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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

A memória como resistência na literatura de Conceição Evaristo

Luana Avelarpor Luana Avelar em 21 de junho de 2025
becos da memoria 2

Em Becos da Memória, a escritora mineira Conceição Evaristo propõe uma narrativa construída a partir da memória individual e coletiva como ferramenta de resistência. O livro, publicado originalmente em 2006, tem como base a experiência da autora em uma favela de Belo Horizonte e investiga, por meio da ficção, as marcas deixadas pela exclusão social, o racismo e a desigualdade urbana. A história se desenrola pela voz de uma narradora que recupera fragmentos do passado para reconstruir o presente.

O romance não segue uma estrutura linear. O que guia a leitura são os fios da lembrança que costuram afetos, perdas e afetividades da comunidade retratada. A autora se vale da oralidade como traço essencial de sua escrita, criando uma estética que valoriza as falas populares e as narrativas silenciadas pela história oficial. Essa escolha narrativa contribui para a formação de uma literatura que não apenas representa, mas que também denuncia e reivindica.

A ambientação nas favelas e cortiços evidencia os efeitos da marginalização. No entanto, Evaristo ultrapassa a denúncia ao dar profundidade aos personagens, especialmente às mulheres negras que habitam os becos. Elas são construídas como pilares da sobrevivência coletiva e depositárias da memória social. A escritora apresenta essas figuras com humanidade e complexidade, desafiando estereótipos e criando novos imaginários.

O tempo, nesse romance, funciona como espiral: o passado é constantemente revisitado para iluminar o presente. A memória não aparece como nostalgia, mas como mecanismo de compreensão e enfrentamento. É através dela que a narradora reorganiza suas experiências e reinterpreta sua trajetória, revelando como a construção identitária está ligada às histórias compartilhadas com o grupo.

Com linguagem poética e engajada, Conceição Evaristo reforça, em Becos da Memória, o papel da literatura como ato político. A obra integra o projeto maior da autora de afirmar as vozes negras na literatura brasileira, desafiando a norma e tensionando as fronteiras entre ficção e realidade. Ao fazer da memória um território de disputa, Evaristo reposiciona os becos como espaço de saber e resistência.

A autora

Maria da Conceição Evaristo de Brito é uma linguista e escritora brasileira. Agora aposentada, teve uma prolífica carreira como pesquisadora-docente universitária. É uma das mais influentes literatas do movimento pós-modernista no Brasil, escrevendo nos gêneros da poesia, romance, conto e ensaio.

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