam Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes. A trincheira contrária foi assumida pelos diretores Ailton de Aquino Santos, Gabriel Muricca Galípolo (provável sucessor de Campos Neto ao final de seu mandato, em dezembro próximo), Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira.
Balanço